Começa hoje mais uma edição da feira evangélica Angra Gospel, com presença confirmada de pastores, autoridades e, claro, políticos. A propósito, o colunista do jornal Tribuna Livre, Vando Barboza, escreveu o seguinte artigo. Vale a pena ler:

Algodão doce gospel
 
Já escrevi algumas vezes sobre a festa “evangélica” que se aproxima, a Expo Algodão Doce Gospel. “Pesado já de início”, diriam alguns.
 
Aqueles que me têm lido sabem o que penso dessa religiosidade água com açúcar – e com muito volume – que é um extrato fiel da auto-ajuda presente nos templos, batida no liquidificador com muito engano, moralismo e muitos versículos bíblicos para justificar o medo, a angústia e a guerra. São “missionários de um mundo pagão proliferando ódio [em nome do amor] e destruição” [em nome da verdade].
 
Ora, não falo da questão administrativa da festa – que envolve entidades esquisitas, por exemplo – por ser óbvio demais. Isso deveria ser com o Poder Público e não merece uma linha, pois retrataria, além do óbvio, uma suposta coragem, na verdade apenas uma inverdade medrosa de não falar do que é.
 
Nem falo da junção entre religião e Estado, num claro ferimento à Constituição onde o dinheiro público é posto para dizer: “Jesus é o maior” trazendo à morte o pilar de separação entre Igreja e Estado que, no Brasil, convenhamos, nunca existiu.
 
Não falo da questão política: é óbvio também. Há muitos interesses envolvidos: votos, cargos e barganhas que fariam corar alguém que coloca o nome de uma pessoa “na boca de um sapo”. Com vergonha também ficariam os que abrem suas pernas nas madrugadas para ganhar dinheiro.

Entenda: o que falo é do que seja Evangelho. Nesse caso do que não é. Essa é a questão. Aliás, essa é a única questão. Esse texto trata disso porque tal coisa é possível simplesmente a partir do que não é evangelho, posto que é apenas show e bussines  – sim, há apenas show e bussines, assim não se engane com os choros, os gritos de “aleluia” e outros mantras próprios de quem precisa afirmar-se diante do maior país católico do mundo.
 
“Deixe-os”, diriam alguns meninos românticos, “afinal falam de Deus, de amor, de paz, de salvação, de cura, de Jesus”. Resumindo muito, o que digo é: sim falam, mas falam de um Deus sem graça, de um amor justiceiro, de uma paz neurótica, de uma salvação parcial, exclusivista e dependente do homem em tudo, de uma cura vendida e de um Jesus pop star, maioral, bancário – no sentido puramente financeiro da palavra – e moralista. Calar-se com isso é compactuar em covardia e insensatez com esse dês-evangelho crido por milhares aqui em Angra e no Brasil.
 
Resumindo ainda: Quem, a fim de ter um filho, entregaria sua esposa às mãos de alguém que a estuprasse para atingir sua meta? Afinal o que temos é isso: um estupro emocional coletivo em nome de Jesus (para a maioria, falou a palavra “Jesus” é como se legitimasse as maiores tagarelices, loucuras, burrices ou então simplesmente muita malandragem mesmo), com muita adrenalina, muito pulo, muito discurso e nada de pacificação na caminhada. Entenda: é que os cristãos deveriam ser os seres mais pacificados da Terra. Mas nem de longe essa é realidade.
 
Enfim: esse é o que grito aqui desse telhado pois não tenho barganhas a fazer com ninguém pois o que devo a todos é o que o Evangelho ensina bem como demonstrar o que não é Evangelho – principalmente se essa coisa vierem nome do próprio Evangelho.
 
Ouça quem tiver ouvidos para ouvir. Quem não tiver, que a Vida ensine.

No Caminho onde a vida nos chama à Vida.
 
Vando Barboza

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