Pareceu-me hoje, durante o debate sobre a admissibilidade de Angra dos Reis receber o lixo (ou resíduos sólidos, como preferem os técnicos) de outras cidades, que há falhas e pontos nebulosos na teoria de que isso será bom para o território angrense. Bom para o Estado do Rio de Janeiro é certo que será, afinal, o Governo Estadual se livra de um problema, especialmente em municípios como Paraty e Mangaratiba, que não sabem bem o que fazer com seus resíduos.

Angra, porém, ainda que esteja alguns anos à frente de suas vizinhas, convive com problemas sérios neste item, que variam desde a inexistência de ações ostensivas na área de coleta seletiva até a fiscalização precária sobre a única empresa que faz a coleta de lixo na cidade. Não por acaso, a própria Câmara Municipal pede explicações da companhia sobre o pagamento de funcionários, a ausência de equipamentos de proteção e até mesmo o transporte irregular dos resíduos. Caberia, eu creio, resolvê-los, antes de partir para o gerenciamento dos resíduos alheios.

A justificativa dada pelo secretário municipal de Meio Ambiente de Angra, de que a cidade ainda não conseguiu recuperar-se de um passivo nesta área, que teria sido herdado de ‘gestões passadas’ (este ente que sempre surge num debate quando algo não parece bem) mostra-se quase pueril. Ou não foram as ‘gestões passadas’ que criaram o Cinturão Verde (agora transformado em Lei pelo Governo Tuca), a própria coleta seletiva do lixo, com o estímulo dado pelas trocas, e a usina de separação do lixo no Ariró? Ou será que estes projetos não acrescentaram nada à gestão do ambiente angrense nos dias de hoje? A coleta seletiva talvez não, afinal há vários anos não se escuta falar de ação efetiva do Governo nesta área, sobrevivendo na cidade graças à ação quase heróica da iniciativa privada. Quem separa o lixo e se preocupa com a reciclagem, nem sempre tem onde deixar estes resíduos, apenas para se ter uma ideia de quão distante estamos de um ambiente próximo do sustentável.

Mas voltando ao tal Centro de Tratamento de Resíduos Sólidos (muito mais que um aterro sanitário, é bom que se diga), muitas dúvidas permanecem sem respostas críveis. A gestão do Centro, é uma delas. A fiscalização sobre os atos das Prefeituras na coleta dos resíduos e o tranporte destes materiais até o local de descarte não parecem ter, ainda, sequer uma regra comum a todas as cidades. Permanece enevoado o debate, recém-aberto é verdade e, portanto, ainda possível de ser levado a bom termo.

Foi excelente que a Câmara tenha avocado a discussão e reunido atores dos municípios e do Estado para debater a questão. Deve voltar a fazê-lo antes de tomar uma decisão em nome da população. Ouvi-la de forma direta, nem que fosse uma consulta online, já ajudaria. E que os defensores da proposta estejam plenamente aptos a esclarecer principalmente os benefícios de Angra com a ideia, coisa que hoje, a meu ver, ainda não conseguiram.

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