De alguns anos para cá, os grandes festivais musicais descobriram o Brasil, assim como os brasileiros caíram de amores por eventos do tipo. Depois de iniciativas pioneiras como a do Hollywood Rock (1975) e do Rock In Rio (1985), a movimentação em torno dos megaeventos de música não parou mais, desembocando em franquias brasileiras de grandes festivais, como a do Lollapalooza, e até mesmo em novas – e menores – propostas, como é o caso do Mera Festival de Inverno, realizado nos dias 21 e 22 de junho, no Porto Frade, em Angra dos Reis.

Com uma programação voltada a nomes nacionais e internacionais, baseada principalmente em MPB, Pop/Rock e Blues, o Mera, apesar de ter pouco tempo de vida, estreou com uma estrutura que não deixou nada a desejar. Em dois palcos com som e luz impecáveis, agendou artistas novos e experientes no line-up, oferecendo ainda uma praça de alimentação de respeito e uma área voltada às crianças, fazendo a alegria dos papais e mamães que puderam dançar e curtir suas músicas prediletas com tranquilidade e segurança.

Com ingressos que variavam de R$ 200 – pista para condôminos do Porto Frade – a R$ 1.000 – passaporte vip para os dois dias –, e uma divulgação voltada para fora da cidade, o Mera já tem uma nova edição marcada, nos dias 12 e 13 de junho de 2020, mostrando que, mesmo com uma adesão ainda tímida do público, os organizadores do evento apostam na consolidação do festival.

 

Primeiro dia: guitarras e homenagens em alta

 

Os portões do Mera Festival foram abertos às 14h, com a entrada do evento contando com um serviço de transfer efetuado por vans, que levavam os espectadores até o local dos shows. Quem deu início às atividades musicais foi a Orleans Street Jazz Band, que tocou bem perto do público presente, executando clássicos do Jazz e versões para outros ritmos. Logo após, no palco principal, Tia Carroll foi a primeira atração internacional do Mera. A cantora e compositora norte-americana honrou o título de Diva do Blues e, acompanhada do músico Igor Prado e da banda Just Groove, apresentou canções de seu último disco, “Survivor”, além de outros números que fizeram a alegria dos poucos presentes até o momento.

Lenda do Blues nacional, o grupo Blues Etílicos subiu ao palco em seguida, para uma apresentação que homenageou as músicas do guitarrista britânico Eric Clapton, entre outras canções defendidas com maestria pela banda. Em seguida, a surpresa da noite ficou por conta da escalação do trio Cecel Alves & The Blindknots, de Angra dos Reis. Tocando no palco menor, o grupo descarregou clássicos do Blues e do Rock com competência e feeling, fazendo com que sua presença no line-up do Mera fosse 100% justificada – eles ainda voltariam para outro set, antes da apresentação final do primeiro dia do festival.

Lenine se fez presente às 19h30. Integrando um grupo afiado, ele colocou o público para pular, numa energia mais afeita ao Rock do que à música brasileira. Guitarras distorcidas se juntaram à MPB perfeitamente. Já o show principal, de Nando Reis, também não decepcionou. Com uma banda enxuta, Nando, que divulga seu disco com releituras de Roberto Carlos, apresentou seu Folk/Pop para uma plateia feliz. “Como vai você”, de Roberto, e “Do seu lado”, gravada pelo Jota Quest, foram os grandes momentos da apresentação.

 

Segundo dia: beleza e clássicos no palco

 

No sábado, 22 de junho, segundo e último dia da primeira edição do Mera, a direção do festival seguiu à risca o que estava planejado, mostrando que o evento organizado pela promoter Carol Sampaio (CS) e pelos empresários João Paulo Affonseca (PEEB) – Natura Nós, Planeta Terra, Tim Festival e Live Earth – e Mac Chris – Maquinária e SWU Festival – tem de tudo para se transformar num grande nome da área.

Mais uma vez, os buskers da Orleans Street Jazz Band fizeram a abertura do evento, disparando metais, percussões e cordas bem perto do público. Em seguida, a cantora Alma Thomas e o guitarrista Victor Biglione, acompanhados de uma banda potente, prestaram tributo à cantora norte-americana Etta James, num espetáculo de beleza ímpar. Outro ponto forte da noite foi a apresentação do projeto Blues Beatles, que levou o fino do repertório dos quatro rapazes de Liverpool ao Mera, via sonoridade blueseira. Conquistaram o público ainda pequeno que se encontrava no local.

Antes de o primeiro show do palco principal começar, a banda Lost Wins efetuou uma apresentação de rock de garagem no espaço secundário do Mera, onde se destacaram as versões para músicas do The Doors e do grupo grunge Stone Temple Pilots. Com visual e iluminação conceituais, Vanessa da Mata e sua banda deram início ao show às 19h30, fazendo a melhor apresentação do evento. Misturando músicas do disco “Quando Deixamos Nossos Beijos na Esquina”, lançado em maio deste ano, com canções já conhecidas e versões lindas, como a de “Céu azul”, da banda Charlie Brown Jr., Vanessa soube emocionar e fazer dançar na medida certa, impressionando muitos que ainda não conheciam o poderio de sua voz ao vivo.

O show que fechou o Mera 2019 foi o da banda Titãs, um dos grandes nomes do Rock Brasil de todos os tempos. Com apenas três integrantes da formação original, a banda, atualmente um quinteto, fez um show sem riscos, com o que eles sabiam fazer de melhor: rock simples e direto, sem firulas. Conquistou a plateia, que cantou a plenos pulmões durante toda a apresentação.

Apesar de contar com um público reduzido – a expectativa de três mil pessoas por dia chegou a pouco mais da metade do esperado –, o Mera Festival de Inverno ofereceu um evento de alto nível, tanto em organização quanto em programação, a uma cidade que se encontra carente de iniciativas que fujam do padrão imposto pela grande mídia. Com o preço do ingresso sendo oferecido por um valor um pouco mais em conta e a divulgação sendo efetuada de forma mais abrangente, tem de tudo para capturar a atenção de bons públicos, sejam eles de Angra, da Costa Verde ou de todo o Brasil.

 

 

 

Fotos: reprodução

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