O caso de homicídio da professora Elisabeth Tenreiro, 71, morta por um aluno numa escola de São Paulo na última semana, e o mais recente caso de agressão numa creche em Santa Catarina, causam grande comoção e levantaram debates sobre o histórico brasileiro crescente de violência em instituições de ensino. Segundo relatório divulgado durante a transição do governo federal no ano passado, ao menos 35 estudantes e professores foram assassinados em ataques a escolas no Brasil desde o início dos anos 2000. Além disso, segundo o relatório, ataques com armas de fogo praticados por alunos e ex-alunos, em geral, são normalmente associados ao bullying e exposição a situações violentas, incluindo negligências familiares, autoritarismo parental e conteúdo disseminado em redes sociais e redes de mensagens.
Pensando em reverter esse quadro, o estudo ‘Violência Escolar: Discriminação, Bullying e Responsabilidade’, coordenado pela professora Valdelucia Alves da Costa, desde 2018, promove estudos, pesquisas, oficinas e palestras sobre a temática, visando a capacitação de professores, educadores e instituições de ensino.
— Neste projeto, foi consolidada uma rede com 27 pesquisadores de diversas regiões do Brasil, sendo 12 de universidades públicas nacionais e quatro estrangeiras (da Argentina, Espanha, México e Portugal), vinculados aos cursos de Pedagogia, Psicologia, Filosofia e Ciências Sociais. Neste estudo, foi avaliado o processo de implementação das Políticas Públicas de Educação Inclusiva em Niterói, com base em cinco escolas públicas no que se refere à inclusão de estudantes que sofrem com a manifestação da violência expressa pelo bullying e o preconceito — afirma ela.
Os resultados da pesquisa revelaram que a escola produz violência, com destaque para as regras disciplinares, nem sempre discutidas de maneira coletiva para que os estudantes entendam seu sentido e a necessidade do aprendizado para se orientarem e viverem em comunidade. A docente acredita que instituições de ensino precisam promover um clima que não amedronta, não se impõe pelo castigo e nem reprime a voz dos estudantes, que permita o exercício da autoridade docente de maneira a favorecer o encontro e a identificação dos estudantes.
Além disso, de acordo com a professora, a violência presente na sociedade se manifesta nas instituições de ensino através do bullying e do preconceito. Entre as razões para esses tipos de agressão, ela cita a hierarquia social, que classifica os indivíduos conforme a classe socioeconômica e gera desigualdades entre os grupos. As violências também seriam provocadas pela competição considerada ‘oficial’, expressa pelas classificações de melhores e piores alunos, e a ‘não oficial’, representada pelo padrão de beleza — estabelecido pelo senso que permeia na sociedade relacionado a características de pessoas brancas — e popularidade como instrumento de poder, corroborando a marginalização e segregação daqueles que não são considerados parte do grupo bem-vindo.
— Estudamos a manifestação da violência que se volta para aqueles estudantes que não se enquadram nas ‘características ideais’ impostas pela sociedade de classes. São os estudantes negros; com orientação religiosa diferente, sobretudo de matriz africana; pessoas com deficiência; LGBTQIA+; gordas e outros tipos de características que não costumam ser bem-vindas no meio social. São fatores culturais e históricos, muitas vezes trazidos de casa, que levam a manifestações do preconceito — relata Valdelucia.
A pesquisadora crê que, a fim de combater esse cenário violento nas escolas, é necessário implementar uma ‘educação inclusiva’, que se torna possível pelo engajamento e atuação dos professores, proporcionando a democratização da escola pública e ampliando os espaços de convivência entre diferentes estudantes. Também é relevante para o desenvolvimento humano e social, sobretudo por possibilitar a experiência entre estudantes, professores e a comunidade, ao estarem juntos em um processo que favorece o combate à violência, expressa pelo bullying e o preconceito contra os estudantes considerados em situação de inclusão.
Mais informações sobre os resultados da pesquisa estão neste link.
APOIE O JORNALISMO DO TRIBUNA LIVRE
O Tribuna Livre é um jornal da Costa Verde com presença regular na Internet. Nossa missão é levar informação relevante aos nossos leitores. Assine o Tribuna Livre neste link e fortaleça nosso trabalho.