A greve dos metalúrgicos do estaleiro Brasfels, que completou hoje o 22º dia, foi um dos temas dos debates entre os vereadores de Angra dos Reis na sessão ordinária realizada nesta terça-feira, 25. A maioria dos parlamentares manifestou-se sobre o movimento, que julgam ainda estar distante de um desfecho. Boa parte dos parlamentares tem acompanhado, mesmo à distância, o desenrolar do movimento grevista e apoiaram, a princípio, as razões da paralisação, exortando o grupo Keppel Fels a ceder nas negociações.
O vereador Aguilar Ribeiro (PCdoB), vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, foi mais duro em seu posicionamento. Tão duro quanto tem sido nas assembleias diárias realizadas na porta do estaleiro. Ele responsabilizou ‘forças ocultas’ e interesses político-eleitorais pelo não avanço nas negociações e chamou de ‘jogo sacana’, a tentativa de enfraquecer os trabalhadores do estaleiro angrense, visando, mais à frente, a derrota do atual grupo dirigente do Sindicato da categoria. Para Aguilar, estaria em jogo, inclusive, interesses nacionais que visam enfraquecer os estaleiros do Rio de Janeiro, facilitando a concorrência com grupos já instalados no Nordeste e no Rio Grande do Sul, com apoio decisivo, lembrou, do Governo Federal. Para o sindicalista, a solução do impasse em Angra precisa de arbitragem urgente da Petrobras, dona dos maiores contratos com o Keppel Fels em Angra. Ele elogiou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) por ter intervido diretamente na greve de 1996, dando fim à paralisação àquela época.
— É um problema de todos. A empresa não deixou alternativa aos trabalhadores, a não ser a greve — disse Aguilar.
Em discurso adjacente ao de Aguilar, o vereador José Antônio (PCdoB), lembrou que o comércio angrense já está sentindo os efeitos da falta do ‘adiantamento’ quinzenal e teme que, muito provavalmente, o pagamento mensal que deveria ser feito na próxima sexta-feira, 28, não seja efetuado também.
— A partir da semana que vem, a cidade vai estar falindo. O risco é de quebradeira geral. É um efeito dominó que alguns ainda não perceberam. O Sindicato tem disposição para resolver. Este problema é de todos, desde o dono da quitanda até o presidente Lula, que quer vir aqui entregar a plataforma em setembro e pode haver atrasos — disse José Antônio, que defendeu também que o prefeito ameaçasse a empresa de cancelar os incentivos fiscais concedidos ao grupo asiático.
Aguilar informou que nesta quarta-feira, 26, o prefeito de Angra, Tuca Jordão (PMDB), terá encontro com os dirigentes do grupo Keppel Fels e, possivelmente, da própria Petrobras, para tentar costurar um acordo que ponha fim à paralisação. Além do desconto integral dos 22 dias parados, que a categoria rejeita, os itens da pauta econômica ainda não foram superados. A empresa acena com 8% de reajuste salarial, admite pagar uma Participação em Lucros de R$ 1.400,00 e reajustaria o ticket-alimentação para R$ 180 mensais. Fontes informais dão conta de que ela concordaria em abonar 20% das faltas causadas pela greve. Um ponto da pauta de negociação ainda intocado refere-se aos critérios de promoção no interior do estaleiro, especialmente nas funções primárias.
Uma assembleia decisiva está prevista para a quinta-feira, 27, quando os trabalhadores serão informados do esforço de negociação empreendido pelo prefeito angrense, lideranças políticas de vários matizes ideológicos e representantes de trabalhadores, como os dirigentes da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB) no Rio, que têm atuado com dedicação na tentativa de desobstruir as negociações.
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