A prefeitura de Angra dos Reis quer aproveitar a suspensão das atividades de turismo durante a pandemia do novo coronavírus para tentar ordenar e controlar o acesso de pessoas à Ilha Grande a partir do cais de Conceição de Jacareí, em Mangaratiba. A polêmica sobre a emissão de visitantes para a Ilha via Mangaratiba já dura vários anos e envolve as responsabilidades que o município vizinho não tem com relação à coleta de lixo, serviços públicos de saúde e a conservação ambiental da Ilha, todos integralmente sob responsabilidade exclusiva de Angra dos Reis. Em entrevista a uma emissora de rádio na terça-feira, 7, o prefeito de Mangaratiba, Alan Bombeiro (PSDB), revelou a intenção de reabrir o cais de Jacareí sem aparente preocupação com as questões que dizem respeito ao dia a dia da Ilha Grande.
— Vamos reabrir o cais (de Jacareí) sim! Se preciso for a gente vai acionar a Justiça para garantir o acesso daqui para a Ilha Grande. Muitas famílias dependem desta atividade para se sustentar — afirmou Alan.
O prefeito de Mangaratiba também chamou de ‘demagogia’ a intenção de Angra de controlar o acesso de visitantes e ordenar o turismo emitido a partir de Jacareí. Para Alan Bombeiro isso seria fruto de ‘individualismos’ e de pressões políticas inadequadas para este momento, segundo ele.
— Qual o problema de se passarem pessoas e materiais por Jacareí? É momento de pensar na recuperação de toda a região. Mangaratiba é a porta de entrada da Costa Verde e eu vou fazer valer isso, queira ou não queira. Anunciar o fechamento do cais é demagogia de meia dúzia de pessoas de mau caráter que quer enriquecer. Fazer um ordenamento no meio desta pandemia é muito difícil — disparou o prefeito de Mangaratiba.
Informalidade — O transporte de passageiros em lanchas rápidas entre Mangaratiba e o continente de Angra dos Reis até a Ilha Grande é ilegal. Apenas a barca é considerada transporte público legalizado, mas os moradores se queixam da escassez de horários. Por causa da proximidade a travessia a partir de Jacareí é mais rápida e dura cerca de 20 minutos apenas. O transporte de pessoas, no entanto, esconde outros interesses e favorece as altas taxas de informalidade do setor turístico na região. Até 2016, mais de um terço dos negócios da Ilha Grande, inclusive entre os meios de hospedagem, tinha algum desafio de legalização plena, alguns até sem CNPJ adequado ao tipo de atividade.
Passar pessoas e mercadorias por Jacareí é mais fácil porque o cais da localidade não tem nenhum tipo de fiscalização e não oferece qualquer serviço ao visitante também. As saídas para a Ilha Grande na alta temporada chegam a ocorrer de 15 em 15 minutos, quase sempre com as embarcações lotadas. Nem a prefeitura de Angra sabe quantas pessoas desembarcam na Ilha Grande vindas de Jacareí. Agora, com a pandemia e todas as atividades suspensas, a volta da movimentação pode se dar em outros patamares, como espera o governo de Angra.
— A preocupação de Angra é com o turismo predatório. A pandemia foi um importante para dar uma freada e a gente poder avaliar o impacto de todas as atividades. Na Ilha Grande não é diferente. Não temos interesse nenhum em reabrir Conceição de Jacareí do mesmo jeito que estava, sem nenhum ordenamento — explica o presidente da Fundação de Turismo de Angra, João Willy Seixas.
De acordo com João Willy, se houver vários locais emitindo pessoas para a Ilha Grande não será possível controlar. Aqui nos nossos cais, em Angra, nós controlamos e temos regras inclusive para o turista do tipo day user (o que vem apenas por um dia). Estamos focados em arrumar a nossa casa. Este ‘novo normal’ que as pessoas falam deverá ter organização e combate ao turismo de massa e predatório — avisou Willy.
Comunidade — Os moradores da Ilha que dependem do transporte mais rápido aparentemente estão divididos. Uma parte quer a volta imediata das lanchas a partir de Jacareí de olho na volta da movimentação maciça de visitantes. Outros tentam exercer pressões de natureza política sobre a prefeitura de Angra para que as propostas de mais rigor não sejam implantadas de imediato. Desde o crescimento deste tipo de transporte para a Ilha Grande, a partir dos anos 2010, a natureza da localidade sofre, além do agravamento de outros problemas como a falta de saneamento e a insegurança. O acesso mais fácil e sem nenhum tipo de controle levou para a Ilha não apenas visitantes e trabalhadores.
— Não deve haver nenhuma urgência na abertura do acesso marítimo dos cais de Angra e Mangaratiba para a Ilha Grande. É importante que haja projetos para um melhor receptivo e o controle de acesso para os diversos locais da Ilha. Do contrário seremos vencidos pela degradação ambiental, social e um um grande risco de aumento da transmissão comunitária da Covid-19. É urgente o ordenamento do transporte marítimo na baía da Ilha Grande — defende Ivan Neves, ambientalista e ex-subprefeito da Ilha Grande (2013/15).
Fotos: Reprodução
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