Risco de mudança na sede do Batalhão da PM mobiliza população

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Último concurso para a PM foi em 2014 | Foto: Divulgação

Ao que tudo indica, a sede do 33º Batalhão de Polícia Militar vai deixar o Parque Mambucaba e se mudar para o Centro de Angra dos Reis. A notícia dada pelo governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), na véspera do final de ano, azedou muitas ceias pela região. Sem consultar a população local, o anúncio foi realizado por uma videoconferência com diversas autoridades da cidade. Agora começa uma mobilização para evitar o fato consumado. Surpreendido pelo anúncio, o prefeito de Paraty, Luciano Vidal (MDB), é um  dos que tenta entender as razões da mudança. Vidal diz que moradores de áreas como Mambucaba, Prainha, Chapéu do Sol e região estão preocupados.

— Eu não fui comunicado de nada e nem consultado pelo comando da Polícia Militar. Soube por terceiros e pela Imprensa. Diante disso é que estamos nos mobilizando para ouvir das autoridades se a decisão está tomada. Não somos a princípio contra, somos solidários aos problemas de Angra dos Reis mas, claro, queremos saber que reforço virá para que a população de Paraty não fique desassistida. Até porque me parece que, se os bairros mais violentos de Angra já vão receber UPP’s, por que retirar o Batalhão? Qual o motivo? Mambucaba tem 45 mil pessoas — disse Vidal (foto) em entrevista exclusiva ao Tribuna Livre, queixando-se ainda de que não teria sido convidado para a reunião de autoridades em Angra dos Reis em dezembro.

O argumento dado até agora para justificar a mudança foi a de que deixar a sede do batalhão em local mais central é urgente já que ele é o responsável pelo policiamento de três cidades da Costa Verde fluminense: Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty. No Google Maps, da divisa de Itaguaí com Mangaratiba até a de Paraty com Ubatuba/SP, pela BR-101 (rodovia Rio-Santos), são cerca de 190 km. O Parque Mambucaba encontra-se nas imediações da metade deste caminho e próximo de onde estão as usinas nucleares, o que por si só já justificaria a permanência do Batalhão no bairro onde ele está instalado há mais de 30 anos.

Usinas nucleares — A história do 33º BPM se confunde um pouco com a da construção das usinas nucleares, que então estavam em uma área de ‘segurança nacional’. Os moradores já se habituaram com a tranquilidade que a presença do efetivo policial traz. E talvez por isso o Quarto Distrito seja a região que menos sofra por enquanto com a violência que atinge em cheio a Angra dos Reis nos últimos anos.

— Sou totalmente contra esta história. Falam que vai ter uma companhia, que vai ter mais policiais. É tudo para enganar o povo. Se com o batalhão o contingente é pequeno, imagine com a saída do batalhão. Tem mais uma coisa, como vai ficar a segurança da usina? Pois, pelo que eu sei, esta área é de segurança nacional — se revolta um comerciante do Parque Mambucaba, que tem loja no bairro desde a década de 1990.

A desconfiança é que a retirada do Batalhão afaste os policiais da região. Para outro comerciante, porém, a solução não é só a permanência do batalhão em si.

— Meu ponto de vista é um pouco diferente da maioria, pois a solução não é o Batalhão em si, acredito que este não seja o fator que os bandidos temem e sim o comprometimento dos PMs e a logística do policiamento, como posicionamento de viaturas e rotas das rondas. O comércio sofrerá se a polícia se ausentar completamente, como acontece hoje no Frade, Belém e no Camorim. O que não pode acontecer é o Quarto Distrito ser esquecido pelo 33º (Batalhão) — afirma ele.

Mobilização — Pelo sim pelo não, lideranças do bairro já mobilizam os moradores e disponibilizaram pelo comércio um abaixo-assinado em que pedem a permanência do batalhão na entrada do Parque Mambucaba.

— Hoje não temos problemas com assalto. Mas saindo o Batalhão do bairro o índice deve aumentar muito e a confiança da população ao sair para as compras também — diz a proprietária de uma loja de produtos para crianças.

Eleito com votos na comunidade, o vereador Canindé (MDB) protestou de imediato. Para ele a remoção do efetivo policial seria um retrocesso.

— Sou totalmente contra. Ainda mais que isso não foi discutido com a população. Estou apoiando o abaixo-assinado — disse o vereador.

Outro parlamentar com interface no bairro, o ex-policial Thimóteo Cavalcanti (PL), foi pêgo no contrapé. Após gravar um vídeo na porta do Batalhão dizendo ser contra a remoção, acabou vítima da gravação de uma conversa dele com o próprio Canindé, dizendo que a saída do Batalhão não faria diferença e que, aliás, segundo Cavalcanti, ‘Companhia é até melhor’.

Prefeitura comemora investimentos do Estado em Segurança
O prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão (MDB), considerou a decisão do governador de investir na segurança pública em Angra como positiva já que foi anunciado também a vinda de um veículo blindado (‘Caveirão’) e a criação de três UPPs.

— Esse é um trabalho inédito e não tenho dúvida de que vamos colher o resultado. Quero agradecer muito ao governador Wilson Witzel por essa disposição inédita de dar apoio ao município de Angra dos Reis, como nenhum outro governador, na área de segurança, nos deu — afirmou o prefeito na ocasião.

Só que a respeito da remoção do Batalhão da área de Mambucaba, o prefeito preferiu não se posicionar. O secretário de Estado de Polícia Militar, coronel PM Figueiredo, que estava presente ao anúncio de Witzel em dezembro, preferiu a cautela. Disse que a transferência é motivo de um estudo apenas e que o bairro não ficará desassistido, mesmo que a sede do 33º BPM seja removida.

— Não vamos deixar o Parque Mambucaba sem Polícia. Aquela estrutura que existe lá será transformada em uma Companhia da PM — garantiu o coronel.

A assessoria de imprensa do Governo do Estado alegou ao Tribuna Livre que a secretaria de Polícia Militar é quem daria um posicionamento. Esta transferiu para o 33º BPM. O comandante do 33º BPM, Ten Cel Fófano, alegou problemas de saúde na família e não respondeu as perguntas até o fechamento da última edição impressa do caderno especial Tribuna Mambucaba.

Publicado antes no caderno especial Tribuna Mambucaba.

Fotos: Divulgação

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