A decisão da prefeitura de Paraty de aplicar recursos do orçamento municipal na recuperação do trecho urbano da via estadual Paraty-Cunha (RJ-156) virou uma disputa política entre o prefeito Casé Miranda (MDB) — que defende a obra — e os seus adversários, entre eles o vereador Portinho (PTB).

A polêmica começou quando Portinho apresentou requerimentos de informação à Câmara Municipal e ao Governo do Estado do Rio de Janeiro pedindo cópias de eventual convênio entre a prefeitura e o Departamento de Estradas de Rodagem do Estado (DER/RJ), que é o responsável pela manutenção da rodovia.

Prevendo que talvez o vereador pudesse solicitar o embargo da obra, Casé determinou a suspensão do recapeamento até uma manifestação do DER/RJ que dê segurança ao município para o investimento. O prefeito lembrou que antes, em relação a uma obra de recuperação de vias na Patitiba, o mesmo vereador fez questionamentos ao Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan).

Nesse ínterim, Casé (foto) e Portinho trocaram farpas em vídeos nas redes sociais. Agora a prefeitura informou que enviou à direção do Departamento de Estradas uma cópia da lei aprovada pela Câmara (com o voto favorável de Portinho), autorizando o município a fazer a recuperação do trecho urbano da rodovia Paraty-Cunha.

Com o documento, a prefeitura espera acabar com os questionamentos e defende a obra, que vai beneficiar mais de 8 mil moradores de 11 bairros da cidade, cortados pela via estadual.

— Será que o vereador tem alguma coisa contra aquela população que mora ao longo da Paraty-Cunha? Será que o seu interesse é prejudicar essas pessoas só para fazer a disputa política? — questionou o prefeito em vídeo já visto por milhares de pessoas.

Disputa — Além do vereador, Casé também citou como adversário do investimento o agora ex-vereador Zé Pital. Portinho exibiu, em vídeo, cópia de resposta encaminhada pelo DER a um questionamento feito por ele em relação à decisão da prefeitura de recuperar o trecho urbano da rodovia. Já o ex-vereador postou mensagens alegando que a obra deveria ser de responsabilidade do governo do Estado, como de fato é.

A prefeitura de Paraty informou, no entanto, que decidiu recuperar o trecho urbano porque o Estado enfrenta dificuldades financeiras e não tem recursos para fazer a manutenção da estrada, colocando em risco a segurança de moradores e turistas que visitam Paraty.

— A população não quer saber se o buraco na estrada é municipal ou estadual. A prefeitura, felizmente, tem condições de ajudar a acredita que o bem-estar da população vem em primeiro lugar — afirma Casé.

Benefícios — Além do novo asfalto, a recuperação do trecho prevê alargamento da pista, construção de ciclovia até a Ponte Branca e melhorias nos acessos ao Pantanal, Condado, Princesa Izabel e Parque Verde. Será feita a limpeza das margens e instalação de galerias para o escoamento das águas pluviais.

As obras foram iniciadas em 7 de agosto e interrompidas na semana seguinte. A prefeitura promete retomar a obra assim que estiver descartado o risco de novos questionamentos e de uma solicitação de embargo à obra por parte da oposição. Os moradores a serem beneficiados aguardam com expectativa a retomada da recuperação da estrada.

O presidente da associação dos moradores da Ponte Branca, Lucas Cordeiro, lamentou a guerra política a respeito de uma obra que já é muito aguardada pela comunidade.

— Não podemos esperar a boa vontade do Estado, que está falido. A população já estava comemorando a decisão da prefeitura de assumir a obra, quando veio a notícia dos questionamentos feitos ao governo do Estado. Vamos torcer que resolva logo —disse o líder comunitário.

Vereador Portinho nega ter pedido a paralisação das obras na Paraty-Cunha

O vereador Antônio Porto Filho (PTB), o ‘Portinho’, negou ao Tribuna Livre que tenha feito ao Departamento de Estradas de Rodagens (DER/RJ), qualquer comunicação que levasse à interrupção das obras de recuperação do trecho urbano da rodovia Paraty-Cunha (RJ-165). Ele procurou o jornal após a publicação de reportagem sobre o tem e disse que a decisão de suspender a execução da obra deve-se apenas ao prefeito Casé (MDB). Há pelo menos duas semanas, Casé e Portinho trocam farpas nas redes sociais por causa deste investimento.

— O que eu fiz foi apenas, como vereador, pedir informações ao DER/RJ sobre a obra. Assim que o Departamento me respondeu eu até retirei os requerimentos que estavam na Câmara. Todos nós queremos melhoria no local — afirmou Portinho em entrevista concedida em seu gabinete na Câmara Municipal.

Pela cronologia apresentada pelo vereador, no dia 16 de agosto a prefeitura decidiu paralisar o recapeamento mas só no dia 20 Portinho procurou o DER/RJ pedindo informações sobre o valor da obra.

— Quando o DER me respondeu dizendo que a obra está licitada e que não começou por falta de licença ambiental, eu não fui adiante com meus requerimentos de informação. Não tenho nada a ver com a paralisação da obra — defendeu-se ele.

A prefeitura de Paraty explicou que paralisou o avanço da recuperação por temer que a ação política do vereador levasse a um embargo total da construção, o que acabou não acontecendo. Dias depois do início da polêmica, a própria Câmara Municipal de Paraty aprovou uma autorização para que Casé possa investir dinheiro do município na estrada, que é de responsabilidade do governo do Estado. A autorização contou com o voto de Portinho, um dos três vereadores que fazem oposição ao prefeito na Casa.

— Eu votei a favor e agora o prefeito já não tem mais nenhum impedimento para seguir com a recuperação. O que a população espera é que o serviço continue e seja terminado, independente de quem esteja fazendo — explica Portinho.

Patitiba — Na conversa com o Tribuna Livre, o vereador petebista também negou que tenha sido o causador da paralisação de outra obra, a pavimentação na Patitiba. Esta ação da prefeitura foi paralisada pelo Instituto do Patrimônio Histórico (Iphan) há quase um ano. A prefeitura afirma que aguarda autorização do próprio Instituto para concluir os serviços.

Fotos: Reprodução / Klauber Valente

Publicado antes nas edições impressas do Tribuna Livre (Edições 223 / 224).

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