Há um contraste muito grande entre a Angra dos Reis que a prefeitura apresenta em eventos dentro e fora do município, e a cidade real, onde vivem a ampla maioria das pessoas que depende de bons serviços públicos. Se na verborragia oficial do município, Angra é a cidade ‘inteligente’ ou a cidade rica; nos bairros e comunidades o que se vê são queixas de todo o tipo, reclamações a respeito da manutenção precária e algumas obras em ritmo lento ou simplesmente paradas. A versão angrense do bordão ‘expectativa X realidade’ é uma decepção para a maioria dos moradores da cidade que não encontram a cidade dos sonhos que a prefeitura apresenta na mídia oficial. Ao invés de obras e investimentos, o governo prioriza o pagamento de salários e altas remunerações a políticos e seus indicados.
O governo se vangloria, por exemplo, de que não falta dinheiro. De fato, tem. Só que parece que este dinheiro se desvia do seu destino principal com frequência. No fim do mês passado, em audiência na Câmara Municipal, os dados da equipe da Controladoria-Geral do Município (CGM) mostraram mais uma vez uma arrecadação recorde em 2022, com uma situação orçamentária que é bastante folgada para o prefeito.
— Em 2022 os resultados do governo foram muito positivos. Nosso total orçado da receita era de R$ 1,6 bilhão, mas o final do exercício foram arrecadados R$ 2,1 bilhões, o que representou um acréscimo de 31% — resumiu-se a superintendente de Contadoria do município, Carla Honorato.
O crescimento da receita do município ocorre quase sempre por razões alheias à atuação da prefeitura, incluindo as oscilações nos valores internacionais de petróleo e a movimentação de navios no terminal da Petrobras, na Ponta Leste, de onde vem mais da metade da arrecadação municipal total.
Apesar dos R$ 500 milhões a mais em arrecadação, comunidades como a Enseada, o Encruzo, a Japuíba e o Parque Mambucaba convivem com obras inacabadas, reclamações de assistência em saúde e problemas de infraestrutura. Na Enseada, uma obra interminável desde 2019 destruiu a área de lazer dos moradores e atrapalha a vida da comunidade, mesmo já tendo consumido milhares de reais de dinheiro público.
Beneficiadas somente, de forma direta, só as grandes prestadoras de serviço e de mão de obra para o município. Tendo a prefeitura como a grande geradora de ‘empregos’ de natureza política na cidade, estas organizações sociais usadas para contratação de pessoal recebem mais de R$ 200 milhões por ano e aparentemente recebem menos fiscalização que merecem, com relatos de troca regular de funcionários, indicações políticas e, claro, salários elevados em cargos de direção.
Para este ano de 2023, o orçamento de Angra está previsto inicialmente em R$ 1,8 bilhão.
(*) Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre (nº 384)
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