Por Klauber Valente (*)

Analisar o sobe-desce dos políticos e partidos depois de uma eleição é um exercício de observação peculiar. Leva-se em conta os dados que acabaram de sair das urnas, mas também o desempenho anterior do analisado e a sua perspectiva de futuro. A expectativa de poder é o que move as disputas eleitorais no país. E no interior não é diferente.

Na eleição deste domingo, 7, no entanto, além dos valores e situações tradicionais, um fator extra entrou em campo: a negação da política como instrumento de mudança. Candidatos que se apresentaram como ‘novidade’, mesmo que não o fossem; ou os que pregaram a anti-política contra ‘tudo o que está aí’ acabaram beneficiados por um sentimento de raiva da população e engoliram mais de um terço dos votos. É neste contexto que a balança política da Angra que saiu das urnas ficou assim:

SOBE (quem ficou mais forte)

1. Veníssius Barbosa (PRP)
O ex-secretário de Governo de Angra ficou distante de ser eleito para o Congresso mas estreou bem em sua primeira disputa majoritária. Nas semanas antes da eleição já fazia campanha sem as credenciais de aliado do prefeito Fernando Jordão (MDB). Com 13,3 mil votos entre os eleitores da cidade, é uma liderança a quem não se pode mais ignorar. Tem tirocínio político, articulação fora da cidade e capacidade de liderar.

2. Vereador José Augusto (MDB)
Ele usou sua influência local na campanha de um desconhecido à Câmara dos Deputados. O ex-prefeito Luiz Antônio (DC) foi o único deputado federal eleito pelo partido no Brasil e em Angra teve mais de 1,1 mil votos. O filho dele, André Corrêa (DEM), também teve a eleição assegurada para a Assembleia estadual. José Augusto se beneficiará destas relações até 2020 quando pode disputar a reeleição ou dar outro destino à sua carreira.

3. Vereador Canindé (MDB)
Outro vereador angrense que preferiu apoiar não um, mas dois candidatos de fora da cidade, ajudando a eleger os dois. Dr. Luizinho (PP) foi eleito deputado federal com 1,1 mil votos em Angra, majoritariamente puxados por Canindé. Há quem aposte no vereador como tertius para a disputa da Mesa Diretora da Câmara no biênio 2019/20. Sai fortalecido.

4. PSC/Angra
Os vereadores Léo e Flavinho, ambos do PSC, colaboraram para a reeleição do deputado Gustavo Tutuca (MDB) (foto), que foi um dos mais votados na cidade (2,5 mil votos). Além disso, o candidato da legenda ao governo do Rio, Wilson Witzel, virou o favorito para vencer no segundo turno. Se confirmada a vitória, os dois vereadores podem ampliar sua presença em áreas que já ocupam como o Detran/RJ e a Fundação de assistência social Leão XIII.

FICOU IGUAL (do mesmo tamanho)

1. Christiano Alvernaz (PRB)
O médico servidor público em Angra dos Reis ficou do mesmo tamanho. Há dois anos ele causou frisson como segundo colocado na eleição para prefeito com 10 mil votos. Agora teve pouco mais de 7,7 mil numa disputa mais complicada, de fato. Manteve, portanto, seu capital eleitoral para uma nova tentativa de eleição a cargo público em 2020.

2. Célia Jordão (PRP)
Com 12,9 mil votos em Angra em sua primeira eleição, a primeira-dama de Angra teve um desempenho bom, porém aquém do esperado pelos aliados do prefeito Fernando Jordão. Célia é dependente da performance de Fernando. Se ele estiver bem, ela se sai melhor.

3. Vereadoras angrenses
As três vereadoras angrenses dividiram-se na disputa para deputado federal. Separadas tiveram desempenhos razoáveis, sem muito destaque. Apenas Soraia Santos (PR), apoiada pela vereadora Jane Veiga (MDB), foi eleita obtendo 1,7 mil votos em Angra.

4. Ex-vereador José Antônio e aliados
O deputado estadual de fora de Angra mais votado aqui foi Jorge Felipe Neto (PSD). Ele foi reeleito com 2,7 mil votos na cidade. Entre os coordenadores da campanha estavam os ex-presidentes da Câmara, José Antônio e Fiote Rabha, além do ex-secretário de Esportes, Gustavo Soares e do vereador Canindé. É um grupo coeso que, se mantiver-se organizado, pode chegar a 2020 com projetos próprios.

5. Tiago Prates (PSC)
O jovem teve 1.987 votos na cidade para deputado federal. Há dois anos ele foi um bom cabo eleitoral na disputa para vereador. Se quiser, em 2020, pode tentar ele próprio a vaga na Câmara. Seu partido corre o risco de vencer a disputa pelo Governo do Rio.

DESCE (saem enfraquecidos)

1. Fernando Jordão (MDB)
O prefeito de Angra dos Reis é o maior derrotado da eleição. Há dois anos, Fernando teve uma votação avassaladora para prefeito e não conseguiu reverter este apoio aos seus dois candidatos preferidos (Célia e Veníssius) (foto). Também não conseguiu unir os vereadores em torno do mesmo projeto, já que alguns tinham interesses pessoais na disputa. Para piorar, o único candidato a governador a quem Fernando não fez aceno na campanha, o juiz Witzel (PSC), é quem lidera a disputa no segundo turno. A tarefa do prefeito agora é reorganizar a base de olho em 2020.

2. Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL/Angra)
A entidade que representa o comércio e os comerciantes não tem força nenhuma na cidade. O candidato identificado com a categoria, Essiomar Gomes (PP), teve 3,3 mil votos e a campanha ‘vote em candidatos de Angra’, liderada pela entidade, foi um fracasso. Mais de 70% dos angrenses votaram em candidatos de outras cidades.

3. Luiz Sérgio e o PT
Foi mais um golpe forte no partido na cidade. O desempenho da legenda no Estado foi fraco, elegendo apenas um deputado federal e a não reeleição do deputado federal Luiz Sérgio torna-se um marco indicando a necessidade de reorganização da legenda com vistas a 2020.

(*) Klauber Valente é jornalista e editor do Tribuna Livre.

Fotos: Reprodução

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