As notícias sobre o avanço dos casos da Covid-19 na região não intimidaram os adversários das medidas de isolamento e quarentena, sobretudo entre comerciantes e empresários. Cresceu, nos últimos dias, a pressão sobre prefeitos para que permitam a reabertura integral dos negócios. A pressão, aliás, é incentivada pelo presidente Jair Bolsonaro (s/partido), que incita militantes a avançarem contra as administrações locais e estaduais em todo o país por discordar das medidas de afastamento social.
Carreata a favor do comércio vira comício em Angra dos Reis
Em Angra dos Reis, no meio da semana, um grupo de quase 30 pessoas promoveu um ensaio de carreata para pedir a reabertura do comércio. Como pano de fundo do ‘protesto’, no entanto, está a disputa eleitoral municipal. Um pré-candidato a prefeito, que é associado ao bolsonarismo, liderava a manifestação, que teve ainda inexplicáveis palavras de ordem contra o prefeito Fernando Jordão (MDB).
A prefeitura de Angra e o Ministério Público manifestaram-se contra a iniciativa. A promotora Fernanda dos Santos Coutinho chegou a recomendar que fosse coibida a carreata de cunho político, contrária às medidas de isolamento. Apesar da recomendação dela e do claro descumprimento do Decreto Estadual nº 47.027/20 e de decretos municipais referentes às medidas de contenção da Covid-19, a juíza Andrea Mauro da Gama indeferiu a suspensão pedida pelo município em caráter liminar e autorizou o desfile de carros, recomendando que não houvesse ‘aglomeração de pessoas’. Obviamente que, para a realização da carreata, houve ajuntamento de pessoas. As medidas de restrição e fechamento do comércio em Angra seguem inicialmente até 22 de abril, mas é possível que sejam prorrogadas.
Na sexta-feira, 17, entidades patronais da cidade entregaram ao presidente da Fundação de Turismo, João Willy (foto), um ofício em que pedem a ‘reabertura do comércio em geral’, incluindo bares, salões de beleza e serviços de saúde. As entidades se comprometem, no entanto, a obedecer a recomendações sanitárias como uso de máscaras e oferta de higienização aos clientes e funcionários, além de propor horários alternados para evitar aglomerações nos serviços de transporte coletivo.
Reabertura em Volta Redonda depende da Justiça
Em Volta Redonda, após desentendimento com a associação comercial local, o prefeito Samuca Silva (PSC) propôs ao Ministério Público uma saída regulada do isolamento e a reabertura escalonada do comércio. Na primeira tentativa, porém, não teve sucesso. A cidade tinha na sexta-feira, 17, pelo menos 174 pessoas confirmadas com a Covid-19 e 800 casos suspeitos. Sete pessoas já morreram da doença no município, dados que dificultaram na aprovação da reabertura.
Samuca apresentou uma proposta que condiciona o aumento do número de casos e a ocupação de leitos à retomada das atividades comerciais. Mesmo assim prorrogou o isolamento até 27 de abril.
— Nossa prioridade é salvar vidas. A partir do dia 28, acredito na possibilidade de flexibilizar a abertura do comércio dentro de critérios técnicos — disse Samuca.
Em Volta Redonda, a prefeitura foi obrigada pela Justiça a impedir o funcionamento do comércio. A proposta do prefeito avalia três eixos para a retomada do comércio, com medidas preventivas: recuar no funcionamento caso haja aumento de casos suspeitos acima da média de 5%; ocupação de leitos do Hospital de Campanha acima de 70% ou uso dos leitos de CTI/UTI maior que 50%. Para ele esta proposta seria um ‘equilíbrio entre as vidas que serão preservadas e os comerciantes que poderão trabalhar com segurança’.
Na segunda-feira, 20, o prefeito terá reunião com entidades dos trabalhadores, como o Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Sindicato de Asseio e Conservação, Sindicato dos Rodoviários, entre outros, para avaliar a reabertura.
— Recebemos as propostas de reabertura das entidades empresarias. Mas precisamos ouvir também aos trabalhadores já que eles ficam na linha de frente e poderão nos ajudar com sugestões e medidas de prevenção. Estamos conseguindo manter a curva dentro da normalidade. Ter muitos casos confirmados, mas poucos óbitos e poucos internados, demonstra que estamos mantendo o grupo de risco longe da Covid-19 — acredita o prefeito Samuca Silva.
Paraty entra na Justiça para garantir isolamento no setor de turismo
Em Paraty, o prefeito Luciano Vidal (MDB) se mantém firme desde o início em relação à quarentena. As entidades empresariais e o Convention Bureau de turismo apoiaram de imediato as medidas. No entanto, por razões político-eleitorais locais, há pressão para afrouxar o isolamento. A cidade tem o menor número de casos na Costa Verde e as medidas de isolamento vêm sendo aprimoradas. Há alguns dias o prefeito ensaiou um relaxamento, permitindo o avanço de atividades em delivery mas esta semana, após a confirmação de mais casos da doença e uma morte, a prefeitura determinou o uso obrigatório de máscaras em atendimentos bancários e casas lotéricas. A prefeitura de Paraty também teve vitória na Justiça ao impedir que as plataformas Booking e Airbnb continuassem realizando reservas em hotéis, pousadas e albergues ou a locação de casas em Paraty antes do dia 30 de abril, data em que o isolamento poderá ser enfim afrouxado.
Nos próximos dias, a cidade abrirá um hospital de campanha com 36 leitos para dar retaguarda melhor aos atendimentos. Além disso, a cidade caminha para ter 30 respiradores para pacientes graves que precisarem de UTI.
Fotos: Reprodução/Redes Sociais + Divulgação
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