A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) deve confirmar nesta sexta-feira, 5, pela manhã, o título de Patrimônio da Humanidade para o sítio misto que envolve a cidade de Paraty e os ecossistemas da Baía da Ilha Grande, em Angra dos Reis. A decisão será anunciada após reunião dos 21 representantes do conselho da Unesco que se encontram na cidade de Baku, no Azerbaijão. A conquista inédita já está sendo comemorada por autoridades e pela própria população. No caso de Paraty, o título virá depois de duas tentativas anteriores que não passaram da fase de projeto.
As duas cidades gerenciam de formas diferentes esta expectativa, na verdade quase confirmada já. Em Paraty, o reconhecimento premiará um esforço de mais de dez anos, desde quando houve a primeira intenção de buscar o reconhecimento. Já em Angra, espera-se que a visibilidade do título ilumine ainda mais uma região que depende cada vez mais do turismo. O Tribuna Livre conversou, no fim de maio, com os secretários das duas cidades que estão ligados ao projeto.
— O prefeito desconfiou um pouco no começo mas acabou concordando em mobilizar a infraestrutura da prefeitura para apoiar o projeto. Será uma grande conquista para a nossa região — contou João Carlos.
Desde então, a prefeitura de Angra paga um salário a uma pessoa de Paraty para representar a Ilha Grande nas discussões. A secretaria de Meio Ambiente (hoje elevada a instituto municipal) também acompanha as discussões, já que a Ilha Grande tem suas áreas ambientais mais importantes inscritas no pedido: a reserva biológica da Praia do Sul e o Parque Estadual da Ilha Grande (PEIG).
— Estamos muito confiantes. Todos os passos da nossa candidatura até aqui indicam que nós teremos o reconhecimento, o que vai significar para nós, não apenas um título, mas uma série de compromissos para os próximos 10 anos, no mínimo — adianta Cristina.
A secretária lembra que a inclusão de parte da Ilha Grande na proposta visava premiar um lugar único do mundo, que ela chama de ‘anfiteatro’, composto pela cidade de Paraty e sua gente e a natureza exuberante das Baías de Paraty e Ilha Grande, ambas protegidas pelo cenário majestoso que é a ilha.
— Para a natureza não existe o limite dos municípios. O peixe não sabe quando termina Angra e começa Paraty. O reconhecimento, portanto, é para uma região única no mundo. E com um diferencial que é a nossa gente. Este será um sítio de patrimônio da Humanidade habitado e vivo — revela Cristina, lembrando que há 38 sítios mistos no mundo na lista de patrimônio, mas que no Brasil este será o primeiro.
Entre os ‘compromissos’ citados pela secretária, obviamente está a manutenção das atuais condições naturais da região. A preservação ambiental e os planos de manejo de ambas as áreas hão de tornar-se ainda mais importantes e talvez rígidos, condição que, pelo menos neste momento, contrasta com a expectativa de Angra dos Reis. O secretário João Carlos espera que o título de Patrimônio da Humanidade ajude a flexibilizar as atuais leis de ocupação ambiental na Baía da Ilha Grande, permitindo um avanço para os projetos de turismo na região, inclusive com apoio do governo federal, que defendeu e foi entusiasta da candidatura das duas cidades. Estão previstos investimentos em sinalização e ações de preservação do ambiente, embora para Angra, algo tenha que ser flexibilizado na legislação.
— Alguma coisa tem que ser mantida, mas o que a prefeitura defende é um ‘meio termo’. A legislação tem que ser unificada e algumas áreas descongeladas para se ter a chance de explorar melhor algumas regiões específicas da Baía — defende João Carlos.
Ex-prefeito Casé — A idéia de Angra combina com os interesses do presidente Jair Bolsonaro (PSL), de fazer de Angra dos Reis uma nova Cancún, região do México que vive do turismo o ano inteiro. Paraty preparou sua entrada no seleto grupo das regiões com Patrimônio da Humanidade com um material especial e um kit em três idiomas com vídeo, artesanato e um caderno ilustrado. Angra optou por não preparar nada específico para a ocasião por considerar que a reunião é apenas ‘homologatória’ da decisão.
No início de maio, a candidatura regional já havia recebido parecer favorável das comissões que analisam a proposta, o que lhe dá grandes chances de ser vencedora. O ex-prefeito Casé chegou a comemorar antecipadamente a conquista nas redes sociais.
— Você paratiense que sonhou com isso, pode comemorar — garantiu Casé na ocasião, ao que parece agora, bem certo do que estava dizendo.
Reportagem: Klauber Valente (da Redação)
Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre (Edição 251).
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