O ex-prefeito de Paraty, Casé Miranda (2013/19) (ao centro na foto), passa boa parte do tempo hoje fazendo cachaça. Não tivesse havido o afastamento em 2019, Casé estaria concluindo o mandato em dezembro. Nesta entrevista, por meio de mensagens, Casé diz não ter se arrependido das decisões que tomou e pontua que, em 8 anos, a cidade passou pelo que ele chama de ‘revolução’ no campo das ações públicas de governo para todos. A entrevista foi concedida antes do resultado da eleição municipal. A seguir os principais trechos:
Há 8 anos o senhor venceu a prefeitura pela primeira vez (em 2012). O que mudou na cidade desde então?
Casé — Paraty tinha muitos problemas de infraestrutura quando assumimos em 2013. Foram vários os ganhos para a população desde então, mas posso acentuar que o que mudou mesmo foi a melhor estrutura e as políticas públicas que a gente conquistou.
Paraty hoje tem água tratada. Não falta mais água aqui. Fizemos duas estações de tratamento e ampliamos a capacidade de fornecimento, criando a adutora do Corisco. Água é fonte de vida e isso foi muito importante. Outra ação foi levar a eletricidade para as comunidades mais afastadas, as vilas caiçaras e da Zona Costeira. Foi um ganho muito grande porque era uma obra muito difícil de ser feita. Junto com o governo federal e a prefeitura, fizemos esta obra importante.
O Hospital Hugo Miranda (foto) é muito significativo também. O hospital que a gente fez organizou o sistema de atendi-mento hospitalar no município. A gente não tinha um equipamento para centralizar os atendimentos. Hoje isso dá para Paraty uma melhoria muito grande na área da saúde. Nós dependíamos muito de Angra dos Reis, dependíamos muito de Guaratinguetá (SP) e hoje Paraty já é um município que consegue resolver uma grande parte os problemas de saúde da população.
Melhoramos a infraestrutura turística, em parcerias com a Eletronuclear e o Governo do Estado. Conseguimos viabilizar a estrada Paraty-Cunha, a nova rodoviária, o Centro de Informações Turísticas, o cais do pescador, o mercado de peixe… foram muitas áreas em que a gente atuou com estrutura. E criamos o cinema. Hoje Paraty tem um cinema público e são poucas cidades do Brasil que tem. Aliás, eu nem sei se tem, mas acho que são poucas.
Paraty não tinha nem um lugar para velar os seus entes queridos. Até o Velório Municipal a gente teve que fazer! Foi este o trabalho de infraestrutura que a gente fez. E com outras políticas, a gente conseguiu ter um atendimento de saúde, por exemplo, que deixou de ‘depender do amigo político’. A Educação avançou muito com a merenda de qualidade, o uniforme e a reforma de todas as escolas, além do acesso à creche que quando nós entramos eram pouco mais de 150 vagas e hoje são mais de 1.200 crianças em creche. Foram avanços que a gente implementou nestes anos que foram uma revolução.
Qual mudança é a mais importante? Por que?
Casé — Eu poderia falar muito mais de mudanças. A mudança mais importante foi a maneira de olhar a prefeitura. Nós fizemos política para o coletivo. A gente vinha de anos, de décadas, da política feita só para o individual. Durante o meu mandato de seis anos e meio busquei muito fazer pelo coletivo. Fazer para a população mais pobre.
Conseguimos fazer com que a educação melhorasse muito e isso foi um grande ganho. Eu sei que o reflexo disto é demorado, mas isto vai surtir efeito lá na frente, né? O grande ganho foi fazer política para o coletivo: uma política para todos.
Após o seu afastamento da prefeitura, o senhor disse que não tinha arrependi-mentos. Ainda pensa assim?
Casé — O afastamento em 2019 realmente não foi agradável, até mesmo porque foi por um motivo que até nos orgulha. Fomos cassados porque tentamos dar escritura ao povo da Ilha das Cobras, da Mangueira e da Patitiba. É um povo que está ali há mais de 60 anos e tem todo o direito de ter o seu título da terra, né? Mas infelizmente, em Paraty a oposição não tem este pensamento pelo coletivo. Eles pensam única e exclusivamente neles. Eles não observaram isso, que o direito estava sendo garantido principalmente para o povo mais humilde ali na Ilha, Patitiba e na Mangueira. Então não tem arrependimento.
É lógico que eu gostaria de estar terminando o mandato sem interrupção para terminar as coisas que ainda faltavam ser feitas. Mas não me arrependo de nada não. Deus faz tudo na hora certa. Eu tô muito feliz que conseguimos eleger o Vidal em 2019 e que ele tem dado continuidade aos nossos serviços. Infelizmente pegou uma pandemia e isso atrapalhou não só ao Vidal, mas a todos os gestores.
Não tenho arrependimento nenhum e eu tenho sim a satisfação de ter tido a oportunidade de melhorar meu município. Sei que muito das vezes a gente não consegue fazer tudo na vida, gostaria de ter feito muito mais, mas eu quero dizer aqui que eu me sinto muito satisfeito por ter tido a oportunidade de ser o prefeito da minha cidade.
O que o senhor está fazendo fora da política? Como é sua vida?
Casé — Eu tô cuidando das minhas coisas (risos). Cuidando da minha família, dos meus negócios e fazendo cachaça, porque é uma coisa que, além de me dar rendimentos, me dá muito prazer. A cachaça de Paraty não é simplesmente um destilado. Envolve muita coisa como cultura e tradição. E isso dá um prazer muito grande. Gosto de sítio também, então eu tô ajudando o meu irmão que é meu sócio e a minha mulher no restaurante dela e lá nas lojas e tocando a vida. A vida da gente continua. Não tenho mais cargo mas eu continuo fazendo política do dia a dia. A vida da gente, de todo mundo, é sempre com a política. Eu vejo assim.
Como o senhor espera que esteja Paraty no futuro, talvez daqui a 5 ou 10 anos? O que falta conquistar?
Casé — Paraty ainda é uma cidade com problemas, mas, em vista de outros lugares, a gente ainda mora no paraíso. Espero que a gente tenha diminuição da violência, com investimentos principal-mente na área de educação e geração de empregos. Espero que a questão do meio ambiente seja uma prioridade para mais gente. Precisamos fazer separação de lixo, por exemplo. A gente tem que começar a ver esta política de cuidado ambiental para o futuro. Precisamos estar à frente disso.
Espero que Paraty esteja cada vez com melhor infra-estrutura, porque isso é muito importante para dar qualidade de vida para as pessoas. Nos próximos dez a vinte anos, quero estar aqui para curtir a nossa cidade que é tão maravilhosa. Obrigado.
Fotos: Arquivo / 2018
Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre (nº 301)
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