As lições de Angra

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Por essa ninguém pode dizer que não esperava: janeiro chegou, com ele o Verão e, ato contínuo, as chuvas. Mais uma vez muitas cidades do Rio de Janeiro e de outras partes do país sofrem com as enchentes, deslizamentos e mortes. Muitas, menos Angra dos Reis que, ao menos neste momento, está dando aulas para os demais municípios do Estado e é modelo no planejamento e execução de projetos que visam a proteção de famílias das intempéries da natureza.

O drama de Angra começou na década de 80, quando os morros da cidade ainda não estavam plenamente ocupados e os bairros ainda incipientes. A ação inteligente à época permitiu grandes investimentos em contenções de encostas, muitas existentes e úteis até hoje. No fim de 2002, no entanto, a tragédia irrompeu onde menos esperava-se. Começava ali outro movimento importante de mudança, porém efêmero.

Foi preciso uma tragédia ainda maior e a coragem da administração Tuca Jordão para finalmente começar-se a fazer algo mais definitivo com relação às famílias em áreas sob risco. A medida mais importante, claro, foi a remoção dessas pessoas e a destruição dos imóveis. Ato contínuo, nessas áreas estão proibidas as edificações. Em seguida, outra medida essencial foi o início das obras de prevenção a novos deslizamentos, muitas iniciadas ‘no gogó’ pelo prefeito já que àquela altura não havia garantia de que a União. Como de fato, até hoje, entre as primeiras declarações solidárias das autoridades, a promessa de ajuda e a definitiva chegada dos recursos, há meandros da burocracia que corroem o dinheiro. E é bom registrar que boa parte da verba prometida por Lula em 2010 ainda não chegou a Angra, retardando a conclusão de boa parte dos investimentos previstos na ocasião.
Finalmente, para ensinar em definitivo a outros gestores como proceder em casos desta natureza, Tuca determinou a elaboração de um estudo definitivo sobre as encostas de Angra. O mapa geotécnico dos nossos morros e locais mais inclinados trata-se da mais ousada ação do Poder Público nessa área. Determinará que locais da cidade podem ou não ser habitados e, mais do que isso, para onde a cidade deverá crescer já que verticalmente está provado que o risco não compensa os investimentos.

Para a lição ser completa, porém, não deve restringir-se ao mandato de Tuca. Precisa ter continuidade. Para o bem de Angra dos Reis. O estudo das encostas deve ser concluído, novas edificações verticais em áreas planas devem substituir as casas dos morros e a cidade deve continuar aplicando bem os recursos seus e de outras fontes, sendo farol na escuridão que ainda grassa nessa área e causa tantas mortes. Torçamos para que os candidatos a prefeito(a) tenham essa consciência.

Editorial publicado na edição 131 do jornal Tribuna Livre.

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