Até junho de 2019, o Serviço de Estrangeiros de Portugal mostrava pelo segundo ano consecutivo um crescimento dos residentes ‘verde e amarelos’ no país. O aumento oficial foi de 43% de 2018 para 2019. E, aproveitando as oportunidades oferecidas por lá, angrenses também estão entre os mais de 150 mil brasileiros que tentam a sorte ‘na terrinha’.

Independente de origem, profissão, status civil ou outro quesito, muitos angrenses passaram a enxergar Portugal não apenas para o turismo, mas como um destino especial para, quem sabe, passar a vida de uma maneira melhor do que aqui no Brasil.

Segurança e liberdade são os motivos para muitos

Nascido no Méier, no Rio, mas tendo adotado Angra como seu lar em 2003, o músico Antônio Cláudio Cardoso, 53, o Cláudio Bocah (foto), vive em Portugal desde 2016 e mora numa vila de pescadores em Costa da Caparica com a esposa e a enteada. Todos estão encantados.

— Sou neto de portugueses, do lado do meu pai e da minha mãe e já tinha um laço afetivo com o país, que é apaixonante. É um lugar com índice baixíssimo de violência e eu sabia que quando estivesse aqui, teria uma ótima qualidade de vida — diz o músico, que hoje atua em outras áreas profissionais.

Bocah afirma porém que, apesar de toda a empolgação quanto à vida em outro país, não iria para Portugal de forma ilegal e sem ter a família ao lado. Ele levou dois anos para preparar toda a documentação antes da mudança.

— Comecei em 2009. Minha nacionalidade portuguesa saiu em 2011 e só consegui me estruturar para fazer a mudança do jeito que eu queria em junho de 2016. Existe um tempo específico para que minha esposa e filha recebam a nacionalidade estrangeira. Tive, inclusive, que transcrever meu casamento para Portugal — explica o músico.

Para ele, a tranquilidade e a segurança que sente vivendo em Portugal com a família são os principais atrativos do país. Ele diz que, claro, os portugueses também têm problemas de vários tipos, mas que a diferença social gritante que é percebida no Brasil passa longe.

— É uma cultura diferente. Você anda na rua e se sente livre. Pode segurar o celular na mão e usar em qualquer lugar, pegar um ônibus à noite e não se preocupar. Se me perguntarem se vale a pena, eu digo que sim, que vale muito mesmo. Eu faria de novo — resume o músico.

Número de brasileiros vivendo em Portugal segue crescendo e muito ex-moradores de ANGRA estão entre OS que decidiram tentar uma nova vida fora do país

Quer ir? Então faça a coisa certa

Ex-proprietário do bar Arte & Lenha, que deu início ao ‘renascimento’ da rua Coronel Carvalho, o biólogo e inspetor de qualidade Leonardo Fernandes Castro, 44, é outro angrense de coração (ele nasceu no Rio) que trocou o município por Portugal.

Atuando como ‘tubista’, o nome português para encanador, ele vive em Aveiro, no Vale de Cambra, e saiu de Angra há pouco mais de um ano. Se pensa em voltar? Não!
— Minhas primeiras impressões aqui foram as melhores. A organização e a segurança espantam até, para quem estava vivendo em Angra, que eu decidi deixar após 27 anos devido ao descaso em que estava — testemunha Leonardo.

Casado, pai de um casal de filhos, ele escolheu morar em Portugal pela facilidade da língua, a segurança, a oferta de empregos e a organização do país. Da ideia inicial de mudança até a concretização do processo foram apenas quatro meses, mesmo não possuindo familiares de origem portuguesa.

— Basta fazer as coisas certas, tirar os documentos, arrumar emprego e solicitar a autorização de residência — orienta o biólogo.

Leonardo lamenta corrupção no Brasil

A corrupção e a insegurança são os fatores que desmotivam Leonardo a voltar ao Brasil em curto ou médio prazo. Viver em outro país oferece muitas oportunidades mas não apaga um pouco de revolta.

— Aqui saio a qualquer momento e saco dinheiro em qualquer horário. Mas Angra é infinitamente mais bonita. Saí da minha cidade e estou fora de meu país por causa de políticos corruptos que trans-formaram a vida no Brasil numa roleta russa — desabafa.

