Um grande ato público realizado na manhã de hoje, 7, em Angra dos Reis reuniu autoridades, políticos com e sem mandato, sindicalistas, trabalhadores, aposentados e lideranças comunitárias para chamar a atenção sobre o risco de fechamento do estaleiro Brasfels, o único ainda em atividade no Estado do Rio de Janeiro. Sem obras de grande porte à vista, o estaleiro poderá demitir mais de 2 mil funcionários até o final do ano e iniciar 2018 com menos de 500 trabalhadores.

— Se a gente não conseguir mudar a trajetória atual, o estaleiro vai fechar. Agora já em 2018 pois não há nenhuma sinalização da Petrobras em contratar obras no Brasil — resumiu o presidente da Fundação dos Trabalhadores do Estaleiro Verolme (Funtresve), Luiz Fernando Neves Figueiredo, um dos organizadores do evento.

Parlamentares estaduais e federais fizeram coro à queixa do sindicalista angrense. O senador Lindberg Farias (PT/RJ) foi um dos presentes à manifestação. Disse que uma decisão política do governo federal pode mudar a realidade no setor naval do Rio de Janeiro. Desde o início da operação Lava-Jato, em 2014, o estaleiro perdeu obras e não conseguiu concluir encomendas que foram suspensas pela Petrobras sob suspeita de corrupção. Para os manifestantes de hoje, isso não seria justificativa para cancelar os contratos. Todos defendem que a empresa retome a carteira de investimentos.

Esta semana, em encontro com os organizadores do ato, o prefeito de Angra, Fernando Jordão (PMDB) disse a mesma coisa.  Deputado federal até 2016, o prefeito já esteve duas vezes com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM/RJ) para defender uma solução.

— Eu disse isso ao Rodrigo Maia: ‘se o presidente Temer quer uma agenda positiva, a solução mais rápida é resolver isso com a Petrobras’. Não dá para entender por que o Pedro Parente (presidente da Petrobras) insiste nesta ideia de fazer obras no exterior — reclamou Jordão.

Durante todo o primeiro semestre deste todo houve várias reuniões e conversas de bastidores em Brasília e no Rio de Janeiro a respeito disso. A Petrobras defende que a contratação de obras fora do Brasil seria mais barato. O modelo é o mesmo anterior à posse do ex-presidente Lula (2003-10) que, ao assumir, iniciou a política de conteúdo nacional mínimo de 55%. Isso fez com que fossem criados quase 50 mil empregos em todo o país. Após a assunção do presidente Michel Temer (PMDB) ao cargo, o conteúdo nacional está sob ataque. A situação é tão grave que estaleiros no Nordeste venderam aço como sucata por não terem encomendas. Em todo o Brasil estima-se que pelo menos 40 mil pessoas tenham perdido o emprego desde 2015.

Na manifestação de hoje a palavra de ordem foi ‘endurecer’. Entre as ideias debatidas estão desde um abaixo-assinado até um novo ato público, desta vez no Rio de Janeiro, na sede da Petrobras. A chamada ‘União pelo Emprego’, mobilização que envolve associações de moradores, igrejas, sindicatos, comércio e autoridades não tem data para acabar.

– Queremos lutar pelo conteúdo nacional sim e este tema já foi pauta de muitas reuniões no Rio e em Brasília que participei como deputado federal e agora como prefeito também. Mas temos que priorizar o estaleiro. E já vai ajudar muito se retomarem os contratos da sete Brasil. Precisamos da união de todos para mostrar força e reverter esta situação – enfatizou Fernando Jordão.

Unidade – Aos organizadores dos eventos, o prefeito Fernando Jordão e o atual secretário de Governo de Angra, Marcus Veníssius Barbosa, lembraram da importância de se manter esta luta em caráter suprapartidário, sem bandeiras de partidos. Para Veníssius este seria um ‘amadurecimento’ da sociedade. No rol de autoridades que apoiam a luta pelo emprego há políticos de vários partidos. A maioria parece preocupada apenas mesmo com os empregos que deixarão de ser gerados caso o estaleiro feche as portas em definitivo.

Solução — O movimento quer que a Petrobras sinalize o afretamento de alguma das quatro plataformas da empresa Sete Brasil que estão paradas no estaleiro. Uma delas já está com 94% da obra concluída, outra com 70%. Essas obras garantiriam 3 mil empregos imediatos por pelo menos cinco anos, evitando a demissão dos cerca de 2,5 mil trabalhadores que ainda restam no Brasfels.

De acordo com a presidente do Sindicato dos Metalúrgicos angrense, Cristiane Marcolino, só nesta semana pelo menos 50 trabalhadores foram demitidos.

— Estão demitindo aos poucos. Há mão de obra ociosa e o risco de fechar o estaleiro é grande — disse ela.

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Com informações publicadas antes na edição nº 194 do Tribuna Livre.

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