Não deve mais ocorrer este ano, a anunciada transferência da sede do 33º Batalhão da Polícia Militar (BPM) da entrada do Parque Mambucaba, onde está hoje, para o Centro de Angra dos Reis. Pelo menos a julgar pelos últimos movimentos contrários à proposta, pode-se dizer que a ideia perdeu força.
O prefeito de Paraty, Luciano Vidal (MDB), foi um dos que ajudou a fomentar o debate, se não contra, pelo menos para expor as opiniões divergentes. A chuva pode até ter impedido alguns moradores de irem a uma reunião convocada por ele para discutir o assunto, mas o pedido unânime foi pela permanência do 33º BPM na entrada de Mambucaba.
Segundo Vidal, ele não teria sido nem informado pelo governador Wilson Witzel (PSC) sobre a mudança da sede do batalhão e nem convidado para uma reunião em dezembro em que houve o anúncio da decisão. Na ocasião também foi anunciada a instalação de três Unidades de Polícia Pacificadora em Angra.
Durante o encontro em Mambucaba porém, Vidal disse não ser contra a saída da sede do 33º BPM de seu local atual, mas defendeu que haja uma discussão sobre isso com todos os prefeitos e com a população das cidades diretamente atingidas. Além de Angra e Paraty, o 33º Batalhão também auta no policiamento em Mangaratiba e Rio Claro.
Mesmo flagrado num depoimento a favor da mudança, o vereador de Angra, Thimoteo Cavalcanti (PL), disse que voltou atrás. A posição foi defendida também pelo vereador José Augusto (MDB), que acredita ser melhor manter o 33º BPM aonde ele já está estabelecido. A vereadora Titi Brasil (MDB) ameaçou pedir um posicionamento da Eletronuclear, pois a localização das usinas nuclares deveria ser levada em consideração, segundo ela, na hora deste tipo de decisão.
Morador do Parque Mambucaba há 40 anos, Leonardo Miranda defende não só a permanência do Batalhão no bairro como também a vinda de uma unidade da Polícia Civil para a localidade. Na região vivem mais de 40 mil pessoas e os registros de ocorrência policial continuam sendo feitos no Centro de Angra ou em Paraty.
— É muito distante ter que ir a Paraty ou a Angra para fazer o registro de uma ocorrência. A Polícia poderia estar mais perto — relatou ele.
Para o delegado titular da 167ª DP (Paraty), Marcelo Russo, a discussão vai muito além da permanência ou não do Batalhão no bairro.
— O legislativo produz leis fracas, que não protegem a população. Nós, policiais, enxugamos gelo — desabafou o delegado durante o encontro.
Preocupante — Veio de Paraty, no entanto, o posicionamento mais forte contra a mudança. O vereador Sanica (DEM) foi enfático na defesa contrária à mudança. Ele acredita que por Paraty ser a última cidade antes da divisa com São Paulo, e 100km distante do Centro de Angra, a transferência do Batalhão deixaria a cidade ainda mais isolada.
O mesmo pensa a presidente da Associação de Moradores da Prainha, Silvinha, que disse acreditar que a possível saída do Batalhão seria muito preocupante para o bairro e toda a região.
— Hoje já é um sufoco ter ronda na Prainha. Muitas vezes precisamos pedir ronda por meio de ofícios. Imagina tirando o Batalhão daqui. Vai piorar muito eu acredito — concordou a presidente da associação.
Mudança não deve mais acontecer
O comandante do 33º Batalhão, tenente-coronel PM Fófano (foto), recebeu o caderno Tribuna Mambucaba com exclusividade para falar sobre o assunto. Ele garantiu que a eventual saída do Batalhão da região não influenciaria na segurança do bairro, já que uma Companhia da PM na região abrigaria o mesmo efetivo existente hoje para policiamento.
— Os policiais se apresentam na sede do Batalhão, na 3ª Cia (em Paraty) e na 2ª Cia (no Centro de Angra). Essa logística não muda mesmo com a transferência da sede — garante ele.
O comandante diz que quer o melhor para a população e se colocou à disposição para representar a comunidade junto aos seus superiores. Ele se prontificou também a entregar ao secretário de Estado de Polícia Militar e até ao governador, uma ata das reuniões sobre o assunto e um abaixo assinado entregue por lideranças do Parque Mambucaba. O morador Pedro Perini reuniu 5.400 assinaturas pedindo a permanência da sede do Batalhão na comunidade.
O Tribuna Mambucaba também apurou que a Câmara de Vereadores de Angra dos Reis chegou a colocar à disposição do Estado um terreno no Centro da cidade para o novo Batalhão. Mas voltou atrás após a pressão popular. O próprio governo do Estado estima que a nova sede do Batalhão demoraria quase 10 meses para ser concluída. Como ainda não há um terreno disponível, a mudança, ainda que ocorra, pode ficar para 2021.
* Publicado antes na edição impressa Tribuna Mambucaba (nº 04)
Fotos/Reportagem: Tatiane Cardoso
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