Formado em Angra há pouco mais de um ano, quando um amigo em comum do trio de estudantes de geografia formado por Letícia Cazagrande, Renan Chaves e Taís Alcântara pediu para que eles unissem seus talentos num show em conjunto, o grupo Horizonte Oh, que ainda conta com o pianista Erivelton Marks, está na semifinal da 49ª edição do Festival Nacional da Canção (FENAC), um dos mais importantes do país.
A próxima etapa do evento, de caráter competitivo, acontece nos dias 5 e 6 deste mês, em Boa Esperança, Minas Gerais. O FENAC é uma grande vitrine para novos talentos brasileiros da música, de todos os ritmos e cantos do país, o que, aliás, encaixa-se muito bem na trajetória do grupo, formado por uma cantora de São Paulo – Letícia, de 24 anos –, um de São Gonçalo – Renan, de 25 – e uma de Volta Redonda – Taís, de 21 anos.
– A partir do nosso primeiro show, começamos a enxergar o que tínhamos em comum. E uma das coisas era a geografia, já que todos iniciaram a graduação na UFF. Esses pensamentos levaram ao nome Horizonte Oh, que vem do horizonte de decomposição da matéria orgânica no solo, fundamental para dar vida às plantas. Apesar de a maioria não ser de Angra, o grupo foi criado na cidade – explica Taís.
Nova MPB e velhas dificuldades
Na questão relacionada à sonoridade, o trio diz estar dentro da MPB, mas, conectado com a nova leva de artistas, acha complicada a definição. No grupo, eles buscam trabalhar com diversas influências, como jazz, xote, rock e até mesmo tango, tanto que foi com “Tango da resiliência”, letra de Letícia e música de Erivelton, que a banda conseguiu uma vaga na semifinal do FENAC.
– Eu e Erivelton já tínhamos o tango pronto. Daí, chamamos Taís e Renan e gravamos em casa mesmo, na época das inscrições para o Festival de Música e Ecologia da Ilha Grande. Um amigo nos lembrou das inscrições do FENAC, e aproveitamos o embalo para inscrevê-la. Foi de uma forma bem despretensiosa, na verdade. Quando recebi a notícia de que a música tinha passado fiquei chocada, chorei e tudo – conta Letícia.
A primeira seletiva, ao vivo, aconteceu no dia 16 de agosto, na cidade de Barroso, Minas Gerais. O trio e o músico Erivelton Marks viajaram para a cidade e, apesar de o apoio recebido ter sido pequeno, o mesmo acabou sendo essencial para ajudar nas já conhecidas despesas e dificuldades da etapa.
– Na semana anterior ao evento fizemos dois shows, em locais diferentes da cidade, para arrecadar dinheiro à viagem. Alguns colaboradores compareceram aos eventos, enquanto outros ajudaram doando alguma quantia em dinheiro. Somos muito gratos às pessoas de Angra que nos acompanham, que ajudam e também admiram nosso trabalho. Sendo assim, tudo fluiu de maneira tranquila, numa viagem inesquecível – declara Renan.
Semifinal com uma “ajudinha” dos amigos
Atualmente, o Horizonte Oh tem 12 músicas autorais. O trio tem planos de gravar e também lançar as canções nas plataformas digitais, mas por enquanto, está focado na semifinal do FENAC, etapa que também vai necessitar da preciosa ajuda do público angrense. A organização do festival envia uma ajuda de custo aos participantes, na intenção de bancar algumas das despesas incluídas em todo processo. Ainda assim, o Horizonte Oh vai “passar o chapéu” nos eventos que vão realizar nos dias que antecedem a semifinal.
– Além disso, contamos ainda com a ajuda dos amigos. Caso alguém queria colaborar de alguma maneira é só mandar mensagem para qualquer um de nós nas redes sociais – lembra Renan.
A semifinal do FENAC será nos dias 5 e 6, seguindo com a realização da grande final, no dia 7, na mesma cidade. Apesar de todas as dificuldades, os meninos e as meninas do grupo estão empolgados e também felizes com a oportunidade.
– Acreditamos que “Tango da resiliência” era uma boa música para ser enviada, mas eu, sinceramente, não esperava chegar tão longe. Foi a melhor surpresa que recebi. Acredito muito que a importância do tema – a letra fala sobre depressão –, o arranjo incrível que o Erivelton fez e a forma como foi escrita sejam os motivos que levaram a música à semifinal – resume Letícia.
Depois da tempestade, a criatividade – e o sol
“Tango da resiliência” fala sobre uma parte da história pessoal da autora da letra da música, que antes de vir morar em Angra, para estudar, estava passando por uma fase muito difícil em São Paulo.
– Minha depressão quase me matou. Eu tomava muitos remédios. Quando estava sã, sentia-me mal. Ao escrever a canção, já estava morando em Angra, vivendo de arte, e muito mais estabilizada. Peguei tudo o que passei e tentei transformar em algo bonito, poético e forte. Por isso o nome da música, que é uma canção muito importante para mim – lembra Letícia.
Independente do resultado a ser conhecido na semifinal do FENAC, parece que o sol começou a brilhar no horizonte dos integrantes do trio. Mesmo que ainda tímida, é nessa luz que os membros do Horizonte Oh se apegam para seguir numa batalha árdua pelo reconhecimento artístico dentro e fora da cidade. Resiliência eles têm de sobra, assim como talento. Agora, é soltar a voz. E torcer.
Por Hugo Oliveira
Fotos: Ludmilla Barros / divulgação
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