Angra dos Reis abriga duas usinas nucleares em funcionamento | Foto: Divulgação

Na esteira da crise que foi causada pelas chuvas na região da Costa Verde, uma disputa política e institucional atingiu em cheio as usinas nucleares de Angra. No domingo, 3, pela manhã, em diversas aparições na imprensa nacional, o prefeito angrense, Fernando Jordão (PL), fez a defesa enfática do desligamento das unidades. Com a rodovia comprometida naquele momento e os acessos ao Rio de Janeiro e até ao Vale do Paraíba fechados, o desligamento pareceu a única opção.

— Não existe plano de emergência sem estradas. Eu disse isso inclusive ao presidente Bolsonaro. Com as estradas fechadas por causa das chuvas, estamos ilhados — desesperou-se o prefeito.

A afirmação de Fernando teve, de fato, ampla repercussão positiva nas redes sociais. Parte da população concorda com a narrativa de que a existência das usinas é um risco para toda a população, agravado pela impossibilidade momentânea de deslocamento. Durou um dia pelo menos, a provocação do prefeito, até que a comunicação da Eletronuclear – gestora da produção de energia nas usinas – entrasse em campo para ‘colocar a briga’ no lugar certo.

Leonam e o prefeito Fernando Jordão | Foto: Arquivo/2019

Em entrevista à rádio Costazul FM na terça-feira, 5, o presidente da empresa que cuida das usinas, Leonam do Santos, sepultou a ideia e foi além: disse que o pedido derivava da ignorância das autoridades, sem menção direta ao prefeito, por gentileza.

Leonam afirmou que há muita ‘desinformação’ a respeito do plano de emergência e explicou que os procedimentos previstos e testados regularmente preveem deslocamento de pessoas ‘apenas’ no raio de 3km a 5 km da central nuclear de Itaorna. Trechos que não foram afetados por deslizamentos.

Dito isso, negou que houvesse necessidade de desligamento das usinas, o que segundo ele ‘traria mais prejuízos ainda à região’. E atribuiu o pedido de Fernando Jordão a um momento de ‘comoção e emoção’ apenas.

— Os critérios técnicos para um eventual desligamento das usinas não foram registrados. Não existe previsão de evacuação de uma cidade inteira ou de enorme contingente de pessoas, pois não há previsão de acidente desta natureza — explicou.

Nem o prefeito nem sua assessoria contraditaram o dirigente da empresa depois disso e o pedido de Fernando Jordão confirmou-se como o que era desde o início: uma ‘bravata’ para despistar a fragilidade momentânea da cidade no cuidar da crise.

Além da Eletronuclear, a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e até o Gabinete de Segurança da Presidência da República (ligado diretamente ao presidente Bolsonaro, portanto), ambos envolvidos na segurança do país, também emitiram informes destacando a inexistência de fato que justificasse a saída das usinas do Operador Nacional do Sistema (ONS) e a consequente suspensão no fornecimento de energia no período, apesar dos incidentes em Angra. E vida que segue…

Fotos: Divulgação/Eletronuclear

Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre (nº 343)

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