A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) deve confirmar nesta sexta-feira, 5, pela manhã, o título de Patrimônio da Humanidade para o sítio misto que envolve a cidade de Paraty e os ecossistemas da Baía da Ilha Grande, em Angra dos Reis. A decisão será anunciada após reunião dos 21 representantes do conselho da Unesco que se encontram na cidade de Baku, no Azerbaijão. A conquista inédita já está sendo comemorada por autoridades e pela própria população. No caso de Paraty, o título virá depois de duas tentativas anteriores que não passaram da fase de projeto.

As duas cidades gerenciam de formas diferentes esta expectativa, na verdade quase confirmada já. Em Paraty, o reconhecimento premiará um esforço de mais de dez anos, desde quando houve a primeira intenção de buscar o reconhecimento. Já em Angra, espera-se que a visibilidade do título ilumine ainda mais uma região que depende cada vez mais do turismo. O Tribuna Livre conversou, no fim de maio, com os secretários das duas cidades que estão ligados ao projeto.

O jornalista João Carlos Rabello (foto), atual secretário de Desenvolvimento de Angra, disse que a proposta de incluir a Ilha Grande no projeto candidatura de Paraty foi ‘levada ao prefeito’ Fernando Jordão (MDB) em 2017, em Brasília, quando já estava em andamento. Antes, outras iniciativas exclusivas de Paraty não tinham tido sucesso. Tanto que a candidatura ganhou mais relevância após incluir as belezas naturais da Ilha Grande.

— O prefeito desconfiou um pouco no começo mas acabou concordando em mobilizar a infraestrutura da prefeitura para apoiar o projeto. Será uma grande conquista para a nossa região — contou João Carlos.

Desde então, a prefeitura de Angra paga um salário a uma pessoa de Paraty para representar a Ilha Grande nas discussões. A secretaria de Meio Ambiente (hoje elevada a instituto municipal) também acompanha as discussões, já que a Ilha Grande tem suas áreas ambientais mais importantes inscritas no pedido: a reserva biológica da Praia do Sul e o Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG).

A secretária de Cultura de Paraty, Cristina Maseda (foto), é quem está mais envolvida diretamente com a proposta desde o início do mandato do ex-prefeito Casé (2013-19). O reconhecimento de Patrimônio da Humanidade é uma das ações que mais recebeu atenção da secretaria desde então, com dezenas de encontros de alinhamento e coordenação. Como fruto destas ações também, em 2017, Paraty ganhou o título de Cidade Criativa pela Gastronomia, também da Unesco.

— Estamos muito confiantes. Todos os passos da nossa candidatura até aqui indicam que nós teremos o reconhecimento, o que vai significar para nós, não apenas um título, mas uma série de compromissos para os próximos 10 anos, no mínimo — adianta Cristina.

A secretária lembra que a inclusão de parte da Ilha Grande na proposta visava premiar um lugar único do mundo, que ela chama de ‘anfiteatro’, composto pela cidade de Paraty e sua gente e a natureza exuberante das Baías de Paraty e Ilha Grande, ambas protegidas pelo cenário majestoso que é a ilha.

— Para a natureza não existe o limite dos municípios. O peixe não sabe quando termina Angra e começa Paraty. O reconhecimento, portanto, é para uma região única no mundo. E com um diferencial que é a nossa gente. Este será um sítio de patrimônio da Humanidade habitado e vivo — revela Cristina, lembrando que há 38 sítios mistos no mundo na lista de patrimônio, mas que no Brasil este será o primeiro.

Entre os ‘compromissos’ citados pela secretária, obviamente está a manutenção das atuais condições naturais da região. A preservação ambiental e os planos de manejo de ambas as áreas hão de tornar-se ainda mais importantes e talvez rígidos, condição que, pelo menos neste momento, contrasta com a expectativa de Angra dos Reis. O secretário João Carlos espera que o título de Patrimônio da Humanidade ajude a flexibilizar as atuais leis de ocupação ambiental na Baía da Ilha Grande, permitindo um avanço para os projetos de turismo na região, inclusive com apoio do governo federal, que defendeu e foi entusiasta da candidatura das duas cidades. Estão previstos investimentos em sinalização e ações de preservação do ambiente, embora para Angra, algo tenha que ser flexibilizado na legislação.

— Alguma coisa tem que ser mantida, mas o que a prefeitura defende é um ‘meio termo’. A legislação tem que ser unificada e algumas áreas descongeladas para se ter a chance de explorar melhor algumas regiões específicas da Baía — defende João Carlos.

Ex-prefeito Casé — A idéia de Angra combina com os interesses do presidente Jair Bolsonaro (PSL), de fazer de Angra dos Reis uma nova Cancún, região do México que vive do turismo o ano inteiro. Paraty preparou sua entrada no seleto grupo das regiões com Patrimônio da Humanidade com um material especial e um kit em três idiomas com vídeo, artesanato e um caderno ilustrado. Angra optou por não preparar nada específico para a ocasião por considerar que a reunião é apenas ‘homologatória’ da decisão.

No início de maio, a candidatura regional já havia recebido parecer favorável das comissões que analisam a proposta, o que lhe dá grandes chances de ser vencedora. O ex-prefeito Casé chegou a comemorar antecipadamente a conquista nas redes sociais.

— Você paratiense que sonhou com isso, pode comemorar — garantiu Casé na ocasião, ao que parece agora, bem certo do que estava dizendo.

Reportagem: Klauber Valente (da Redação)

Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre (Edição 251).

GOSTOU DESTE TEXTO?

Assine o jornal Tribuna Livre e receba a edição impressa. Clique aqui.

Deixe seu comentário

Escreva seu comentário!
Nome