Obra em Angra 3 foi paralisada pela última vez em 2015 | Foto: Agência Brasil

A conclusão da obra da usina Angra 3 subiu no telhado. Pelo menos a julgar por reportagens publicadas na imprensa nacional e em sites especializados em energia e infraestrutura. Segundo essas publicações, o fim das obras iniciadas na década de 80, esbarra neste momento no alto valor necessário para o término (cerca de R$ 20 bilhões), além do custo final da energia a ser gerada pela unidade. A notícia da exclusão de Angra 3 do novo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) foi publicada na ‘Folha de São Paulo’ na quarta-feira, 3, e agora mobiliza autoridades e técnicos do setor em Brasília e no Rio.

Angra 3 é o principal projeto da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar), estatal criada na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (2018-22) para gestão da Eletronuclear e da usina Itaipu após a privatização da Eletrobras. O fim da obra depende de um financiamento que está sendo modelado pelo BNDES. São pelo menos R$ 20 bilhões para obras civis, montagem mecânica e equipamentos. 65% da obra da usina já está concluído, o que é o principal argumento para a defesa de seu término.

Porém uma preocupação levantada por autoridades do setor elétrico e o próprio ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, é que o custo da energia a ser produzida pela futura usina seria alto demais nos primeiros anos de produção, o que impactaria as contas de todos os consumidores brasileiros. O valor seria duas vezes mais caro que o pago pela energia gerada em hidrelétricas e usinas de origem solar ou eólica.

O peso da energia nuclear na matriz energética brasileira também impacta o raciocínio, já que quase três vezes mais energia é gerada hoje por fonte eólica, em comparação com a de origem nuclear, que responde a apenas 2,5% da energia produzida no país. Sem dúvida um fator que interfere na decisão.

Matriz energética brasileira | Fonte: BEN/2019

Os prejuízos de uma eventual interrupção das obras de Angra 3 vão além dos custos de não conclusão, que podem chegar a R$ 13,9 bilhões em equipamentos e materiais já comprados; envolvem também a desmobilização de mais de 5 mil trabalhadores em potencial, a serem desligados ou sequer contratados para a fase de obra civil. Haveria também, por certo, redução no pagamento das contrapartidas pela construção da usina aos municípios da região, especialmente Angra.

Dois ministros do governo Lula ouvidos nos últimos meses sobre a obra não deram pistas da decisão final do presidente. Alexandre Silveira disse em maio que o assunto deveria ser tratado com ‘cuidado’ e que deveria ser encontrada solução para os custos da energia; Esther Dweck, da Gestão, ao recompor o caixa da ENBPar em R$ 1,3 bilhão para avançar com as obras da usina, também em maio, afirmou que seria necessário ‘retirar’ a empresa do teto de gastos para que outros investimentos pudessem ser viáveis.

O novo PAC do governo federal deve ser lançado no dia 11 de agosto (sexta-feira) em evento no Rio de Janeiro. Até lá defensores da usina e adversários da ampliação dos investimentos em energia nuclear no país, vão se digladiar em argumentos.

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