Quem chega de surpresa ao novo condomínio popular de Angra dos Reis, na Banqueta, se impressiona de imediato com a infraestrutura do local. As ruas são largas e bem pintadas, a quadra de esportes está movimentada, há áreas de estacionamento e uma linha de transporte coletivo regular. Até aí parece tudo bem. Só que bastam 10 minutos de conversa com qualquer morador para que essa primeira impressão desapareça. A nova vida em condomínio para muitas das mais de mil famílias que foram remanejadas para o bairro ainda não está boa.

— A impressão que a gente tem é que a prefeitura largou a gente aqui. Não temos a quem encaminhar algumas situações e os problemas surgem a toda hora — conta um dos moradores.

As queixas em geral são simples. Uma delas, por exemplo, é sobre a quantidade de animais, sobretudo cachorros. Desavisados ou não, alguns novos moradores levaram os animais e como agora moram em apartamentos, muitos ficam perambulando pelas ruas. Há alguns dias um cão da raça pitbull teria atacado uma criança. O caso não foi registrado na Polícia.

Outra reclamação é sobre a identificação das ruas e dos prédios. Sem endereço, os moradores quase se perdem entre 63 blocos de apartamentos, identificados apenas com números sequenciais. Como as construções são muito parecidas, os moradores pedem que seja feita uma sinalização mais adequada. Reclamam também da pouca iluminação pública. Há pontos escuros e já houve pequenos furtos.

— A prefeitura deveria estar mais presente aqui, até para ouvir estes relatos — reclama uma moradora.

Segurança — A quantidade de moradores também gera insegurança para a comunidade. O condomínio poderá ter mais de 4 mil pessoas quando estiver todo ocupado. Ainda há imóveis vazios. Só crianças seriam cerca de 480 e nem todas estão matriculadas na única escola do bairro. A promessa de que haveriam novas escola e creche no bairro ainda não foi cumprida. O posto de saúde da Banqueta também não foi ampliado ainda para suportar a nova demanda de pacientes.

Logo assim que mudaram para o bairro, os moradores elegeram um síndico provisório. Márcio Geraldinho diz que a tarefa é muito complicada e depende de muita colaboração dos moradores. Para ajudar na segurança e na organização, cada família está pagando R$ 25 por mês ao condomínio. Mas há inadimplência. Com esse dinheiro, uma espécie de vigilância local foi contratada para atuar até em casos de pequenos conflitos.

— Eu preciso muito da ajuda dos moradores. É muito grande para uma pessoa só ver e conseguir acompanhar tudo. Cada bloco tem o seu representante mas nem todos participam — lamentou o síndico.

Prefeitura — O secretário de Desenvolvimento Social, Jorge Eduardo Mascote, disse ter conhecimento das situações relatadas. E prometeu que em no máximo 40 dias, a prefeitura implantará um serviço de acompanhamento aos moradores da Banqueta, em parceria com o Sebrae e o Senac, visando ajudar na organização social e na formação profissional.
Mascote admitiu que isso deveria ter sido feito antes da entrega dos apartamentos mas, como havia risco de invasão dos prédios, a prefeitura teve de entregar os imóveis antes deste trabalho de adaptação. Sobre problemas estruturais, o secretário disse que a construtora fará todos os reparos necessários.

Fim do aluguel social deixou muitos moradores em situação de risco

Além dos problemas de estrutura e adaptação à vida em condomínio, um grupo de moradores ainda relatou ao Tribuna Livre outra situação bem preocupante. Alega este grupo que teria sido ‘enganado’ pela prefeitura durante a fase de escolha das famílias que morariam no condomínio. Isso porque a maioria recebia o aluguel social e, ao serem transferidos para o condomínio, perderam o direito ao benefício. Sem esse ‘dinheiro’, alguns admitem que estão passando por necessidades básicas e não estão conseguindo pagar as prestações do novo imóvel. Para gerar alguma renda, muitos moradores estão improvisando com a prestação de vários serviços (foto) e venda de produtos.

— Não disseram que a gente teria de pagar pelo apartamento. Nem os documentos deste acordo a gente recebeu até hoje. Muita gente preferia estar no aluguel social a ter que pagar as prestações. A gente se considera enganado pela prefeitura — revelou Jurandir Santana.

Oriundos de bairros atingidos pelas chuvas de 2002 e 2010 como Belém, Areal, Morro da Glória e das Sapinhatubas I e III, estas pessoas estavam em aluguel social há vários anos e esperavam que a prefeitura doasse novos imóveis, a exemplo do que fez com os condomínios da Glória da UPA. Para muitos, o valor do aluguel social pago pela prefeitura era um complemento da renda.

Procurada pelo jornal, a secretaria de Assistência Social negou que a prefeitura tenha ‘enganado’ os moradores a respeito do pagamento das prestações do imóvel.

— O aluguel social é um benefício para quem não tem moradia. Se a pessoa recebeu um imóvel, ela não tem mais direito. Todos foram avisados e a prefeitura, claro, não pode voltar a atrás quanto a isso — esclareceu a gerente da secretaria, Gláucia Silva.

Apesar da explicação oficial, muitos moradores preveem que, sem renda, perderão os imóveis em poucos meses por causa da inadimplência junto ao banco.

(*) Publicado antes na edição impressa nº 224 do Tribuna Livre.

Fotos: Klauber Valente

Para assinar o Tribuna Livre, clique aqui.

Deixe seu comentário

Escreva seu comentário!
Nome