Para muitos turistas que visitam a cidade de Paraty, localizada na região Sul Fluminense do Rio de Janeiro, a cidade se resume ao Centro Histórico, famoso por seus bares, restaurantes e ateliês, e às praias do município. Grosso modo, é como se a corrente que demarca a entrada para as charmosas ruas de pedra dividisse também o que é mais interessante e o que é menos.

Apesar de a comparação soar coerente, ela não é verdadeira. Uma multidão de comerciantes e profissionais de diversas áreas trabalha em pontos não tão famosos da cidade e, ainda assim, tem muito a oferecer a moradores e turistas, seja com produtos e serviços diferenciados ou mesmo investindo em áreas já conhecidas, mas com qualidade de atendimento e de matérias-primas.

Nesta edição do Tribuna Livre Angra, conversamos com dois profissionais que resolveram trabalhar antes da corrente e, apesar das dificuldades relacionadas à localização, seguem atuando com garra e seriedade, na intenção de muito mais do que conquistar um lugar ao sol, demarcar um sucesso à margem do centro.

 

Coração, amor e sucos

 

Inaugurado em agosto de 2013, o Manuê Sucos fica na Rua João do Prado, nº 57. Ele foi criado pelo casal paratiense formado pela empresária Laís Santos e pelo publicitário Pablo Costa, que enxergou no retorno à cidade uma chance de a família, acrescida do filho João, crescer junta, num ambiente comum a todos.

– Estávamos morando no Rio e, com o nascimento do nosso filho, queríamos voltar a Paraty com a ideia de ter algo nosso, com nossa cara, nosso jeito, nosso carinho e todo nosso amor. Um lugar onde nossos amigos e os filhos deles curtiriam estar, onde todos os paratienses se sentissem queridos. Por isso, sempre trabalhamos principalmente para atender ao público local. É óbvio que os turistas têm todo o nosso respeito, mas nós, como paratienses, queríamos ter e também ser um local onde quem é da cidade se sinta nela – informa Laís.

Para a empresária, o fato de não estar dentro da parte mais procurada do município oferece menos possibilidades comerciais ao negócio, o que não impede que ela siga tentando driblar as dificuldades principalmente com a ajuda da tecnologia e da divulgação boca a boca feita por quem conhece o estabelecimento.

– Acredito que se estivéssemos no Centro Histórico iríamos alcançar mais turistas, e que o movimento poderia ser maior durante a temporada, com as festas e festivais que acontecem lá. Porém, hoje, com aplicativos como TripAdvisor e Foursquare, conseguimos muitas vezes conquistar novos fãs. E a ajuda de vários clientes incríveis, que sempre nos indicam, faz com que muita gente saia do centro para vir até a loja – explica a empresária.

 

Vitórias e chão pela frente

 

Outro estabelecimento que também busca uma posição de destaque longe do Centro Histórico é o Empório Mercante, liderado pelo geólogo José Eduardo Brandão Conte e pelo comerciante Leonardo de Queiroz Siqueira. Bar especializado em cervejas artesanais e tira-gostos, ele foi inaugurado em outubro de 2017, na Rua A, nº 257, loja 02, na Vila Colonial. Em pouco tempo, os proprietários já sentiram o gosto de estar na parte menos turística de uma das cidades mais turísticas do país.

– A vontade de ter um negócio próprio e também procurar uma vida mais tranquila, fora dos grandes centros urbanos, gerou a ideia de montar um bar com cervejas artesanais. A proposta casou perfeitamente com a cidade de Paraty, movimentada o ano todo pelo turismo. Estar fora do centro histórico é um ponto negativo, já que tudo gira em torno dele. O turismo e as festividades da cidade estão muito centralizados. Nada é organizado fora do Centro Histórico e, dessa maneira, o público do Empório Mercante fica muito restrito – conta o sócio e gerente Leonardo Siqueira.

Ainda assim, ganhar a vida no município tem oferecido um belo aprendizado aos profissionais do estabelecimento – e uma ótima experiência para os proprietários do Empório Mercante, que não são nascidos na cidade.

– Trabalhar em Paraty tem sido uma experiência enriquecedora, que agrega novos valores e nos ensina a lidar com a complexidade da cidade. Após um ano funcionando, podemos dizer que alcançamos vitórias, mas ainda temos muito chão pela frente – resume Leonardo.

Para o gerente do Empório Mercante, seria importante ter uma propaganda abrangente, e não apenas específica quanto ao Centro Histórico de Paraty. Ele acredita que os turistas não têm ideia de como é o município fora da parte mais turística. Além disso, a união entre os comerciantes que se encontram na mesma situação, ou seja, um pouco mais distantes do centro, também é vital.

– Hoje, o maior público do Empório é formado por moradores, mas não podemos culpar apenas o governo municipal. Também somos coniventes, já que não nos unimos para realizarmos eventos, atrações e festivais fora do Centro Histórico. Sempre que o Empório Mercante realizou algum evento e precisou de ajuda, a prefeitura de Paraty apoiou, ainda que o foco do governo seja a parte mais turística do município – lembra o gerente do Empório.

 

Mãos à obra – e ao trabalho

 

A dificuldade de se trabalhar com turistas de todo o Brasil e do mundo, mesmo não estando na parte mais movimentada do município de Paraty, é algo a ser constantemente estudada e também discutida entre aqueles que trabalham na área comercial da cidade. Ainda assim, mesmo que existam obstáculos, antes deles, existem pessoas fortemente determinadas a não desistir sob qualquer hipótese, mostrando que é possível viver e também trabalhar do outro lado da corrente.

– Acreditamos nos nossos sonhos e sempre depositamos neles toda nossa energia. Tudo que fizemos sempre foi com muita sinceridade e honestidade e, talvez por isso, nesses cinco anos conseguimos muitos clientes que frequentam o estabeleci mento até três vezes ao dia. Nossos esforços sempre foram no sentido de oferecer um produto de qualidade à população paratiense, e isso acaba refletindo no interesse dos turistas, já que muitos acabam buscando referências e indicações com a própria população – diz a proprietária do Manuê.

De acordo com gerente e sócio do Empório Mercante, o segredo talvez esteja na pluralidade de atrações dentro de um único estabelecimento.

– O Empório vem diversificando sua programação musical, criando uma cena musical nova em Paraty. O espaço está aberto para vários estilos musicais, desde piano bar ao bom e velho rock’n’roll. Organizamos eventos para atrair mais público e, neste ano, vamos organizar a 2ª edição do Saint Patrick’s Day / Encontro de Cervejeiros Artesanais e outros eventos, além de o bar está aberto para aulas de dança de salão. É possível, sim, prosperar longe do Centro Histórico, mas é necessária muita força de vontade, foco no trabalho e criatividade – finaliza Leonardo Siqueira.

 

Publicado antes na edição impressa nº 243 do Tribuna Livre.

Fotos: divulgação

Para assinar o Tribuna Livre, clique aqui.

 

 

 

Deixe seu comentário

Escreva seu comentário!
Nome