Carla Lacerda é secretária de Saúde de Paraty há cinco anos | Foto: Divulgação/PMP

Nascida em Paraty, a advogada Carla Lacerda (MDB) poderá se tornar a primeira mulher a administrar a cidade. Secretária municipal de Saúde há 5 anos, ela tem agora a missão de representar o legado da administração do prefeito Luciano Vidal (MDB), no poder desde 2019.

A tarefa não é fácil já que nos últimos anos, as eleições em Paraty foram quase sempre decididas ‘no detalhe’, com poucos votos de diferença. Carla recebeu o editor do Tribuna Livre, jornalista Klauber Valente, em sua sala na sede da secretaria, no final de abril, e contou parte de sua história de vida nesta entrevista exclusiva. Leia os principais trechos:

TL – Quem é Carla Lacerda?
Carla — Eu sou mulher, mãe de três filhos, advogada que me graduei após uma separação, filha da dona Elza, paratiense de nascimento e coração. Tenho muito orgulho da minha história, da educação que dei aos meus filhos e, nos últimos anos, do trabalho que temos feito aqui na prefeitura e na secretaria de Saúde de Paraty.

A senhora pode nos contar um pouco mais da sua história?
— Bom, eu sou paratiense como eu já disse, nascida na Santa Casa de Paraty pelas mãos do doutor Derly e tive uma infância e adolescência muito comum aos jovens paratienses da minha época. Também como muitos eu tive de sair da cidade para cursar uma faculdade. Fui aprovada no vestibular para a UFRJ, no Rio, mas como não tinha como me sustentar lá, acabei optando por fazer minha faculdade em Barra Mansa.

Neste momento eu já era mãe, porque tive minha primeira filha com 19 anos; e também já tinha passado pelo meu casamento e terminado com o meu ex-marido. Achei que era um bom momento de estudar depois disso, daí me formei na faculdade de Direito e após formada fui para Barra Mansa e fiquei por 9 anos morando.

E por que a senhora voltou para Paraty?
— A minha vida em Barra Mansa, depois que eu me formei já estava mais ou menos estruturada, eu tinha meu escritório e clientes e vinha a Paraty com frequência visitar minha mãe e o meu avô, que já tinha mais de 90 anos. Era muito sacrificante para minha mãe cuidar do vovô sozinha e eu então convidei ela para ir morar comigo e meus filhos em Barra Mansa e ela aceitou.

Lá em Barra Mansa eu pude cuidar da minha mãe e do meu avô por 4 anos. Ele próprio, porém, quis voltar para cá, já bem doente. Minha mãe veio junto com ele e eu acabei ficando com o coração partido de ver minha mãe aqui sozinha e voltei também depois de um tempo.

Tio de Carla, Edson Lacerda, foi prefeito em três ocasiões | Foto: Divulgação

Em que ano foi isso?
— Foi no final dos anos 1990, eu vim para cá trabalhar na advocacia, montei meu escritório e fui cuidar da minha vida com meus filhos. Eu, mamãe e o meu tio Edson Lacerda (foto), que foi prefeito várias vezes. Meu avô também foi vereador num tempo em que não tinha salário.

O tio Édson (Lacerda) veio para Paraty com 9 anos. Minha mãe tinha 13. Morou no Patrimônio e trabalhou no comércio como balconista muito tempo. Ele foi o prfeito mais jovem que assumiu em Paraty, com 22 anos. Ele foi quem fechou o Centro Histórico por causa dos carros que atrapalhavam os casarões, quem fez a primeira área de APA marítima (Área de Proteção Ambiental) na cidade e um visionário na época. Foi meu tio quem construiu muitas das escolas e postos de saúde que ainda existem na cidade. Suas gestões foram muito importantes.

Então, a gente é militante e sempre fomos envolvidos com a política. Sempre gostamos de participar e eu era militante apenas, que ia aos eventos e votava. Nós todos votamos no Casé (ex-prefeito) na eleição de vereador (2004) e depois na de prefeito, em 2008, mas ele não se elegeu. Mas a gente acabou ficando próximos.

Em 2012, por fim, Casé foi eleito prefeito a primeira vez né? E o que acontece com a senhora então?
— Eu não tinha intenção de estar na vida pública, nem cargo. Estava lá com meu escritório, como eu disse, cuidando da minha vida e com meus filhos, longe da política. Mas aí o dr. Vanderlei, que é um amigo, assumiu aqui a secretaria de Saúde no primeiro ano do governo Casé (2013) e me chamou: ‘Carla preciso de você aqui’.

Eu vim aqui na sede da prefeitura para uma reunião e a situação em 2013 era um caos total na saúde e em outras áreas. Era como se meses antes do governo do Casé não tivesse existido prefeito.

Quando cheguei, logo depois veio um oficial de Justiça com uma ordem de compra de medicamentos que a prefeitura não tinha adquirido na gestão anterior e o oficial de Justiça disse ao dr. Vanderlei que ‘se não comprasse o remédio ele corria risco de ser preso’. Ele olhou pra mim e disse: ‘Carla, me ajuda…’. E aí começou…

Fachada do Hospital Hugo Miranda, onde funciona a maternidade em Paraty | Foto: Viva Rio

O trabalho na saúde?
— Eu comecei a ajudar o dr. Vanderlei na Saúde e eventualmente ao próprio prefeito Casé. Eu dava pareceres jurídicos, opinava sobre algumas coisas e via como o dr. Vanderlei tinha ideias avançadas para Paraty naquele tempo. Ele realmente é um visionário.

