O Estado do Rio de Janeiro é governável?
Márcia — Sim. O atual desgoverno esconde, na realidade, um projeto político que tem por objetivo explorar o povo e lucrar com o caos, o medo, o sucateamento dos serviços públicos e a violência. Pense na indústria da segurança que necessita do medo da população. Ou nos planos de saúde que, além de bancar campanhas eleitorais, dependem de uma saúde pública sucateada. Para cada família que sofre as consequências desse desgoverno, alguém está lucrando. Nosso governo vai romper com esse marco de poder, típico dos governos do PMDB e do DEM.
Tem alguma prioridade? O próximo governo deve começar por onde?
Márcia — Nossa prioridade é a melhora rápida da qualidade de vida da população. Para tanto, nosso projeto de governo prevê ações integradas envolvendo diferentes áreas, como a educação, a saúde, a segurança pública e a geração de empregos. Precisamos racionalizar gastos para poder investir e recuperar a economia fluminense. O desafio é imenso, mas nosso plano de governo é não só factível como também pautado nas experiências que deram certo no Brasil e no exterior. Iremos, por exemplo, implementar o Mais médicos estadual, o Mais Família e o Segunda Chance, programas que melhorarão a qualidade e aumentarão a renda das famílias. Convido todos os leitores para conhecerem as nossas propostas para resgatar o Rio de Janeiro.
O que a população do Rio têm pedido como prioridade?
Márcia — A população do estado do Rio perdeu qualidade de vida, desde o início do governo Temer, de forma muito rápida. De modo geral, as pessoas com quem converso sentem saudades do governo Lula e de uma política econômica que respeitasse a população. Um grande número de homens e mulheres pedem oportunidades de trabalho e estão preocupados com a segurança. Outros, em menor quantidade, sentem-se humilhados, sem esperança e querem fazer apostas em soluções mágicas e sem compromisso com a democracia. Aliás, esse parece ser o quadro para as próximas eleições: civilização versus barbárie, democracia versus autoritarismo.
É um tempo de desânimo com a política. Há uma parcela grande do eleitorado que nem quer votar. Dá para convencer o eleitor a confiar nos políticos?
Márcia — O desânimo é natural diante do que é feito no estado. Precisamos resgatar a política, entendida como instrumento de transformação e, para isso, é necessário investir em educação e cultura. Sem informação de qualidade, as pessoas votam em qualquer charlatão ou mistificador. Quem conhece, por exemplo, a dívida deixada por Paes na prefeitura da cidade do Rio? Quem sabe a natureza das ações a que responde o Romário? As eleições são a chance de dar uma resposta ao golpe, aos golpistas e às agressões produzidas pelos exploradores da população brasileira. Diante da crise da democracia, devemos responder com mais democracia. Devemos votar em candidatos comprometidos com os direitos fundamentais que, por definição, são obstáculos ao arbítrio e à opressão.
O PT caminha isolado na disputa. Como é que um eventual governo seu faria composições para ter apoio na Assembleia Legislativa?
Márcia — Vamos governar para o povo e, sobretudo, com o povo. Aliás, é sempre bom frisar para quem ainda não me conhece que sou uma professora, forjada nas camadas populares e não tenho qualquer compromisso com os super-ricos que são favorecidos pelo atual marco de poder. Faremos, verdadeiramente, uma gestão democrática. E do lado e com apoio do povo, fica mais fácil formar consensos na Assembleia em torno de pontos fundamentais para o governo. Sou uma pessoa que prega o diálogo a partir de princípios. Não terei dificuldade de conversar com outros partidos e movimentos do campo democrático.
As mulheres serão protagonistas na eleição? Mas o interesse delas pela Política ainda não é tímido?
Márcia — Muitas mulheres ainda não perceberam que juntas seremos capazes de fazer do Brasil um país muito melhor e mais justo para todos e todas. O feminismo, tão demonizado por alguns, não passa da necessária politização da mulher, do reconhecimento de que nós somos agentes políticos fundamentais para mudar o estado e reduzir a desigualdade, inclusive a desigualdade doméstica, ou seja, o tratamento desigual que se dá na divisão de funções dentro das nossas próprias casas.
Que ideias a senhora teria para a Costa Verde fluminense? Cidades como Angra e Paraty sofrem com a violência, a desordem urbana e a pouca valorização do turismo. O que pode ser feito para reverter esta situação?
Márcia — Acompanho de perto o drama da Costa Verde, e não é de hoje, pois a família do meu marido tem um apartamento em Mangaratiba. A região é importantíssima tanto no aspecto econômico, com destaque para o setor naval e o turismo, quanto no aspecto estratégico, por sediar usinas nucleares. Sem dúvida, a Costa Verde precisa ser melhor tratada pelos governos estadual e federal.
O aumento da violência, em especial na cidade de Angra dos Reis, cujos índices de criminalidade são muito preocupantes, é consequência direta de uma política estadual de segurança pública equivocada, que buscou priorizar a zona sul da cidade do Rio, e nem isso conseguiu. A política de segurança conduzida pelo PMDB gerou deslocamento da criminalidade para o interior e o sucateamento das polícias em quase todas as cidades do estado. Vamos responder a isso com planejamento e um plano integrado que passa por investimentos em tecnologia policial, treinamento dos agentes públicos, planejamento das ações policiais, estrangulamento financeiro das organizações criminosas, tudo isso somado a investimentos em educação e cultura nas regiões mais afetadas pela violência.
A crise econômica, por sua vez, é fruto da opção política do governo Temer de favorecer o setor improdutivo, o rentismo, o sistema financeiro, em detrimento dos setores produtivos. Por isso o lucro dos bancos aumenta enquanto as indústrias e as lojas fecham. Em todo o estado do Rio, postos de trabalho digno desaparecem. O setor naval foi desarticulado, o que gerou empregos na China e não na região. Da mesma maneira, desapareceram os investimentos em infraestrutura, com grandes prejuízos para o setor da construção. Com a eleição do professor Fernando Haddad (candidato a presidente pelo PT), os investimentos voltarão para o estado do Rio, o que gerará empregos e melhorará a qualidade de vida dos cidadãos. Se vencer algum outro candidato, teremos que ser ainda mais criativos para, sem onerar o trabalhador e a trabalhadora, gerar as receitas necessárias tanto para investir e dinamizar a economia do estado do Rio quanto para oferecer serviços públicos de qualidade.
(*) Publicado antes na edição impressa nº 227 do Tribuna Livre.
Fotos: Divulgação / Andrea Nestrea