Pelos relatos, a causa principal deste apagão são os cortes de orçamento que vêm sendo feitos pelo governo do presidente Michel Temer (PMDB) na área de Ciência e Tecnologia e no próprio setor de energia. Um pouco em função disso, a Eletronuclear, que costumava adiantar os pagamentos à INB, neste momento acumula dívidas com a fábrica em Resende, onde se beneficia o urânio que é usado como combustível das usinas em funcionamento.
— As unidades de Angra têm papel fundamental no atendimento eletroenergético ao subsistema Sudeste/Centro Oeste. Caso (…) não estejam disponíveis será necessário despacho térmico em torno de 400 MW na área do Rio de Janeiro — diz um trecho de um ofício encaminhado pelo diretor do ONS, Luiz Eduardo Barata, ao secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Wilson Grütner.
Cortes no orçamento — O funcionamento pleno das usinas de Angra depende do combustível nuclear que é produzido pela INB. Já há alguns meses a empresa está impossibilitada de fazer a produção e o combustível que abastece os reatores da unidade voltou a ser importado. A crise atual preocupa o setor e pode comprometer até mesmo o desenvolvimento do ambicioso projeto nuclear brasileiro que inclui, além de Angra 3, a conclusão do primeiro submarino nuclear brasileiro, hoje em construção no estaleiro da Nuclep, em Itaguaí. Em debate recente na Conferência Internacional do Atlântico Nuclear, em Belo Horizonte (MG), o tema foi trazido a público pela primeira vez pelo presidente da INB, Reinaldo Gonzaga. Ele confirmou que a empresa não entregará a carga de combustível para Angra 2 se forem mantidos os cortes no seu orçamento. A empresa já não está mais beneficiando o próprio urânio e sim importando, apesar de o Brasil deter uma das maiores reservas do minério no mundo.
O presidente interino da Eletronuclear, Leonam Guimarães, que também estava no encontro na capital mineira, teria admitido o problema. E reclamado que os custos financeiros cobrados pelos bancos à empresa pelos sucessivos financiamentos para construir a usina Angra 3 podem atrapalhar o desenvolvimento da empresa nos próximos anos.
Uma solução tanto para o financiamento da INB e da própria Eletronuclear está sendo tentada em Brasília, com mudanças no Orçamento Geral da União. A Eletronuclear está endividada por causa do financiamento de Angra 3, cujos juros do empréstimo de R$ 3,6 bilhões começaram a ser cobrados em outubro.
Há pelo menos 15 dias, o Tribuna Livre tenta ouvir um posicionamento da empresa sobre a questão. O jornal enviou perguntas por e-mail e tentou contatos telefônicos sem sucesso até o fechamento da última edição impressa (14/11).
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No caso da Eletronuclear, o presidente Leonam Guimarães argumentou que, com a paralisação das obras de Angra 3 e a queda na cotação do real frente ao dólar, a estatal passou a sofrer um desequilíbrio econômico-financeiro que beira o ‘insuportável’. A Eletronuclear quer que seja suspensa o cobrança dos juros dos empréstimos feitos junto ao banco BNDES para a construção de Angra 3, além da revisão na tarifa da venda da energia produzida em Angra. O caso deverá ser tratado pelo Ministério de Minas e Energia e, no caso da INB, na comissão de orçamento do Senado.
Fotos: Reprodução
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Publicado antes na edição 197 do jornal Tribuna Livre.
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