Secretário de Governo de Angra diz que a população tem direito de cobrar

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O secretário de Governo de Angra dos Reis, Marcus Veníssius Barbosa, tem fama de truculento mas também de realizador. É dele a missão de realizar a recuperação da autoridade e da saúde financeira da prefeitura de Angra. Com a total confiança do prefeito Fernando Jordão (PMDB), Veníssius reconhece que o desafio é imenso. Nesta entrevista exclusiva ao Tribuna Livre, ele falou sobre a função que exerce, a relação da prefeitura com os servidores públicos e confirmou o desejo de ser candidato a deputado federal em 2018. A seguir os principais trechos, também publicados na nossa edição impressa:

Tribuna – Angra está melhor hoje que há quatro meses atrás?

Veníssius – Não tenho dúvidas disso. A cidade está muito melhor agora. É facilmente detectado pela população e os servidores públicos, por exemplo. Em dezembro a prefeitura trabalhava meio expediente, tinha três meses de salários atrasados, unidades de saúde quase todas fechadas, faltando insumos, medicamentos e um verdadeiro caos. Então, a cidade melhorou. Não digo que é o ideal. Está muito longe de termos uma cidade organizada, com serviços funcionando plenamente mas, sem dúvidas, que já avançamos bastante.

Tribuna – Qual o papel da prefeitura nisto e na mudança de humor da cidade?

Veníssius – Muitos veem a prefeitura como um grande empregador, fonte de emprego e renda para muita gente. Então também depende da prefeitura, de certa forma, o humor do município. Porque o comércio é impactado diretamente se ele percebe que tem uma administração municipal melhor, mais responsável, preocupada e que interage. Isso anima o comércio. Recuperar a autoestima e a alegria da população é papel fundamental da prefeitura. E a gente tem feito isso. No Carnaval, por exemplo, houve muita discussão se deveríamos ou não fazer, por causa da questão financeira. Fui secretário de Cultura no passado e sei que ‘nem só de pão vive o homem’. O orçamento da Cultura deve ser gasto com a Cultura, não pode ser gasto com a Saúde. O que a gente tem que fazer é garantir que haja recursos para que cada um possa fazer a sua parte, com metas e controle. No Carnaval, mesmo sem recurso público, a gente conseguiu fazer uma festa em paz, alegre, com a cidade arrumada e os blocos pela cidade. Tivemos na Semana Santa um festival de food trucks e fiquei impressionado com a participação das crianças e das famílias. Isso dá à gente a certeza de que a população tem entendido as coisas com muita clareza.

Tribuna – Ser o coordenador de governo acarreta certa sobrecarga. É muita coisa para saber e coordenar. Como é seu processo de liderar?

Veníssius – O secretário de Governo é um facilitador. Não é um grande coordenador que tem que dar resultado de todas as demandas. Tenho que exercer um papel de cobrança porque a gente, desde a transição, afirmamos que esse governo deve entregar eficiência e por isso temos que planejar, estabelecer metas e prazos. O secretário de Governo tem que facilitar, interagir e cobrar. Cada uma das secretarias tem metas e prazos e eu fico aqui cobrando, dizendo ‘não’ e às vezes dizendo ‘sim’. Alguém tem que fazer isso na gestão.

Tribuna – E é tranquilo para você exercer essa função?

Veníssius – Sim. Traz alguns dissabores, claro, porque cada um quer fazer o melhor, querem ter mais orçamento mas, às vezes, tenho que dizer ‘não’.

Tribuna – Com que frequência o senhor fala com o prefeito Fernando? Ele não fica muito tempo em Angra não?

Veníssius – Pelo menos cinco vezes por dia. O Fernando é muito presente. Eu fico aqui, claro, na tarefa de estar próximo do dia a dia e das cobranças mas o Fernando às vezes até me impressiona porque ele sabe mais das coisas que eu. Ele recebe demandas de muitas fontes e me cobra a todo momento. Mesmo quando ele não está fisicamente aqui, a gente se comunica sempre. Aliás, a gente já se fala tanto que eu já o conheço bem. E aprendi de um antecessor meu que a gente, às vezes, tem que pensar com a cabeça do prefeito.

Tribuna – As receitas da prefeitura estão melhorando?

Veníssius – Ainda não tivemos recuperação da receita. Esta é a tarefa delegada à secretaria de Fazenda, à Controladoria e alguma ajuda externa também para encontrarmos novas receitas e estimular o crescimento da arrecadação para equacionar as despesas do governo passado. O passivo é grande. Quem está de fora tem a impressão de que os problemas acabaram, mas não tem nada resolvido, apesar da expectativa muito grande na maioria das pessoas.

Tribuna – A negociação salarial dos servidores neste ambiente então está encerrada?