Primeiro era turismo, depois virou opção de vida

Já a técnica em petróleo e gás carioca Bárbara Rodrigues de Azevedo, 44, engrossa a lista de ex-moradores de Angra que querem descobrir outras paisagens. Solteira e mãe de três filhos, ela resolveu encarar a vida num novo país em busca de mais qualidade de vida para a família, em todos os sentidos. E a ideia surgiu depois de um passeio.

— Estive em Portugal nas férias com meu irmão Diego, que mora lá. Gostei muito das cidades bem-estruturadas, limpinhas e tranquilas. Aliás, não ouvi falar de um assalto sequer. A língua também ajuda bastante — diz ela.

Bárbara pretendia se mudar definitivamente para o país no início deste ano. Sobre o processo de mudança, ela declara que não é fácil.

— É cansativo pois é uma mudança de vida radical. Deixar tudo resolvido aqui e começar uma vida nova em outro continente é trabalhoso. Contratei uma advogada para me ajudar. Fui muitas vezes ao consulado, dei entrada em vários documentos e participei de entrevistas. E ainda tem meus animais de estimação que, para entrar lá terão que passar por procedimentos e vacinação — explica.

Como turista, Bárbara elogiou o tratamento em Portugal e a segurança do país, além de também perceber que o atendimento do comércio é ótimo, assim como a gastronomia oferecida pelos portugueses. Ainda assim, ela admite que sentirá muitas saudades dos familiares e amigos que deixará no país, além do clima tropical do Brasil, em particular, de Angra.

– Eu amo este lugar e virei sempre que puder – ressalta.

Saudade, dicas e um final em aberto

Perguntado sobre o que gera mais saudade em relação à vida em Angra, o músico Cláudio Bocah é ligeiro na resposta por áudio de Whatsapp que, apesar de enviado eletronicamente, consegue oferecer uma entonação viva, real.

— Sentar num bar da cidade e tomar um chope, jogando conversa fora, sentindo o calor. Ir para a Gipoia ou para a Ilha Grande. Isso realmente aperta o coração. Mas, viver no Brasil, eu não penso mais. Nossas vidas já estão estruturadas por aqui — resume.

Àqueles que desejam se aventurar em Portugal, ele também fornece algumas dicas valiosas, por conta de suas experiências no país, tanto antes de viver lá como depois de passar por todo o processo.

— Vir legal faz uma diferença absurda, porque você não corre o risco de ter subempregos ou empregos irregulares. Pesquise muito, porque é possível conseguir trabalho, mas não existem tantas oportunidades. Moradia também é difícil, porque o aluguel é muito caro. Ir para cidades menores, nesse sentido, é melhor. Eles também pedem muitas coisas para concretizar o aluguel — explica Leonardo.

O biólogo Leonardo Fernandes elogia a postura dos portugueses em relação aos brasileiros que resolveram viver naquele país. E, de quebra, dá um conselho importante aos que pretendem começar uma nova vida lá.

— Os portugueses são bem receptivos. É muito difícil ter algum tipo de problema com eles se você vai para trabalhar e viver de forma harmoniosa com os costumes. Brasileiro que vem para cá achando que é esperto está lascado — aconselha.

Já Bárbara diz que a organização e a programação de todo o processo de mudança são importantíssimas para evitar contratempos e dissabores.

— Se uma pessoa deseja trocar de país, tem que se programar. Conhecer brasileiros que lá residem é ótimo e, sendo de Angra, melhor ainda. Meu projeto não começou no mês passado e nem no início deste ano. Se puder, visite o lugar onde pretende morar — conclui.

Independente de os motivos que levaram cada um dos entrevistados a trocar Angra dos Reis por Portugal, parece que, mesmo distantes do município, eles mantém a conexão com a cidade, de maneira intensa. Destino ou coincidência? Bocah arrisca uma resposta, por meio da história que finaliza esta reportagem.

— Moro numa cidade chamada Costa da Caparica, a 20 minutos de carro do centro de Lisboa, atravessando uma ponte de dois quilômetros. A cidade, por incrível que pareça, lembra muito Angra. Vivo numa vila de pescadores, com um litoral lindíssimo. Em frente ao prédio onde moro, tem uma casinha de vidro, protegida, com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, padroeira de Angra dos Reis. A cidade não sai do nosso coração — finaliza ele.

Reportagem: Hugo Oliveira

Publicado antes na edição impressa do Tribuna Livre (nº 274).

Fotos: Arquivo Pessoal

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