Vereador José Augusto: Câmara não é ‘quintal’ do prefeito

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Eleito pela primeira vez em 2016, o vereador José Augusto (MDB) surpreendeu muita gente ao ser eleito presidente da Câmara de Angra dos Reis por unanimidade. O mandato dele como presidente termina este ano com um saldo positivo, segundo crê.

Ora crítico do prefeito Fernando Jordão (MDB), ora aliado de primeira hora, José Augusto desperta atenção de todos os lados por isso. Nesta entrevista exclusiva ao Tribuna Livre, ele deu pistas de como será sua atuação nos próximos dois anos. Confira:

Que avaliação o senhor faz dos primeiros dois anos desta legislatura?
José Augusto — Minha avaliação é a melhor possível. Gostaria de poder fazer um pouco mais, mas a gente faz dentro das nossas possibilidades, da realidade da Casa e também do tempo que nós temos que são dois anos.

Fizemos muitas coisas importantes, tanto nas questões palpáveis, como o novo prédio em que estamos, um lugar que conseguiu unificar o Poder Legislativo de uma forma mais econômica, mais digna para os servidores e também para aqueles que vêm aqui, que são os cidadãos. Antes não tinha acessibilidade, não tinha banheiro, não tinha nenhum tipo de estrutura e os funcionários ficavam até no meio do mofo.

E também destaco as coisas não tão palpáveis, mas que acho importante, como a gente ter acabado com os votos secretos, fizemos auditoria nos contratos e pela primeira vez empresas devolveram dinheiro para a Câmara e nós estamos conseguindo fazer uma gestão muito mais eficiente com economia, ou seja, menos gasto e mais eficiência no Poder Legislativo angrense. Creio que foi um período muito positivo e de conquistas.

Mas há quem diga, vereador, que seus colegas não tiveram protagonismo. Sobretudo porque não há oposição. O senhor concorda que os vereadores foram um pouco ‘mansos’ em relação ao governo do prefeito Fernando Jordão?
José — Eu concordo em parte. Porque nós, os 14, (vereadores) entramos com certeza e acreditando no prefeito. Acho isso muito bom porque também, oposição por oposição somente eu acho ruim, porque é aquela que simplesmente é contra tudo. Isso não faz bem para a cidade.

Agora é claro que a avaliação dos vereadores com relação ao que vem sendo feito pelo governo municipal foi uma até a presente data e daqui para a frente, com certeza, será um pouco diferente. Aquela história de falar, de botar na conta do governo passado, já não dá mais. Já deu tempo para botar a casa em ordem e começar a fazer aquilo que eles querem fazer. Daqui para a frente aquilo que foi feito ou aquilo que for malfeito a culpa é do atual governo.

Sobre a visão da população de não ter visto muitas discussões desde o início do mandato, eu venho conversando bastante com os vereadores para que a gente possa fazer nesta Casa, não um circo e sim uma Casa de leis e que faça a fiscalização ficar brava. Tenho certeza de que as discussões vão se acalorar mais, até porque agora não tem mais como a gente botar a culpa em nada mais no governo passado.

O senhor prevê uma postura mais crítica então, a partir de agora?
José — Acredito que os vereadores tenham a responsabilidade de saber que estão aqui fiscalizando uma cidade que tem um orçamento de um R$ 1,15 bilhão e que nós temos a responsabilidade de fazer com que essa cidade se desenvolva. Não é ficar batendo palma para tudo e muito menos sendo contra tudo, eu tenho certeza de que as discussões mais sérias já começaram, como foi o caso do ‘Passageiro Cidadão’, que teve uma discussão muito grande e onde eu acho que o governo fez de uma maneira muito errada. Acho que não era a hora e acho que não era a vontade do Governo, tanto que nem o PPA (Plano Plurianual) tinha qualquer previsão disso.

Quando a gente tem vontade, a gente planeja e não manda um projeto que vem para a Câmara totalmente vazio. Não podemos fazer politicagem para tapar buraco no que foi caso desta versão do ‘Passageiro Cidadão’, para tapar o buraco causado pelo aumento das passagens de ônibus na cidade.

E o senhor em que campo está? Oposição, governo? Às vezes é difícil decifrar a sua postura…
José — Vou falar sobre o meu campo, já que o próprio prefeito falou que às vezes eu mordo, às vezes eu cobro né?! Eu estou no ‘campo da justiça’, porque eu não posso chegar no Hospital Geral da Japuíba hoje e falar que não melhorou. Mas eu não posso chegar nos equipamentos de saúde primária, dos postos de saúde, e falar que está da mesma forma, não está. Está horrível!

Não posso falar que uma atitude como a do prefeito de aumentar a passagem na véspera de um feriado por meio do Boletim Oficial, algo que funcionava lá atrás, hoje em dia não funciona mais por causa da Internet. Não dá mais para ser desse jeito, eu não posso aplaudir.

Se o que ele fizer estiver a favor da população, de uma forma digna e justa, eu vou estar do lado dele. Aquilo que não for, eu vou ser crítico. Se ele não entender estas críticas como construtivas, aí o problema vai ser dele, não é mais um problema meu.

No dia 4 de dezembro haverá eleição do novo presidente da Câmara. Houve alguma mudança no seu apoio ao vereador Helinho (PSB)?
José — Não tem nenhuma mudança. Você que acompanha a política há muitos anos, sabe que a coisa é dinâmica. Escutei de um amigo que a ‘política é igual a uma nuvem. Em um momento você acha que ela está aqui, em outro momento ela está lá’.

