A busca de novas atrações e produtos para o setor de turismo em Angra dos Reis deve ser permanente. O destino de ‘sol e praia’ possui outras belezas que vão sendo descobertas por iniciativas voluntárias como a da criação da rede de trilhas, projeto capitaneado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação (ICMBio) e promovido por ativistas da cidade. A iniciativa virou um projeto reconhecido com o 3º lugar no Prêmio Nacional de Turismo 2018 – segmento ‘Valorização do Patrimônio Através do Turismo’ (foto).

O coordenador regional do projeto em Angra é o agente de turismo Cesar Américo Yano, 36, que explicou parte da história desta iniciativa ao Tribuna Livre.

— Entre 2010 e 2013, a ideia inicial de abrir as Unidades de Conservação (UCs) para visitação pública coincidiu com o interesse da sociedade em mais áreas de lazer e recreação. Isso levou aos primeiros encontros e mutirões de manejo e sinalização de trilhas dentro dos parques, no Rio de Janeiro, feitos com gestores e voluntários — conta Cesar.

A padronização da sinalização em níveis federal, estadual e municipal, somada ao conhecimento dos montanhistas do Rio, levou ao projeto-piloto e à criação da primeira trilha de longo curso do Brasil, a Transcarioca. A sinalização escolhida foi uma pegada (sola de bota) amarela e preta com o símbolo do Cristo Redentor, dentro de uma seta. Pronto: nascia ali o Sistema Brasileiro de Trilhas de Longo Curso (SBTLC), junto com um programa de voluntários que segue crescendo a cada dia, cuidando da Trilha Transcarioca e do projeto em si.

Rio 2016 — Em 2016, durante as Olimpíadas do Rio, o trabalho relacionado à Transcarioca havia progredido bastante e, já com mais de 80% da trilha sinalizada, os participantes do projeto tiveram a confirmação do sucesso referente à ação, por meio da opinião dos turistas. Muitos visitantes conheceram o Rio de Janeiro pela Trilha Transcarioca, o que fez com que o prefeito Marcelo Crivella (PRB) a reconhecesse como importante ferramenta para a cidade na conservação do meio ambiente e na apresentação da metrópole aos turistas.

— Essa foi a nossa primeira grande vitória. Depois, o manual de sinalização produzido — Foi a nossa primeira grande vitória. Depois, o manual de sinalização também teve o reconhecimento, sendo adotado pelo ICMBio como norma dentro de todas as UCs federais no Brasil. Mais um ponto não apenas para o projeto, mas para todo o país — relembra o coordenador regional da ação.

A Trilha Transcarioca foi aberta oficialmente em 2017, e o trabalho socioambiental recebeu o Mosquetão de Ouro, a maior honraria do montanhismo nacional, pelo trabalho feito com mais de mil voluntários nas trilhas e montanhas do Rio de Janeiro. Isso significava uma terceira vitória, sim. Porém, ia além: era a entrada definitiva do projeto no mapa mundial das trilhas longas.

A Associação de Trilhas de Longo Curso, surgida em meio a esta movimentação, participa da coordenação e da criação do SBTLC e Cesar Américo é um dos integrantes.

— Em 2014, logo no começo do projeto, tive que retornar para Angra por motivos pessoais, afastando-me dos amigos do Rio. Vim com a ideia de trazer a metodologia para a região. Já conhecedor das travessias da Costa Verde, iniciei o processo de mapeamento das trilhas de longo curso da região, assim como a organização entre elas — relembra o agente de turismo.

O nome ‘Caminhos da Costa Verde’, que dá título à seção angrense do projeto, surgiu da abundância de trilhas na região. Durante as pesquisas, conta César, foi impossível traçar apenas um eixo que fosse o caminho ‘oficial’, já que a Costa Verde possui o maior complexo de trilhas do estado e um dos maiores do SBTLC.

— O fato de ser possível percorrer pela região em vários sentidos fez com que fossem traçados muitos circuitos, sendo a Costa Verde um sistema de trilhas próprio ou uma rede regional. Hoje, meu papel, além de coordenador do projeto, é também de multiplicador, levando o projeto às cidades da região — declara.

Tudo a ver — O cenário referente às trilhas em Angra dos Reis é mais do que positivo. É único. O município oferece um complexo de trilhas sem igual, misturando praias, montanhas, trilhos, calçamentos de pedra e um grande potencial para o turismo de aventura – segmento que mais cresce no mundo e no Brasil nos últimos cinco anos.

Trilhas já mapeadas pelos voluntários do projeto

Dentro dessa realidade, Cesar acredita que estruturar as trilhas e também abrir os parques da cidade para visitação – Angra tem 95% de sua área dentro de UCs – pode ser a saída para um turismo regular durante o ano todo na cidade.

—As trilhas são consideradas as vias pedestres dentro da mata, principalmente nas UCs. Elas são como as estradas, levando-nos a vários locais de interesse, podendo ser uma praia, o topo de uma montanha, uma comunidade tradicional ou ruínas históricas, por exemplo. Deixá-las em bom estado faz com que a visitação a esses locais seja garantida, assim como o monitoramento da fauna e da flora – relata o coordenador regional do SBTLC.

O trabalho, tanto regionalmente quanto nacionalmente, depende muito de voluntários. Qualquer pessoa pode participar do Caminhos da Costa Verde, seja colaborando nas atividades de campo, seja nos bastidores com a produção e divulgação de conteúdo, representações em oficinas e outras ações. Os participantes são treinados e também capacitados. Para isso, é necessário apenas que a pessoa tenha um perfil ativo nas caminhadas.

Um calendário de oficinas e mutirões será elaborado para 2019, divulgado na página da internet que também será criada no ano que vem. Por enquanto, o contato para obter mais informações quanto ao projeto são os canais da Ecotrip Costa Verde na internet – redes sociais.

Promissor — Na região, apesar de o projeto ainda estar no inicio, o trabalho segue constante. Já foi iniciada, em parceria com o ICMBio, a sinalização do Caminho de Mambucaba (Trilha do Ouro) dentro da UC, com a ideia de estender a trilha até a Vila Histórica de Mambucaba, reproduzindo-a assim com máxima realidade. O Caminho de Mambucaba poderá inserir a comunidade local na cadeia de turismo, aumentando a trilha de três para cinco dias. A sinalização já foi escolhida, mas o trabalho em campo ainda não começou por conta das chuvas dos últimos meses.

Outro objetivo do SBTLC regional é resgatar a antiga linha férrea que ligava Angra a Lídice, transformando-a numa bela travessia pela mata atlântica e pela parte alta do litoral. Segundo Cesar, o mapeamento já foi feito.

— Precisamos trabalhar em outros locais, como a Ilha Grande, mas o trabalho é lento e contínuo. Acreditamos que, em 2020, teremos uma rede de trilhas madura na Costa Verde, já com reflexos no turismo. Nosso trabalho vai além da criação da rede de trilhas. Esperamos colaborar com o desenvolvimento de outros segmentos do turismo, e para isso, a estruturação das trilhas é necessária. A mensagem que deixo é para que as pessoas participem e também colaborem com o projeto. Conheçam nosso patrimônio através das trilhas. Só mesmo conhecendo é que podemos dar valor — finaliza.

Reportagem: Hugo Oliveira

(*) Publicado antes na edição impressa nº 235 do Tribuna Livre.

Fotos: Divulgação / Arquivo pessoal

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