A possibilidade de reativar o trecho de 105 km de ferrovia entre as cidades de Barra Mansa e Angra dos Reis voltou a ser discutido de forma séria na semana passada num encontro entre a atual operadora do porto de Angra dos Reis, a Splenda Port, as prefeituras que são cortadas pela estrada e a secretaria de Estado de Transportes do Rio de Janeiro. Na visão dos empresários, a recuperação pode beneficiar diretamente a exportação do polo de agronegócio do Sul de Minas Gerais, um dos maiores do país, responsável pela exportação de 30% do café brasileiro, além de soja, milho e outras commodities.
Atualmente o Porto Seco Sul de Minas, em Varginha (MG), movimenta cerca de 200 mil contêineres por ano em cargas de importação e exportação por transporte rodoviário a um custo unitário médio de R$ 3,4 mil. Com a ferrovia até Angra, o valor do transporte seria inferior a R$ 2 mil por contêiner ou equivalente de carga, o que geraria uma economia significativa para os produtores do Sul de Minas. Além da redução do custo logístico, a reativação do trecho ferroviário entre Barra Mansa e Angra contribuiria para a redução das emissões de CO2 e a mobilidade, além de ajudar a desafogar outros portos do Sudeste, como o de Santos. A estimativa é que sejam eliminadas cerca de 50 mil viagens de caminhão por ano.
A recuperação da ferrovia, porém, não é tarefa simples. Há cinco anos, estaria estimada em mais de R$ 20 milhões de investimentos. O valor hoje pode ser mais que o dobro. Desde 2010, após as chuvas fortes que atingiram a cidade, boa parte da ferrovia foi danificada. O estado da linha propriamente dita também é precário. Em trechos dos municípios de Angra, Rio Claro e Barra Mansa, a ferrovia nem existe mais e as linhas foram soterradas ou pavimentadas com asfalto.
Na avaliação dos empresários, o número de contêineres que passa por Varginha também poderia dobrar com a reativação da linha, melhorando a logística de importação de outras cargas para o Triângulo Mineiro e até Goiás, como adubos, fertilizantes, equipamentos e máquinas agrícolas, via Porto de Angra. O TPAR tem condições de movimentar cerca de 40 mil contêineres por ano inicialmente, mas podendo alcançar até 100 mil.
— A ferrovia até Angra dos Reis é de interesse econômico e social para as regiões Sul dos estados do Rio e de Minas. Trata-se de um projeto estruturante que gerará empregos a curto, médio e longo prazos, além de recursos para os municípios da região. Além de atender ao agronegócio, o trecho Barra Mansa-Angra também teria horários para passeios turísticos — acredita Leandro Cariello, sócio do grupo Splenda Port.
Atualmente a ferrovia é administrada pela empresa VLI. Ela já teria assumido o compromisso de restabelecer o trecho ferroviário entre Varginha e Barra Mansa, mas sem a reativação do trajeto até Angra a carga que chega ao município do Vale do Paraíba precisará ser transportada pela Via Dutra ou trocada para vagões de outras ferrovias, aumentando o custo logístico.
A retomada da operação da ferrovia está sendo debatida por causa de uma Medida Provisória editada no último dia 30 instituindo o novo marco legal do transporte ferroviário e facilitando a devolução de concessões com a conclusão de trechos como o que ocorre na linha entre Barra Mansa e Angra.
— A MP cria uma autorização ferroviária, que simplifica a exploração de trechos curtos (short-lines) pela iniciativa privada. Se não for interesse da VLI operar, podemos ser o operador do trecho entre Barra Mansa e Angra. Inclusive já manifestamos nosso interesse junto à Agência Nacional de Transportes (ANTT) — diz Paulo Narcélio, CEO do Terminal Portuário de Angra e sócio do Splenda Port.
Fotos: Fotos de arquivo / Divulgação
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