Drops Político: Por que Bolsonaro pode embolar a disputa eleitoral em Angra?

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Bolsonaro levou Renato Araújo (D) para o PL | Foto: Reprodução

Nas próximas duas ou até três semanas, Jair Bolsonaro será o tema de três entre três conversas sobre a política em Angra dos Reis. Desde que foi anunciada a presença do ex-presidente em sua casa na Vila Histórica de Mambucaba, para uma temporada de ‘férias’, um sem número de imagens, vídeos e postagens inundam as redes sociais. Para completar, Bolsonaro escolheu o recesso para uma reunião política neste domingo, 7, em que deve apresentar aos apoiadores o jovem empresário Renato Araújo que poderá vir a ser candidato a prefeito na eleição de outubro. A presença física de Bolsonaro em Angra e os sinais que ele emite para seu eleitorado fiel, podem sim, embolar a disputa eleitoral na cidade. E eu explico a seguir, o por quê:

No final de novembro passado, o ex-presidente fez sua primeira aparição em Angra. Aos gritos de ‘mito’ e ‘presidente’, desfilou por bairros e o Centro para delírio de uma centena de fãs, militantes e dirigentes políticos. A visita meteórica do ex-capitão era talvez um teste de receptividade de Jair Messias, visando a construção do processo eleitoral municipal de 2024. O ex-presidente parece ter visto que valia a pena seguir, e dá o passo seguinte neste domingo.

Base — Há um ano, na eleição de 2022, o então presidente teve na Costa Verde a consagradora votação média superior a 70% do eleitorado. Apesar de pouco ou nada ter feito em favor das cidades da região, o ex-presidente tem seguidores. E eles não costumam questionar as ações dos seus políticos preferidos. É do alto desta popularidade que Bolsonaro crê poder influenciar, senão os 70%, ao menos a metade dos fãs, o que talvez colocaria um aliado seu, literalmente ‘na briga’ por uma prefeitura em que a disputa não exige segundo turno.

Nos bastidores da política angrense, o apoio do ex-presidente a um pré-candidato a prefeito pode ser determinante para alavancar uma candidatura ou fazer surgir uma nova liderança. Renato Araújo é um ilustre desconhecido. De sua atuação antes de aparecer ao lado de Bolsonaro em eventos, na casa de Neymar Jr., ou na posse do presidente da Argentina, Javier Milei, há um mês atrás, pouco ou nada se sabe. Mas como dito antes, não importa. Só a foto ao lado do ‘mito’ já o coloca no páreo, por incrível que pareça.

Neste sábado, 6, aniversário de Angra, Bolsonaro filiou Araújo no PL. O mesmo PL em que o prefeito angrense Fernando Jordão ainda dava as cartas. Jogo jogado. Jordão, que nos últimos cinco anos foi fiel contumaz a Jair, e até filiou a esposa no Partido Liberal para apoiá-lo, perdeu esta batalha. Recebeu em troca um grande nada. A legenda em Angra foi oferecida a um vereador ‘da base’, que declinou, e acabou dada ao advogado Walmir Servolo, que na eleição de 2020 estava no grupo político do ex-vereador Zé Augusto (Republicanos), outro adversário de Fernando.

MDB — O prefeito não é candidato. Não pode. Seu preferido é o secretário de Governo, Cláudio Ferreti, que optou pelo MDB para abrigar sua pré-candidatura. Sábio, deixou uma porta aberta à esquerda e ao centro e empurrou os ultradireitistas para um gueto. Pesquisas de opinião indicam que Fernando Jordão é o outro ‘grande eleitor’ da cidade, capaz de influenciar parte significativa do eleitorado e à frente de um governo com mais de 70% de aprovação. As simulações estariam dando a Ferreti ao menos 20% de saída na preferência daqueles que já sabem que haverá eleição este ano.

Oposição — Está na disputa também o empresário Veníssius Barbosa, que se abrigou no União Brasil, o maior partido de centro no país. Venissius tenta ocupar o espaço de quem resiste ao governo e resiste à ultradireita. Vai se tornando portanto, a opção de quem é oposição a Fernando e não é simpático a Bolsonaro. Por isso, no entorno de Veníssius já gravitam o PSD, do prefeito carioca Eduardo Paes, ‘pule de dez’ para reeleição no Rio, e legendas de centro-esquerda como o PDT e o PSB.

Na esquerda tradicional ainda há três pré-candidatos: Luiz Sérgio (PT), Jane Moté (PCdoB) e Rafael Ribeiro (PSOL). No ano passado, estas três legendas defenderam a eleição do presidente Lula e do então candidato Marcelo Freixo a governador. Freixo teve em Angra quase 20% dos votos, o que não é pouca coisa. Pode estar aí também um teto para o eleitorado de esquerda na cidade.

Resumindo, com a entrada firme de Bolsonaro na disputa política local em Angra e a sua presença física em eventos, redes sociais e no imaginário dos seus eleitores, a luz de alerta de quem deseja a prefeitura de Angra está acesa. Fernando Jordão ainda estaria tentando um ‘tertius’, espécie de acordo semelhante ao que foi feito em 2020, com o mesmo grupo de Bolsonaro, que acabou parindo o estabanado vice-prefeito Dr. Christiano Alvernaz (Republicanos). Todos os sinais de Bolsonaro e de seu grupo, no entanto, ainda indicam para ruptura entre o prefeito e o ex-presidente. Neste domingo, 7, saberemos, talvez de fato, qual o real interesse de Jair Messias no processo político angrense. A conferir.

(*) Klauber Valente é jornalista, editor do Tribuna Livre.

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