Caged contabiliza empregos gerados com carteira assinada | Foto: Agência Brasil

Angra dos Reis foi a cidade da região que mais gerou desempregados em 2018, mas este cenário poderá mudar daqui para a frente, a julgar pelos sinais emitidos pela economia até o final do ano passado. Em pelo menos dois setores que são considerados essenciais para o desenvolvimento da cidade, ambos dependentes e muito ligados ao governo federal, já há sinais de que 2019 poderá trazer de volta algumas dezenas de novos postos de trabalho, sobretudo na indústria.

Uma das certezas é a retomada da construção da usina nuclear Angra 3, além da manutenção e até mesmo a provável ampliação das oportunidades no setor naval e no estaleiro Brasfels, em Jacuecanga. A retomada nestas duas áreas pode puxar para cima, de forma indireta, os números dos setores de comércio e serviços após quase três anos de retração e muito desemprego. Estimativa do Tribuna Livre aponta que haveria mais de 45 mil pessoas desocupadas na cidade.

— Será um ano de muito investimento, eu acredito. E as declarações do governo federal sobre a usina Angra 3 já nos deixam mais animados ainda — prevê o prefeito angrense, Fernando Jordão (MDB).

Angra 3 — A confiança de Fernando tem mesmo razão de ser. No final de dezembro, o novo ministro da Energia, almirante Bento Costa Lima, mostrou-se simpático à conclusão da nova usina nuclear brasileira, cujas obras estão paradas desde 2015 por causa de investigações da operação Lava-Jato, seguidas de uma crise financeira da estatal Eletronuclear, responsável pela operação da central nuclear.

Costa Lima já tocou projetos na área nuclear dentro da Marinha brasileira e disse que considera vital a conclusão da nova unidade. O planejamento estratégico da Eletrobras, controladora da Eletronuclear, prevê até um investimento de R$ 12 bilhões na usina até 2023. A previsão é que Angra 3 possa entrar em operação nos anos 2025/26.

Em entrevista a uma emissora de rádio local no final do ano passado, o presidente da Eletronuclear, Leonam dos Santos, também mostrou-se otimista a respeito da retomada da movimentação no canteiro de obras de Itaorna. Ele disse que as sinalizações do novo governo brasileiro e o caminho percorrido pelo empreendimento até agora tornam possível acreditar na retomada.

— Estamos num momento promissor, sobretudo pelas declarações do presidente Bolsonaro (PSL) e do novo ministro da Energia a respeito da conclusão da obra. Há clara percepção de que a energia de Angra 3 será necessária no futuro — disse ele.

Um dos entraves à retomada, segundo o próprio Leonam, foi removido em outubro do ano passado, após a correção da tarifa paga pela energia produzida pelas usinas. O valor fixado agora pode viabilizar Angra 3 mas corre o risco de ser imputado aos consumidores com acréscimo no valor da conta de energia. A Eletronuclear nega essa possibilidade e afirma que a usina seria feita por meio de parcerias internacionais e até mesmo com dinheiro da iniciativa privada. A empresa acredita que até o final de junho, já tenha condições de anunciar o reinício efetivo da construção, possivelmente por meio de uma parceria internacional que pode agregar um sócio da França ou China, países interessados na tecnologia brasileira. O Brasil é um dos maiores detentores de reservas de urânio do mundo.

Setor naval — Já nos estaleiros há uma esperança um pouco mais discreta, embora a Petrobras já dê sinais de reativar novas encomendas. O receio diz respeito mais ao tratamento a ser dado ao chamado índice de conteúdo nacional, uma política existente nos governos Lula e Dilma (2003-16) que exigia que parte das obras da estatal fosse feita no Brasil. Estaleiros como o Brasfels, em Angra, que se mantiveram abertos e ativos mesmo durante a crise no setor, iniciada também na esteira das investigações da operação Lava-Jato, sairiam em vantagem em qualquer cenário de reativação de encomendas.

No final de novembro, o Brasfels iniciou a construção dos módulos de topsides da FPSO Carioca, o MV-30, de propriedade da empresa Modec. O início destas obras mantém o nível de emprego no estaleiro, hoje com cerca de mil trabalhadores. Há um otimismo que está relacionado com as negociações de retomada da construção das sondas da empresa Sete Brasil que avançaram após a aprovação do plano de recuperação judicial da empresa.

A decisão vai permitir que se faça um novo contrato com os estaleiros e que pelo menos quatro sondas sejam concluídas. Duas delas estão em Angra dos Reis: a Urca (90% concluída) e a Frade (70% pronta). A negociação da Sete Brasil com os estaleiros deve ser iniciada já em janeiro e há a possibilidade de ser concluída no primeiro trimestre do ano.

Também em dezembro, o estaleiro assinou um acordo com a empresa Ocyan, que é ligada à Odebrecht, para desenvolvimento de projetos relacionados à exploração de petróleo e gás na região do pré-sal. A pedido do Tribuna Livre, a empresa divulgou nota destacando que este novo contrato reforça a importância do estaleiro num cenário de eventual reaquecimento do setor.

— O Brasfels é o estaleiro mais bem estabelecido na região da América Latina. O entendimento com a Ocyan fortalecerá também a posição do Brasfels como fornecedor de soluções integradas para plataformas de produção em águas profundas. Alguns dos projetos no estaleiro incluem a construção e integração do módulo topside para o FPSO Carioca MV30 para a Modec, assim como o tra-balho de comissionamento offshore para o FPSO P-69 da Petrobras no campo Lula extremo sul, na bacia de Santos. Acreditamos que nosso forte histórico de entrega de produtos de qualidade com conteúdo local nos coloca em uma boa posição no mercado — diz a nota.

Turismo — Além dos dois setores que mais têm potencial de geração rápida de empregos, o turismo também espera colher bons resultados no Verão. Situação bem diferente de 2018, que começou com uma temporada de violência na cidade e um surto de febre amarela na Ilha Grande. As más notícias espantaram os turistas naquela ocasião. A situação hoje, felizmente, é diferente.

— Sem dúvidas estamos tendo um período até aqui bem melhor. Cidade com muita movimentação de pessoas e os setores de receptivo e passeios com muito movi-mento. É o que esperamos para toda a alta temporada até depois do Carnaval — crê Dudu Miler, da agência de turismo náutico Doce Angra.

Com tanto otimismo, o importante é estar preparado para conquistar alguma destas oportunidades. Um bom relacionamento pessoal, formação e experiência na área pretendida poderão ajudar na tarefa em 2019.

(*) Publicado antes na edição impressa nº 237 do Tribuna Livre.

Fotos: Reprodução

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