Celebrado em todo o país na quarta-feira, 20, o Dia Nacional da Consciência Negra terá um significado ainda mais especial para o Rio de Janeiro, já que, no Diário oficial do Estado, a Lei 8623/2019, dos deputados André Ceciliano e Waldeck Carneiro, ambos do PT, inscreve o nome do marinheiro negro João Cândido Felisberto no Livro dos Heróis e Heroínas estaduais.

O “Almirante Negro” foi líder da chamada “Revolta da Chibata” na historiografia brasileira, no início do século XX. O Livro dos Heróis do Estado do Rio de Janeiro se destina à inscrição de pessoas ilustres, mortas há mais de 50 anos, que tenham por seus atos contribuído à defesa, ao progresso ou ao desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro, do Brasil ou da Humanidade. O Livro fica na ALERJ, aberto à visitação.

– Foi um dos movimentos mais libertários e sombrios pela postura do governo à época. A memória da Revolta da Chibata esteve presente numa série de manifestações culturais do início do século XX, revelando uma necessidade social de relembrar e de entender os acontecimentos, apesar do constrangimento que podia ocasionar – lembra o deputado Waldeck.

Durante a Revolta da Chibata houve o uso da violência, por parte do Estado, para punir os revoltosos de uma rebelião que mostrava as contradições da então jovem República brasileira por meio de uma tentativa de expressão dos marinheiros subalternos. Foi um “acontecimento” no sentido histórico do termo, capaz de marcar o tempo entre o antes e o depois, revelar mecanismos sociais aparentemente pouco visíveis e tornar-se lembrado e “celebrado” posteriormente de diferentes maneiras. A construção de João Cândido pela memória nacional demonstra a existência de várias camadas de formas de apropriação de um acontecimento.

A importância de João Cândido é permeada por tantas contradições e polêmicas que, em maio de 2010, quando o então presidente Luís Inácio Lula da Silva celebrou o lançamento, em Pernambuco, do petroleiro João Cândido, o navio da Petrobras foi aplaudido como símbolo de orgulho nacional, mas recebido a contragosto pela Marinha de Guerra.

A recuperação da figura histórica de João Cândido tem muita importância na atualidade, como para os movimentos sociais e movimentos negros, assim como a criação de marcos de memória. Ele continua sendo a figura mais lembrada da Revolta da Chibata, ao passo que sua história de vida também revela diferentes combates.

Foto: divulgação / Arquivo Nacional

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