Um dos maiores mitos relacionados à existência das usinas nucleares de Angra dos Reis pertence agora às várias lendas urbanas que cercam o empreendimento. O medo de que a presença da atividade de exploração da energia a partir de componentes radioativos tenha ligação, ou influencie, num possível aumento no número de casos de câncer na cidade caiu por terra após a divulgação de um amplo estudo empreendido pela Fundação Eletronuclear de Assistência Médica (Feam) comparando os casos da doença na cidade com nada menos que outros 46 municípios de três estados brasileiros e confirmando que a presença das usinas não fez nenhuma diferença em relação ao mal. Desde 1986 até 2007, os casos de câncer em Angra são compatíveis com os de outras cidades e, em alguns anos do estudo, foram até menores que cidades como Cabo Frio, por exemplo, cujo perfil é muito parecido com o de Angra.

A diretora-superintendente da Feam, a médica Tereza Leite, está fazendo a entrega das conclusões do estudo denominado ‘Padrão da Mortalidade da População Circunvizinha à Central Nuclear’, a autoridades sanitárias e políticas e fez uma apresentação especial para a Imprensa.

Foi um trabalho árduo, baseado nos dados do próprio sistema público de saúde, através do DataSus e que nos deixa mais tranquilos em relação à presença das usinas nucleares. Não há com o que se preocupar porque a presença das usinas, no que diz respeito ao câncer não faz nenhuma diferença – explicou a médica.

Os pesquisadores de Angra receberam uma consultoria especial da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) que, há alguns anos, já havia feito levantamento semelhante, porém menos abrangente.

O trabalho foi amplo e envolveu cidades num raio de até 100 quilômetros das usinas, alcançando municípios do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. A realização desta pesquisa é também uma das condicionantes relacionadas à construção da usina nuclear Angra 3, cuja conclusão está prevista para 2014. Segundo Tereza Leite, os dados devem servir para reafirmar a segurança das usinas brasileiras e justificar a expansão do programa nuclear brasileiro, já que a questão dos riscos à saúde  está sempre adjacente ao debate sobre a energia atômica.

O estudo agora deverá ser mantido e atualizado, ano a ano, atividade que continuará a cargo do Cira (Centro de Informação sobre Radioepidemiologia), organismo ligado à própria Feam. Segundo sugere Tereza Leite, uma segunda etapa da pesquisa poderia ser um diagnóstico dos tipos mais comuns de câncer registrados na região, o que poderia orientar campanhas de prevenção e tratamentos mais eficazes.

O estudo é importante não só para tranquilizar a população de Angra, mas a do país inteiro – esclareceu a médica.

Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre.

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