Coronavírus: os primeiros sete dias na Costa Verde

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Fim da pandemia ainda não foi anunciado | Foto: Reprodução

É sexta-feira, 13 de março de 2020, após deliberar com um grupo de assessores sobre o avanço das notícias relacionadas à chegada do novo coronavírus ao Brasil, o prefeito de Angra dos Reis, Fernando Jordão (MDB), convoca os principais secretários e as autoridades públicas de educação e saúde (foto) para decidirem sobre as primeiras medidas para evitar que a doença chamada de ‘Covid-19’ chegue fortemente à cidade. As ações começam de forma relativamente brandas ante às que seguiriam nos dias à frente: suspensão das aulas por 15 dias e proibição de passeios náuticos e da entrada de turistas.

Fernando (C) anuncia medidas contra o coronavírus

No sábado, 14, dia seguinte à emissão do primeiro decreto municipal a respeito das medidas de contenção à doença, o trade turístico é informado das ações imediatas. Os passeios já agendados para aquele final de semana seriam proibidos. Uma agência apenas teve prejuízo de R$ 25 mil em um dia. Há um ensaio de reclamação pela falta de aviso prévio, que logo dá lugar à preocupação. Não é uma medida isolada e nem será temporária.

Na Ilha Grande, a notícia chega com uma preocupação a mais: a passagem dos dois últimos navios de cruzeiro da temporada 2019/2020. Alarmados, moradores chegam a organizar um ‘protesto’ para evitar que os passageiros desembarquem. Não é preciso. A própria prefeitura proíbe o desembarque. Mesmo assim, as pousadas e meios de hospedagem estão repletas de visitantes. Reservas começam a ser canceladas ou adiadas. A quarentena se espalha para outras regiões.

O domingo de sol, dia 15, ainda tem algumas praias lotadas e muita gente desatenta às recomendações que são repetidas à exaustão na TV: lave as mãos e evite contatos com outras pessoas!

Vidal, em Paraty, anuncia fechamento das escolas

Em Paraty, o prefeito Luciano Vidal (MDB) também decide o que fazer. Na segunda-feira, 16, ainda há aulas nas escolas públicas. Em vídeo nas redes sociais ao lado da secretária de Educação, Gabriela Gibrail (foto), ele destaca que a cidade não tem casos confirmados da doença. No fim da tarde, no entanto, opta também pela precaução: escolas fechadas por 15 dias. O prefeito de Mangaratiba, Alan Bombeiro (PSDB), vai na mesma linha e suspende as aulas na rede pública. Nas três cidades, as instituições privadas de ensino tomam a mesma decisão. Todas as escolas estão fechadas. Só em Angra há 25 mil alunos em 77 escolas. Todos em casa!

Terça-feira, 17 de março de 2020. Às 11h da manhã, o Ministério da Saúde confirma a primeira morte pela Covid-19 no país. É um homem de 62 anos, morador de São Paulo, que falecera no dia anterior. A capital paulista é a cidade com maior número de casos no país. Em segundo lugar está o Rio de Janeiro. Entre os dois maiores concentradores de pacientes confirmados estão Angra dos Reis, Paraty e Mangaratiba. A doença vai chegar aqui.

Ante à mudança de cenário, as prefeituras estudam aprofundar as medidas de isolamento. São proibidos o funcionamento de academias, igrejas, reuniões e eventos com aglomerações. A prefeitura de Angra reúne pastores e líderes de outras matrizes religiosas para avisar que cultos, missas e outros rituais estão suspensos. Alguns pastores argumentam que ‘sem os cultos não conseguirão pagar o aluguel das igrejas’. Não há escapatória. A regra é para todos.

Paraty e Angra dos Reis organizam blitzes para fiscalizar o cumprimento das medidas de isolamento. Há relatos de passeios náuticos e traslado de pessoas sem autorização. Também começam a ser disseminadas as notícias falsas (fakenews). Na quarta-feira, 18, uma mulher vai às redes sociais em Angra dos Reis dizer que o marido está infectado. A prefeitura nega e diz que o caso não procede. Em outra mentira, o prefeito teria decretado o fechamento do comércio. Ainda não.

Na quinta-feira, 19, o Estado do Rio tem uma e logo em seguida a segunda morte pela doença. São dois idosos, uma em Miguel Pereira e outro em Niterói. Ambos tinham mais de 60 anos. O Estado tem então 64 casos confirmados. Em Angra, a informação sobre número de casos suspeitos dá um salto e começa a incomodar a população. São 11 casos suspeitos e uma promessa de confirmação (ou não) em 48 horas.

Empresários do turismo vão até o prefeito angrense Fernando Jordão para pedir a prorrogação de prazo para pagar impostos e apoio para linhas de crédito. 80% dos negócios de turismo na cidade vão passar dificuldades. Um empresário resume:

— Vai ter mais gente falindo que falecendo — decreta o hoteleiro.

Na sexta-feira, 20, Fernando Jordão e depois Luciano Vidal, em Paraty, decretam o afrouxamento das cobranças de natureza municipal: prorrogação de prazos para pagamento do ISS nas duas cidades e do IPTU em Paraty. Suspensão do estacionamento rotativo de Paraty e do cartão de gratuidade do idoso em Angra. É para ficar em casa, repetem os dois em inserções diárias nas redes sociais.

Dia 21. São os primeiros sete dias desde a reunião que deu início a este relato. Angra dos Reis ultrapassa agora os 20 casos suspeitos. Em Paraty são quatro, dois na Vila Residencial de Mambucaba, onde um morador veio do Rio e infectou um parente. Os dois vão para isolamento. O movimento nas ruas diminui mas ainda tem muita gente circulando. O principal centro de negócios e serviços de Angra decide reduzir o horário de funcionamento. Nas cidades do entorno, Barra Mansa e Volta Redonda fecham suas rodoviárias para transporte interestadual. Em Angra, sair de transporte público para o Rio de Janeiro já está suspenso há dois dias. Quem estava fora da cidade teve dificuldade de voltar. Quem está aqui, tem dificuldade para sair. Ainda haveria cerca de 150 turistas em Angra sem meios públicos para sair da cidade.

Cresce o mau humor das pessoas em relação à não confirmação de casos da doença. A saúde pondera que o número de exames enviados para o Laboratório Central no Rio de Janeiro cresceu e, por conseguinte, o tempo de retorno também. Assegura, porém, que mesmo os casos suspeitos estão sendo monitorados com rigor. A conferir. Já há acenos de arranjo na rede pública para atender ao aumento do número de casos. A maternidade deve ir para o Hospital de Praia Brava e a Santa Casa e o Hospital Municipal da Japuíba liberados para o agravamento dos casos. Até agora só três estão internados em Angra e um em Paraty. Os casos suspeitos se aproximam dos 30.

Na manhã deste sábado, 21, confirma-se a terceira morte no Rio, desta vez em Petrópolis. O isolamento é a principal recomendação. A segunda é lavar as mãos a cada nova interação ou saída externa. Idosos redobrem a atenção. Esta é a primeira semana dos próximos meses. O Ministério da Saúde estima que o número de casos da doença vai crescer indefinidamente até junho ou julho. A partir de agosto, pode interromper o crescimento e começar a cair em setembro. Ainda faltam 22 semanas

Fotos: Reprodução

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