Angra dos Reis poderá perder ao menos dez médicos de origem cubana que hoje atuam na rede de atenção básica do município. Eles fazem parte do programa Mais Médicos, que começou na cidade em 2013, e serão afetados pela decisão do governo de Cuba de abandonar o projeto criado pela ex-presidente Dilma Roussef (2010/16). Angra dos Reis é a cidade de interior do Estado do Rio que mais recebeu médicos do programa federal e hoje conta com 32 profissionais, 12 deles estrangeiros.

A decisão de abandonar o projeto brasileiro ocorre depois de divergências públicas das autoridades de Cuba com o presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro (PSL), que colocou em dúvida a capacidade de os profissionais do país caribenho atenderem à população brasileira e propôs que ao invés de serem contratados por meio da Organização Panamericana de Saúde (Opas) submetessem-se à contratação individual. Em nota, o Ministério da Saúde cubano afirmou que desde que o projeto teve início, mais de 20 mil profissionais atuaram em grandes e pequenas cidades brasileiras, tendo efetuado mais de 113 milhões de consultas. Hoje há 8,6 mil médicos cubanos no Brasil.

— O trabalho dos médicos cubanos em lugares pobres como as favelas do Rio, São Paulo, Salvador ou em 34 distritos indígenas especialmente na Amazônia, foi reconhecida pelos governos federal, estaduais e municipais e pela população, que lhe concedeu 95% de aceitação segundo estudo do Ministério da Saúde — diz a nota do governo de Cuba, informando ainda que o país oferece profissionais médicos em programas diversos para 67 países do mundo.

Os médicos estrangeiros começaram a chegar a Angra em 2013. Além de cubanos, havia brasileiros e de outras nacionalidades. Eles foram destacados para o serviço de Atenção Básica, o chamado Estratégia de Saúde da Família (ESF’s). Os contratos são renovados há cada dois anos. Com o Mais Médicos, Angra dos Reis ampliou o atendimento básico à população onde antes não havia profissionais.

Em junho do ano passado, o prefeito Fernando Jordão (MDB) recebeu o último grupo de cinco médicos cubanos (foto) e elogiou a parceria do Brasil com Cuba na área da saúde. Fernando disse na ocasião que Cuba é um país ‘preparado’ para cuidar da saúde pública.

— Estamos felizes com a vinda de vocês e sei que houve problemas de aceitação no início, mas hoje vemos até que quando terminam os contratos os moradores até choram com a partida de vocês. Estive em Cuba pela Câmara Federal trabalhando para trazer para o Brasil, remédios contra a diabetes e o vitiligo e aproveitei para elogiar e solicitar a ampliação deste programa. É um país preparado para a saúde — disse Fernando Jordão à época.

A secretaria municipal de Saúde de Angra ainda não informou que unidades de ESF’s serão afetadas com a possível saída dos médicos cubanos e nem como a prefeitura angrense fará para repor os profissionais que deixarem a cidade. Prefeitos de todo o país lamentaram o desentendimento entre Bolsonaro e o governo cubano. A estimativa é que 24 milhões de brasileiros fiquem sem assistência médica imediata com a saída dos médicos cubanos. Os cubanos poderão ser substituídos por brasileiros a médio prazo, embora profissionais brasileiros tenham demonstrado menos interesse no programa que os estrangeiros desde a sua criação.

Em Paraty não há médicos estrangeiros.

Fotos: Prefeitura de Angra (2013 e 2018)

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