Morros do Centro de Angra | Foto: Arquivo

As Polícias Civil e Militar do Rio de Janeiro investigam e tentam conter os planos de grupos paramilitares e milícias para expandir suas áreas de atuação para cidades da Costa Verde inclusive Angra e Paraty. Investigações confirmaram nos últimos dias que as cidades da região estão entre as prioridades para expansão destes grupos que já atuam na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro em áreas como Santa Cruz e Campo Grande.

Os agentes confirmaram após investigação em conjunto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) que a milícia de Wellington da Silva Braga, o ‘Ecko’, 34, já está atuando na região de Mangaratiba e no Porto de Itaguaí. ‘Ecko’ comanda a principal milícia atuante na cidade do Rio.

Na sexta-feira, 16, o jornal ‘Extra’, do Rio de Janeiro, informou que ex-traficantes de Mangaratiba, Angra dos Reis e de outras cidades da Costa Verde estariam sendo ‘contratados’ pelos milicianos. Segundo a Polícia Civil, células paramilitares já teriam sido criadas nestes locais. Além disso, a PRF e a Receita Federal detectaram que o Porto de Itaguaí está sendo usado pela quadrilha para fazer todo o tipo de contrabando.

— Estamos monitorando e reforçando as fiscalizações para apreender os produtos ilícitos da quadrilha. Com a Receita Federal já fizemos diversas operações. Já apreendemos mais de R$ 1 milhão em TV Box da milícia — informou Rômulo da Silva, agente da PRF.

Comunidade do Frade, em Angra, é área visada pelos bandidos

Não é a primeira vez que a Polícia Civil recebe informações sobre a atuação de milicianos na Costa Verde. Há três anos, o mesmo grupo paramilitar tentou expulsar traficantes do Frade, em Angra, para invadir a localidade. Na época, o então delegado titular da 166ª DP (Angra), Bruno Gilaberte, confirmou que houve a tentativa de milicianos de assumir o ‘comando’ do Frade.

Já o delegado Fábio Freitas Salvadoretti, da Delegacia de Homicídios do Rio, afirma que o grupo tem se fortalecido nos últimos anos.

— O objetivo da milícia é expandir território. Sabemos que eles estão migrando para Mangaratiba, Angra e municípios daquela região. Já existem investigações. Eles querem tomar toda aquela área e por isso estão contratando ex-traficantes para aumentar o domínio territorial. A narcomilícia está dominando aquela região — acredita Salvadoretti.

Para a Polícia Civil, as células da milícia estão sob comando de ‘Ecko’. No início de outubro 17 suspeitos de envolvimento com a quadrilha foram mortos em ações da Polícia. Doze foram abatidos em Itaguaí, entre eles um ex-policial militar.

— A morte destes milicianos afeta muito porque todos esses mortos atuavam de forma violenta naquelas regiões — afirmou o delegado.

O delegado Marcello Russo, titular da 167ª DP (Paraty) afirmou que o anúncio da presença destes bandidos na região deixou as Polícias em alerta. A milícia de ‘Ecko’, explora a cobrança de taxas de segurança, transporte alternativo e venda de botijões de gás e de sinal de TV.

Governador promete manter ações contra as milícias no Estado

O governador em exercício do Rio de Janeiro, Claudio Castro (PSC), teve encontro na quinta-feira, 22, com os policiais civis da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core/RJ) que participaram da operação de combate às milícias que atuam na Região Metropolitana da capital e na Costa Verdeno início de outubro. Cada policial envolvido na operação receberá como agradecimento um elogio na ficha profissional, que vale como pontuação na progressão de carreira. A publicação sairá no Diário Oficial.

Claudio Castro (C) parabenizou ação contra milicianos

Durante o encontro, o governador ressaltou que a ordem é não dar trégua no combate aos crimes em todo o Estado.

— Quero fazer um agradecimento a estes heróis. Quando convidei o delegado Allan Turnowski para ser secretário da Polícia Civil disse que queria a corporação combatendo o crime. Vamos sufocar criminosos, não importa se pertençam à milícia ou ao tráfico. Estamos intensificando as operações, em integração com outros órgãos — prometeu Castro.

O governador ainda ressaltou que dará todo apoio para que a Polícia Civil trabalhe ‘cirurgicamente’.

— Este é o meu compro-misso. Vamos trabalhar para garantir melhorias estruturais e salariais também. Os nossos policiais precisam ser valo-rizados — defendeu.

Já o secretário de Estado da Polícia Civil, Allan Turnowski (que já foi delegado titular em Angra e conhece a região), destacou que as ações da corporação são pautadas em inteligência, investigação e ação. Só em 2020, segundo ele, R$ 300 milhões foram bloqueados em operações de asfixia financeira contra grupos criminosos que atuam no Estado.

— Agradeço à atitude de valorizar o trabalho. A operação em Itaguaí foi uma missão com foco e profissionalismo — disse.

Disque-Denúncia alerta para influência da milícia nas eleições

Um relatório do Disque-Denúncia baseado em informações recebidas por meio de ligações recebidas pelo serviço, entre 27 de setembro, quando começou a campanha eleitoral, e o dia 13 deste mês, aponta que a milícia e o tráfico influenciam a campanha eleitoral em 14 cidades do Estado, inclusive em Angra dos Reis, única cidade da Costa Verde citada no relatório. Desde que a campanha eleitoral começou foram cadastradas 13 informações relacionadas a atuação de traficantes de drogas e 24 de milicianos. 

Para o coordenador do Disque-Denúncia, Zeca Borges, o espalhamento das milícias e do tráfico no Rio tem a ver também com a crise econômica, numa tentativa de aumentar a escala obter mais receita.

— É muito difícil extorquir pessoas e vender drogas. Eles estão sentindo isso. Ao mesmo tempo, com essa eleição parece haver uma aliança tácita entre uma facção do Rio de Janeiro de traficantes e uma boa parte da milícia. Estão trabalhando juntos em vários territórios, então, nesse momento da eleição em que a disputa é por território, eles estão tentando mais expansão ainda e emplacar somente os seus candidatos — observou Zeca em entrevista à Agência Brasil.

Chamou a atenção dos pesquisadores do Disque-Denúncia o surgimento de candidatos do tráfico, o que era muito raro, além dos candidatos já identificados com as milícias.

— Nós temos hoje vários milicianos e seus familiares como candidatos também. Isso coloca em risco a democracia. É uma coisa um tanto perigosa, porque começa assim e a gente não sabe como vai parar. Chama a atenção a quantidade de denúncias que informam sobre a candidatura dos indivíduos que pertencem aos grupos de milícia. Nestes casos especificamente, os milicianos utilizam sua influência na comunidade e, através da realização de ameaças, buscam conseguir mais votos — revelou Zeca.

Com informações da Agência Brasil

Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre (nº 297)

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