Eu faço parte de um grupo e se for falar por aqueles que votaram em mim, eu tive voto dos 14. Eu não tive voto de apenas oito. Não é diferente com a composição que está sendo feita agora. Ganha quem tem a maioria. No caso, o vereador Helinho hoje tem a maioria sem precisar do voto vereador José Augusto. Agora foi um convite que o vereador Helinho me fez, eu fiquei lisonjeado e aceitei fazer parte dessa nova Mesa Diretora, na primeira secretaria, que é a responsável pelas pautas na Casa.

O prefeito Fernando Jordão está interferindo na eleição da Mesa Diretora?
José — Eu acho que essa história de o prefeito interferir na eleição da Mesa Diretora é o cúmulo né? Significa a gente botar ali que a Câmara é o quintal do prefeito. E não é nem o quintal da frente, é o quintal dos fundos, aquele que fica largado e onde ele joga as coisas velhas dele lá dentro.

Quem vota para a Mesa Diretora é vereador. Eu não tive ajuda do prefeito para ser escolhido presidente e tenho certeza que nenhum dos outros vereadores precisa disso, muito pelo contrário. Eu acho que se o prefeito colocar a mão, é capaz de desandar. Esta nova Mesa Diretora vai ser resolvida entre os 14 vereadores sem nenhuma interferência do prefeito.

“Essa história de o prefeito interferir na eleição da Mesa Diretora é o cúmulo. É dizer que somos o quintal do prefeito”.

Em 2019, já fora da Presidência, qual será a sua agenda legislativa até o fim do mandato?
José — Eu vou continuar trabalhando. Vou concorrer à primeira secreta-ria da Câmara, que é a que fica responsável pelas pautas. E quero continuar fazendo parte dos trabalhos da Mesa Diretora, principalmente desta área que são as pautas, que são os projetos, que é a parte mais importante que nós temos aqui dentro do município.

E quero ficar de olho naquilo que eu acho que tem que ser feito, que não é fazer obra em véspera de eleição, que não é botar asfalto onde já tem. Em 2018, em Angra dos Reis, tem gente que não tem asfalto, pisa na lama e pisa no barro. Também quero ficar de olho nas PPP’s (Parcerias Público Privadas) que foi um projeto que eu barrei lá no começo (em 2017) que tava liberado com as portas escancaradas e hoje vai ter que passar uma por uma para ser discutida na Câmara.

Vejo muita gente falando sobre PPP e se a prefeitura esqueceu, eu vou lembrar a eles desta questão, já que eles gostam de esquecer das leis que a gente faz. Agora, portanto, faz parte da lei orgânica esta notificação, uma por uma, as PPP’s têm que passar pela Câmara.

No mais o meu trabalho vai continuar sendo da forma que eu venho fazendo. Desde que eu ganhei a eleição, eu nunca saí da rua. Meu parâmetro de trabalho não é aquilo que eu fico tentando buscar ou que eu pego no Whatsapp. Eu tô na rua (sic), eu vejo as necessidades que as pessoas me falam ou que me pedem e eu fico antenado no que acontece no Brasil inteiro e no mundo. É claro que tem coisas que vale a pena a gente copiar, que são as coisas bem feitas. Isso a gente trás para cá também, claro que ajustando para a nossa realidade.

O senhor deu a entender, durante o debate sobre o Passageiro Cidadão que o prefeito teria cometido crime de responsabilidade. Foi um alerta ou tem algo mais além disso?
José — Foi um alerta que serve para todos, principalmente para o prefeito. Na Câmara ele tem amigos, mas essas pessoas que lá estão, devem ter a responsabilidade e principalmente representar bem àqueles que os colocaram lá. Não só em relação ao ‘Passageiro Cidadão’ como promessas não cumpridas e qualquer lei, inclusive até coisas que recentemente eu venho cobrando resposta que são os requerimentos de informação.
Requerimento de informação não é uma ‘cartinha’ que o vereador manda e o prefeito responde se quiser. Não respondeu no prazo, é crime, é crime de responsabilidade. Agora se isso vai gerar um pedido de impeachment cada um sabe das suas responsabilidades e ele sabe das dele. Eu sei da minha.

E 2020? Ainda é cedo mas o senhor considera ser candidato a prefeito de Angra?
José — Eu jamais esperaria ser o vereador mais votado nas eleições de 2016 e eu fui. Trabalhei para isso. Agora com relação a 2020 é a mesma coisa, tenho um mandato para exercer então eu não preciso estar na rua sendo ‘pretenso candidato’ a isso ou aquilo. Eu quero continuar fazendo um bom trabalho e lá na frente a gente vai ver.

Olha, para ser prefeito, governador ou para senador, o que vale são as pesquisas. Se chegar lá na frente e as pesquisas disserem que será bom, vamos ver o que é que a gente vai fazer.

“Se ele não entender as críticas como construtivas, aí o problema vai ser
dele, não é mais um problema meu”.
(Sobre críticas ao prefeito de Angra)

Agora uma coisa eu já te adianto: jamais faria qualquer tipo de campanha denegrindo imagem de A ou B, inclusive a do prefeito. Eu não tenho nada contra o prefeito, muito pelo contrário, tenho carinho por ele, respeito ele. Fico até chateado com certas coisas que eu acho que deveria ser recíproco. Mas isso dai é coisa que a gente não escolhe.

Vou continuar minha conduta de estar trabalhando certo, de estar fazendo aquilo que eu concordo, dentro do meu caráter e o que tiver que ser, em 2020, ainda ficamos na dúvida. O futuro a Deus pertence. Descartado eu te garanto que nada está.

Fotos: Divulgação / CMAR

Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre (nº 233).

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