Se alguém apostava que a intervenção dura do ex-prefeito Fernando Jordão (2001-08) na política local, patrocinando e dando o discurso político para o recém-criado Partido da Social Democracia (PSD), deixaria o prefeito Tuca Jordão (PMDB) em situação difícil, ou numa condição de fragilidade para a disputa da indicação de seu partido para uma candidatura à reeleição, pode estar tendo que refazer as previsões neste momento. Atento à tentativa de reduzir suas chances no processo eleitoral do ano que vem e, pior que isso, a uma espécie de ‘golpe’ no PMDB local para tirar-lhe a preferência na disputa, Tuca reagiu e, nas duas últimas semanas, empreendeu a si mesmo e ao Governo, uma nova agenda que demonstra sua vontade de participar do processo eleitoral como protagonista e não espectador.
As ações e, melhor que isso, os ‘recados’ são muito claros e começaram quando Tuca decidiu demitir seus colaboradores diretos que migraram para o novo PSD, apesar do apelo que teria sido feito para que não o fizessem. Foram cortadas, sem cerimônia, as cabeças da secretária de Ação Social, Jane Veiga, de sua sub, Neuza Nardelli, e do subsecretário de Atividades Econômicas, José Augusto, todos afilhados políticos de Fernando. Houve reclamações, queixas e muito desespero, mas Tuca manteve-se impassível. Teria avaliado com assessores que a ação dos demitidos, o fragilizava politicamente. Maior estrela do PSD, o vereador Aguilar Ribeiro (ex-PCdoB) legou ao seu mais novo adversário, o presidente da Câmara, Dr. José Antônio Gomes (PCdoB), a ‘responsabilidade’ pelo endurecimento de Tuca.
– O presidente da Câmara hoje manda no prefeito de Angra. E ele o está conduzindo ao erro – disparou Aguilar durante sessão da Casa, no dia seguinte ao anúncio das demissões.
E Tuca foi além. Nomeou para o lugar de Jane, um ‘amigo’ de muitos anos, pessoa de sua extrema confiança, o empresário Valtinho, que já assumiu a pasta. Para coordenar as Atividades Econômicas irá um indicado do mesmo PCdoB. Provavelmente o presidente da legenda na cidade, Aurélio de Moura.
Os demais partidos da aliança que sustenta o Governo entenderam a situação e emudeceram. Sabem que Tuca ainda ‘tem a caneta’ e não ousam desafiá-lo. Não até o momento em que tenham a certeza de que ele poderá não ser o candidato.
Convidado pelo Tribuna Livre, o presidente do PMDB/Angra, Marcos Silva, esquivou-se de dar informações sobre a confusão Tuca x Fernando. Pediu tempo e disse que conversaria antes com Fernando. Negou, porém, ao telefone, que haja divergência entre os dois caciques.
– Isso é mais uma intriga feita pela Imprensa e por gente que não conhece o PMDB. Não há confusão nenhuma – disse Silva.
Da parte de Fernando Jordão, também não ouviu-se palavra alguma a respeito da política angrense. Ele e Tuca encontraram-se em Brasília mas não teriam debatido a situação. Aliados queixaram-se que o silêncio de Fernando deu mais forças a Tuca.
Ações – A reação de Tuca envolveu também o Governo. Em duas frentes, é nítido o esforço de Tuca de tornar-se um candidato viável para a população e a cúpula do PMDB. O primeiro lance foi o aumento da presença do prefeito em eventos públicos. Em duas semanas, Tuca visitou obras na Grande Japuíba e esteve com moradores dos condomínios populares do bairro, inaugurados há três meses. Também foi visto na manifestação dos estudantes do Colégio CEAV e comprometeu-se com o grupo a defender os interesses da comunidade escolar agradando estudantes e pais. Um passo e tanto para um prefeito que, desde o início do mandato não participara de nenhuma manifestação pública na cidade.
O lance mais visível da mudança porém está exatamente num dos pontos mais frágeis da administração: o transporte. Com grande parte do efetivo da subsecretaria de Transportes em campo, Tuca determinou uma fiscalização sobre a concessionária local de ônibus para checar denúncias dos usuários e melhorar a qualidade do serviço. Na semana passada presenciou a entrega de 20 novos ônibus (foto).
A população, claro, está aprovando, o que pode dar a Tuca mais força para enfrentar seus adversários da oposição e, principalmente, os do seu próprio grupo de aliados.
Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre.
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