Histórias de brasileiros bem sucedidos no exterior, em especial nos Estados Unidos, existem muitas. Em geral, porém, só tomamos conhecimento delas quando já vitoriosas e estes cidadãos que deixaram o Brasil em busca de prosperidade já alcançaram o sucesso. A vida do empreendedor angrense Paulo Ramos, ou só ‘Paulinho da Verolme’ para os amigos, no entanto, ainda está no caminho para alcançar o topo. Morando há dois anos em Houston, no Texas, Paulinho ainda vem desenvolvendo seu ‘business’ a fim de alcançar o tão sonhado reconhecimento no país do Tio Sam.

A história dele, da esposa Gigi e das filhas Gabriela, Maria Paula e Victoria começa bem antes, em 2010, quando Paulinho atuava no Brasil no setor naval nas áreas de petróleo e gás. Até então, com os negócios indo de vento em popa e boa parte dos clientes atrelados ao sucesso da Petrobras, Paulinho mantinha uma rotina apenas de viagens regulares ao escritório da empresa nos Estados Unidos (foto), um país do qual sempre teve simpatia.

— Sempre gostei dos Estados Unidos, das cidades americanas, do esporte, enfim, do jeito americano de viver. Eu vinha até  três vezes por ano e chegava a ficar alguns meses. Então foi nascendo a vontade e logo a oportunidade de morar aqui em definitivo — conta ele.

Antigo escritório da empresa no Rio de Janeiro

Tudo ia bem no Brasil até que os efeitos da operação Lava-Jato alcançaram os negócios do setor naval e atingiram também a empresa de Paulo, a ‘PRAMOS Consultoria’, que há 12 anos realizava trabalhos de relevância para a indústria naval brasileira. Como a Petrobras imediatamente suspendeu a contratação de novas obras, Paulo começou a perder clientes e faturamento. Foi preciso ir portanto ‘aonde o cliente estava’. Assim, em 2016, o empresário e a família decidiram mudar-se para o país de Donald Trump. Pesou a favor da decisão, além dos negócios, o bem estar da família.

— A gente morava no Rio de Janeiro há alguns anos, num condomínio fechado. Dentro era muito seguro, mas do lado de fora, ouvimos relatos de violência todos os dias. Isso pesou um pouco também porque aqui em Houston a realidade é muito diferente — revela o empreendedor.

Paulo com a família nos EUA

Para ele a principal diferença entre o norteamericano e o brasileiro é a autorregulação. Os Estados Unidos, ele conta, são um país em que os cidadãos ‘sabem o que devem fazer’ e fazem o que é certo. Ele dá como exemplo a ausência de semáforos em alguns cruzamentos. No lugar há apenas faixas pintadas no chão e placas.

— Aqui, em qualquer hora, de dia ou de madrugada, o motorista sabe que deve parar onde está escrito ‘STOP’ e se não parar ele é punido. No Brasil, ninguém para né? Nem no sinal vermelho. É uma mudança de cultura muito grande, que o Brasil deveria aprender — contou ele ao Tribuna Livre, por telefone.

Ele também destaca como interessante no país, o incentivo ao serviço voluntário, que é ensinado às crianças na escola. Paulo, a esposa e as meninas já estão adaptados. As meninas têm entre 7 e 12 anos e já falam inglês fluente. Se no Brasil elas estudavam em escolas particulares, nos EUA frequentam escolas públicas e os pais concordam que o ensino gratuito por lá é muito superior ao que é pago no Brasil. Ele revela que houve momentos de saudade e tristeza sim, mas que a vontade de vencer fora do seu país, ainda movimenta a manutenção da família no exterior.

“Houve claro momentos de desafio, coisas ruins aconteceram também, que vieram como oportunidades para nossa evolução e crescimento. Estamos felizes com o desenvolvimento das nossas filhas e com a descoberta de uma nova paixão profissional”

Mudança — Como os negócios do setor de petróleo ainda não retomaram a situação pré-Lava-Jato, Paulinho também diversificou suas atividades. E tudo aconteceu por causa de uma catástrofe. Em agosto no ano passado Houston foi atingida pelo furacão Harvey. O vendaval devastou bairros, destruiu casas e muitos sonhos. Famílias perderam tudo. Sem ter sofrido grandes prejuízos na ocasião, o brasileiro entrou num grande mutirão voluntário de reconstrução. Diz ele que pôde, assim, ‘retribuir a gratidão ao país’ que o acolheu. Como voluntário atuou na reconstrução da cidade, ajudando inclusive uma amiga brasileira que teve a casa destruída. Para ele foi o momento mais marcante de sua trajetória no país até agora. Marcante e também inspiradora. Com visão para os negócios, veio aí também uma virada.

Antes e Depois: Trabalhos do angrense em casas de Houston

Com a experiência do serviço voluntário, Paulinho percebeu que havia uma demanda por serviços de construção civil e ‘remodeling‘, o que no Brasil é o equivalente à reforma de imóveis. Com faro para negócios abriu uma empresa de construção, a ‘GMV Service’, que leva as inicias das três filhas. Muito além do retorno financeiro, o negócio permitiu enxergar os EUA que ele ainda não conhecia.

A GMV Service agora faz este tipo de atividade em Houston e emprega outros latinos (somente em condição de legalidade no país) que, como o angrense, buscam sucesso na América. Sobre os desafios para os imigrantes no país, ele disse que o segredo é ser um bom prestador de serviços e honrar tudo aquilo que se presta a fazer.

Antes e Depois: o trabalho da GMV Service nos EUA

— Como em toda a atividade ou negócio, você progride e cresce se prestar um bom serviço ou produto. Eu vi que havia demanda e que havia também algumas queixas sobre atrasos, dificuldades de relação com funcionários que não falam inglês etc. Usei o conhecimento que eu tinha do setor de petróleo para criar um modelo de negócios com prazos, gerenciamento, satisfação do cliente e entrega de resultados. Isso faz com que meu trabalho apareça e ganhe recomendações — explica o empreendedor.

Sonho americano — Um dos aliados de Paulinho na promoção dos negócios de reforma de casas é a plataforma Home Advisor, popular nos Estados Unidos, onde clientes fazem recomendações ou, em alguns casos, criticam os prestadores de serviços. Com o sucesso de seus trabalhos e de sua equipe, a plataforma recebe os elogios dos clientes e dão a Paulinho a esperança de continuar crescendo cada vez mais no país das oportunidades, construindo assim a sua versão brasileira do ‘sonho americano’.

A família em registro aqui em Angra dos Reis: ‘às vezes a saudade aperta’, diz o empresário brasileiro

Fotos: Arquivo Pessoal

Gostou deste texto? Para assinar o Tribuna Livre, clique aqui.

Deixe seu comentário

Escreva seu comentário!
Nome