Dr. Vanderlei foi o primeiro que disse, ‘Carla, vamos construir um hospital novo’ e convenceu o Casé e a equipe do governo a começarem a obra. E hoje nós temos o nosso hospital Hugo Miranda (foto). Todas as grandes mudanças do início do governo Casé começaram com a inteligência e o trabalho do dr. Vanderlei e eu ajudando sempre no que eu podia e que me cabia.

Tenho uma história de conhecimento e gestão na saúde. Trabalhei com dr. Vanderlei em 2013 e 2014 e retornei a pedido do então secretário Paulo Eduardo em 2015/16 para atuar como diretoria administrativa do Centro Integrado de Saúde, o nosso CIS Patitiba.

E como foi essa etapa?
— Eu fui diretora no CIS por 2 anos. Ali na época era o local mais movimentado da saúde em Paraty depois do Hospital Muncipal São Pedro de Alcântara. E tinha um corpo de funcionários muito qualificado mas precisando de bastante atenção. Daí que a gente mudou tudo lá. Criamos um ambiente mais humanizado, tanto para o funcionário, quanto para a população.

Criamos o setor de atendimento da mulher, melhoramos os ambulatórios, treinamos a equipe em recepção, criamos a ação de orientação para o aleitamento materno e as campanhas de saúde como o Outubro Rosa. Eu saí em 2016, mas as ações continuam acontecendo e o CIS da Patitiba tem uma função muito importante para a rede até hoje.

Em 2017, o prefeito Casé foi reeleito e Vidal assume como vice. O que muda?
— Vidal foi ser vice-prefeito do Casé e enfrentou toda aquela situação da oposição questionando a vitória do prefeito. Eu continuava ajudando, e sempre sob a orientação da minha mãe. Quando tinha uma questão importante para decidir eu consulto a opinião da minha mãe. Até hoje é assim.

Daí Vidal aceitou disputar a eleição na eleição suplementar, em 2019, e vencemos novamente. Então foi natural que ao assumir a prefeitura, em 2019, ele me convidasse para ser a secretária.

E a senhora aceitou?
— Pensei um pouco. É muita responsabilidade. Mas não era só um pedido do Vidal. Era também de todo o grupo político que a gente faz parte desde 2012. Daí aceitei e você então já conhece a história, pandemia e tudo o mais… os dois anos da pandemia, aliás, foram muito difíceis.

A antiga UPA de Paraty, que precedeu o hospital | Foto: Arquivo (2017)

Como assim? Por que?
— A gente tinha acabado de desmontar a UPA (foto) e inaugurar o Hospital Hugo Miranda. O hospital é uma grande revolução na nossa saúde aqui de Paraty. As pessoas podem não se lembrar como era antes. Era bem difícil, até caótico.

Daí, no ano seguinte que eu assumo, e com 5 meses vem a pandemia. A gente teve um desempenho muito correto aqui, sob a liderança do prefeito Vidal. Todos os paratienses tiveram atendimento e a gente não perdeu pessoas por falta de leitos, de respiradores ou de médicos. E também não tivemos escândalos e nem desvio de recursos. A nossa saúde pública saiu muito fortalecida da epidemia, eu creio.

A senhora está há quase cinco anos na secretaria de Saúde. Qual o saldo?
— Nós fizemos muita coisa. Quem é de Paraty sabe como estava a Saúde antes do nosso grupo assumir, e como é hoje. Nós não apenas construímos um novo hospital, o nosso Hugo Miranda, que tem boa avaliação dos usuários. Nós também equipamos os postos na zona costeira e na zona rural, reduzimos a necessidade de transporte para atendimento fora da cidade e estamos fazendo mais dois equipamentos de saúde que são a Casa de Partos e o Centro de Hemodiálise.

Construímos o Centro de Imagem, o nosso Cedim, entregamos o consultório de endoscopia e colonoscopia, implantamos a saúde do trabalhador, as nossas políticas de prevenção, o ‘Saúde na Escola’, orientação para mamães, a prevenção de gravidez, os DIU’s para mulheres que não desejam ter filhos, as cirurgias de média complexidade, o nosso atendimento de emergência, que já salvou tantas vidas, enfim… muita coisa!

A população sabe. E lembra o quanto a gente tinha que penar para levar um paciente para o Rio ou Ubatuba. Até para nascer, os paratienses tinham que sair da cidade. A nossa Saúde hoje em Paraty é muito melhor que há dez anos.

E os jovens? Eles sabem? As mudanças que a senhora cita começaram há mais de 10 anos. Esta parcela da população sabe como era antes a saúde em Paraty?
— Eu estou muito otimista com os jovens. Estão muito mais conscientes, ativos na sociedade, participativos. E eles também sabem que o que foi feito pela Saúde e pela prefeitura também impacta a vida deles. Acabamos de entregar o prédio do Cefec, a nossa escola técnica profissional. Em pouco tempo os jovens de Paraty estarão sendo formados ali para o mercado de trabalho. É uma revolução, eu creio.

E o futuro? Na visão da senhora o que falta fazer? A senhora quer ser prefeita?
— Eu quero ser prefeita sim. E quem não desejaria? A gente pode avançar mais. Eu quero a Paraty viva, a Paraty feliz que a gente está vendo agora depois de tudo que a população conquistou. Fizemos grandes prédios, o hospital, o Cefec, as creches e escolas feitas ou reformadas e agora a gente precisa investir em humanização, nas pessoas, no acolhimento, especialmente para as mulheres. Eu quero uma Paraty festiva, acolhedora e melhor pra gente viver. O que eu fiz aqui na secretaria de saúde e o que eu desejo fazer nos próximos anos.

(*) Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre (nº 433)

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