A dupla Ferreti/Rubinho, prefeito e vice eleitos em Angra | Foto: Divulgação

O engenheiro Cláudio de Lima Sírio, o ‘Ferreti’, próximo prefeito de Angra dos Reis, conseguiu dois feitos na eleição deste ano: primeiro derrotou um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro na cidade em que o mesmo tem cerca de 70% de apoio; e depois ainda pôde contar nesta tarefa com o apoio da ampla maioria dos eleitores simpáticos ao PT e ao presidente Lula. É bom lembrar ainda que, apesar disso, por pouco essa conta não fecha.

O candidato do PL, Renato Araújo, empresário estreante na política e acusado de irregularidades trabalhistas em suas empresas, teve uma subida expressiva na preferência do eleitorado angrense na reta final da disputa. O levante pode ter sido influenciado pelo chamado ‘voto útil’ e por um certo comportamento do tipo ‘cada um por si’ entre os principais candidatos a vereadores da chapa de Ferreti. Alguns dos reeleitos para a Câmara priorizaram a si mesmos na disputa e abandonaram a campanha do MDB sem apoio na chamada ‘boca de urna’, a campanha extemporânea entre a sexta-feira anterior e o domingo da eleição. Não raro, alguns vereadores reeleitos da chapa de Ferreti nem cautela tiveram em esconder o apoio velado que deram ao candidato do PL. Quem viu, viu.

Assim é que os outros dois coadjuvantes na eleição majoritária, Zé Augusto e Venissius, viram seu eleitorado fugindo em massa em direção a Renato, ante o risco de Ferreti vencer. É um movimento comum baseado pela rejeição e ocorreu no sentido inverso, em menor quantidade. A migração, porém, não foi suficiente e legou aos dois últimos colocados, a antipatia dos eleitores de ambos os líderes. Para Zé Augusto e Venissius se reinventarem na política, terão de priorizar eleições proporcionais, ao que parece, a despeito de serem ambos excelentes quadros políticos locais.

A apuração ‘voto a voto’, como não se via há 20 anos, alternando lideranças de Zé Augusto, Renato e por fim, de Ferreti, e o resultado decidido por menos de 600 votos na média, pode ter dado ao prefeito eleito também, a sensação de que passou a campanha inteira cercado por gente que não compreendeu bem a dinâmica polarizada da eleição. A novela da escolha do vice-prefeito; a tentativa atabalhoada de colar a imagem de Ferreti a Bolsonaro na semana final; o movimento ‘de volta’ do prefeito Fernando Jordão (MDB) em direção a Bolsonaro; os ataques gratuitos ao PT durante a campanha, feitos pelas lideranças do entorno do prefeito eleito e o ‘corpo mole’ de alguns dos vereadores reeleitos, por pouco não custaram a Ferreti a vitória na disputa. É coisa que se aprende, sendo ele também um estreante na política.

Ao fim e ao cabo, agora parece que o eleitor antipático a Bolsonaro, majoritariamente de esquerda ou simpático ao presidente Lula, é quem de fato permaneceu imóvel no apoio ao candidato do MDB durante toda a disputa eleitoral, levando-o, por fim, à vitória nas urnas em comunidades onde o eleitorado de Lula costuma ser mais visível, incluindo bairros como Jacuecanga e Camorim. A diferença é tão estreita que sem votos nestes bairros, Ferreti teria perdido a eleição.

Apesar disso, o mesmo eleitor que deu a vitória a Ferreti, apesar de simpático a Lula, sucumbiu aos encantos dos vereadores com mandato e legou à esquerda a ausência do poder Legislativo por mais quatro anos e a uma votação proporcional e majoritária que leva a crer ser perto de impossível, recuperar algum capital político relevante na cidade nos próximos anos. Só a luta muda a vida, então, a batalha pela próxima disputa já começou.

(*) Klauber Valente é jornalista e editor do Tribuna Livre. Em 2024, disputou a eleição para vereador pelo PT em Angra dos Reis, obtendo 535 votos.

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