Invocando minha porção jornalista desapaixonado, escrevo, mesmo sob risco de críticas, sobre a atual escassez de água em Angra, tema que tem provocado revolta, manipulação política e, sobretudo, discussões escaldantes. A pergunta obvia a ser respondida é: por que está faltando água para os consumidores na cidade?

A resposta não é tão simples. Para mim, os motivos são três: estiagem, investimento baixo e desperdício. Aos argumentos:

a) Estiagem
O primeiro culpado, claro, é a falta de chuvas. O regime pluviométrico da cidade está mudando desde 2010, alternando anos com muita chuva e outros sem nenhuma. Nos dois últimos anos pares (2012/14) houve estiagem forte e 2015 começa com a mesma previsão. Não há chuvas fortes a caminho.

Ato contínuo, não há sistema de distribuição, por melhor que seja, que funcione sem água. Cantareira, em São Paulo, é um dos maiores do mundo e, sem água, está obrigando a população paulista e paulistana a regimes forçados de racionamento. É bom acostumarmo-nos porque a natureza está incerta e aplicada na cobrança dos anos de devastação.

b) Ausência de investimentos
Angra dos Reis tem uma das maiores taxas de crescimento demográfico do Estado do Rio. No interior, deve ser a maior. A cidade cresceu sem controle ou planejamento nos últimos 20 anos e, de outra ponta, pouco ou nada investiu-se para aumentar as captações e a reservação de água. O último grande reservatório de água na cidade foi construído no governo Luiz Sérgio (1993/96). E essa constatação é apartidária, pois tanto Estado (via Cedae), como o município (com seu Saae) tiveram, nos últimos 15 anos pelo menos, qualquer iniciativa de grande impacto para enfrentar esta questão. E ainda convivem dois sistemas de abastecimento (Cedae e Saae) que, em algumas localidades, rivalizam na distribuição da água.

Uma única ideia, de transposição de águas da bacia do rio Bracuí para o Centro da cidade, frequenta os escaninhos do planejamento há quase 10 anos mas, por ser economicamente inviável para uma autarquia que tem mais de 60% de inadimplência, depende de financiamento externo. Sem investimento e com aumento da população, temos mais gente e menos água.

c) Cultura do desperdício
Criada na cultura de que Angra dos Reis seria o ‘penico de São Pedro’, a população desperdiça. E muito. Além disso, por esperteza, muitos consumidores fragilizam a rede de distribuição. São comuns os relatos de vandalismo, bombas instaladas na rede e até mesmo depredação dos sistemas.

A cobrança pela água não funcionou ainda, pela falta de sanções como o corte no abastecimento de inadimplentes. Mais da metade dos moradores não têm hidrômetro e sequer pagam pela água consumida, outro item que reforça a cultura do desperdício. Não há cidade do porte de Angra dos Reis que conviva com tamanha diferença entre investimento e arrecadação.

Por fim, as soluções.

A cidade precisa debater seu sistema de saneamento, incluindo água e esgoto. A construção do Plano Municipal de Saneamento está aberta e franqueada a toda a população. As soluções estão todas diagnosticadas e, em alguns casos, calculadas ali. São quase todas de médio e longo prazos. Por isso, até lá, o mais importante é compreender as mudanças no clima, reforçar a fiscalização contra o mau uso da água e acreditar nas ações já em andamento para minimizar esse enorme desafio.

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