Apresentada como ‘jogada de mestre’ pelos aliados do governo municipal em Angra, a manobra que tirou da disputa eleitoral o médico Christiano Alvernaz (Republicanos) e o colocou como uma espécie de fiador do apoio da família Bolsonaro à reeleição do prefeito Fernando Jordão (MDB), pode ter sido, ao invés do sucesso oferecido como argumento, um tipo de tiro no pé. E eu comento a seguir o que observo como ‘prós e contras’ desta operação que surpreendeu (e incomodou) até aliados de ambos os lados:
AS VANTAGENS PARA O GOVERNO
- Menos um para bater
Fernando tirou um adversário da disputa. Alvernaz jamais teve chance de vencê-lo, é bem verdade, mas renitente como era, representava um polo dissonante. A oposição majoritária agora fica com Zé Augusto (Progressistas) e com o PT, que tem uma candidatura modesta. Claudinho (PDT), por seu estilo, não deverá confrontar diretamente a Fernando. - Mais capilaridade
A chapa MDB/Republicanos terá mais candidatos a vereador que os adversários. Mesmo com algumas desistências após o anúncio da união, ter mais candidatos a vereador significa mais gente pedindo voto na ruas. É um componente relevante numa eleição que terá menos ações de corpo a corpo por causa da pandemia. - Flávio Bolsonaro
Mesmo que o pai não declare seu apoio ostensivo a Fernando, o filho e senador Flávio (Republicanos/RJ) o fará. E para o eleitor menos crítico isso será suficiente. Aliás esta é a aposta dos emedebistas, ou seja, que o eleitor não perceba que há diferenças entre pai e o filho. E que o mesmo Bolsonaro pai já afirmou em bom tom que não se envolverá na disputa municipal no primeiro turno.
OS CONTRAS PARA O GOVERNO
- Indício de fragilidade da chapa governista
À primeira vista a manobra escancara uma fragilidade momentânea da candidatura de Fernando Jordão. Político mais vitorioso da cidade, porém não imbatível, Fernando aceita um vice-prefeito com quem claramente não tem nenhuma afinidade e a quem, até dias atrás, chamava de adversário. Mais de uma vez só este ano, Jordão e Alvernaz enfrentaram-se de forma direta em questões relacionadas à saúde e aos gastos com a pandemia da Covid-19. Ao aceitar esta ‘imposição’, Fernando demonstra fragilidade, o que não é comum na sua trajetória. E não venham dizer que é por causa de ‘diálogo’, porque não é! - Decepção com Alvernaz é grande
O primeiro sentimento entre os simpatizantes da pré-campanha do médico foi a decepção. Não é automática a virada de chave de um personagem que passou os últimos anos criticando todas as ações do prefeito, para aquele que agora defende suas ‘qualidade como gestor’. Não há antídoto para a palavra dita. O eleitor pode até parecer idiota ou manipulável, mas certamente nem todos o são. Ao abandonar Alvernaz, seu eleitor não migra de imediato para Fernando Jordão que, aliás, parece nem ser a primeira opção deste grupo. - Bolsonaro não é relevante
O apoio do presidente Jair Bolsonaro (s/partido) na eleição municipal não é relevante. Em lugar nenhum. Ajuda, por certo, mas não é capaz de decidir. Os eleitores estão atentos a questões locais como emprego, saúde e segurança e sabem que o presidente não pode deixar seus afazeres em Brasília para vir governar. Além do mais, o eleitorado de Bolsonaro em Angra já está dividido em pelo menos dois ou três candidatos.
Quem levou a melhor então?
O mais beneficiado com a saída de Alvernaz do páreo é Zé Augusto. Ele herda de imediato os votos contra o prefeito, que estavam agrupados em torno do médico, e ainda galvaniza sua posição majoritária no autodeclarado grupo ‘Direita Angrense’. Apunhalado e descontente com a decisão monocrática de Flávio Bolsonaro, este grupo pode cerrar fileiras em apoio ao candidato do Progressistas e não dar de imediato a Fernando, a folga que ele almeja.
Fernando Jordão e os demais candidatos dividirão um terço dos votos que seriam destinados a Alvernaz.
É jogo jogado. Agora é ver quem tem lata para encher.
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(*) Klauber Valente é jornalista e editor do Tribuna Livre. É pós-graduado em Administração Pública pela FGV/RJ e foi presidente da Fundação de Turismo de Angra dos Reis de 2015 a 2016.
Fotos: Reprodução/Divulgação
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