Veníssius – Nós dissemos isso com clareza ao sindicato dos servidores. Eu já os recebi aqui pelo menos uma meia dúzia de vezes; o secretário de Administração também e o prefeito também. E temos dito a todo momento que o prefeito, antes mesmo da posse, já deixou claro que este é um governo do servidor para o servidor. Acreditamos na necessidade de ter o servidor confiando na administração. Por mais crítica que as pessoas façam ao funcionalismo, eu entendo diferente. Os governos sofrem da falta de continuidade e de memória. Então a cada ciclo, se quer começar tudo de novo e isso é ruim. Acredito que se o servidor for valorizado e respeitado, ele dará sua contribuição. E nós temos notado isso, o quanto temos ganhado a simpatia e a confiança dos funcionários da prefeitura. Nós vamos tirar a cidade da situação ruim em que estamos sem o apoio do servidor e é preciso compreensão. Sobre o aumento, nós estamos além do limite constitucional com folha de pagamento e sob risco de ter as contas do gestor reprovadas então, não é questão de saúde financeira apenas, mas de legalidade.

Tribuna – Já dá para saber quais serão os projetos prioritários do governo até 2020?

Veníssius – A prioridade do governo é a Saúde. Desde o primeiro dia. Temos o desejo de implantar os serviços de radiologia e quimioterapia para evitar que as pessoas tenham que sair da cidade para tratamento e isso já está avançado. Talvez haja necessidade de enxugar um pouco a rede em algum ponto para dar eficiência em outro ponto. Está aí a UPA Infantil, o Hospital da Japuíba e sabemos que novos serviços são necessários. Nossas grandes metas neste governo são a Saúde boa e eficiente e recuperar a capacidade de investimento do município, que é fundamental. Não podemos ficar aqui preocupados somente com custeio. Estamos com o projeto de duplicação da avenida Ayrton Senna desde a Santa Casa até a entrada da cidade; vamos trocar toda iluminação do Centro para lâmpadas de LED e vamos refazer a entrada dos bairros, com alterações nas ruas e melhoria da mobilidade. Até dezembro nós queremos entregar uma cidade remodelada, limpa, iluminada e bonita.

Tribuna – Como o governo recebe as críticas relacionadas ao serviço público de Saúde?

Veníssius – Todas as reclamações que chegam aqui nos levam a uma apuração e a uma reflexão. São todas recebidas de forma muito natural. A população tem o direito de cobrar e o poder público tem o dever de apurar e responder. Sabemos que quanto melhores forem as entregas, mais demandas irão aparecer. Já fizemos este ano mais de 600 cirurgias no Hospital da Japuíba e isso são três vezes mais que todo o ano passado. Isso é evolução. Hoje, nas nossas unidades de saúde já não faltam mais medicamentos ou insumos e nem há unidades fechadas por falta de profissionais. Há problemas pontuais sim, às vezes de atendimento, falta de um profissional por motivo qualquer, enfim, isso pode acontecer, mas a Saúde de modo geral já avançou. As críticas são bem vindas porque a gente não passa a mão na cabeça do secretário ou de um servidor quando chega a reclamação, querendo transferir a responsabilidade para a oposição ou para quem reclamou. A gente não faz isso. A gente não foge do problema nem varre nada para debaixo do tapete.

Tribuna – O senhor tem fama de brigão e de dar broncas. Já te contaram isso?

Veníssius(risos) Olha nos últimos três ou quatro anos eu não tive nenhum rompante desses que as pessoas falam. Mas sei que algumas coisas depõem contra mim e uma delas é a forma como eu defendo as minhas opiniões, gesticulando muito, quem sabe. Mas há coisas que são pré-conceitos, de pessoas que nem me conhecem mas têm essa ‘impressão’ inicial. Sou muito vítima disso. Inúmeras pessoas dizem pra mim: “Veníssius eu tinha uma opinião tão ruim a seu respeito e você não é nada disso que as pessoas falam e eu via antes”. É muito frequente isso (risos). Eu me cobro muito mas eu tenho que cobrar também porque as funções que sempre me foram oferecidas são de liderança e chefia. Mas a meu favor eu tenho a fama de resolver as coisas e ser trabalhador.

Tribuna – O seu nome está à disposição para a eleição de deputado no ano que vem?

Veníssius – Está. Eu quero ser deputado federal. Não depende de mim e sim de uma série de fatores mas diferentemente do passado, agora eu quero. Nunca tive militância política para que não confundisse as coisas ou para dizerem que era para galgar espaço político. Nunca esteve no meu horizonte isso antes. Agora, depois de passar os últimos anos em Brasília e ver como funciona o Congresso e as comissões da Câmara, eu quero. É ali que o Brasil acontece e a gente pode mesmo mudar a vida dos brasileiros. Se eu tiver a oportunidade, eu vou participar.

Tribuna – Angra: o que significa para o senhor?

Veníssius – Tudo. Minha referência é aqui. Eu quero resolver os problemas da cidade. Cuidar do saneamento, despoluir o rio do Choro, limpar a praia do Anil, enfim. Aqui eu fiz a minha vida, casei, tenho meus dois filhos. Tudo que eu tenho foi Angra que me deu.

Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre.

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