No Brasil, o nome mais popular entre as mulheres é Maria. Algo em torno de 12% da atual população feminina do país foi registrada dessa forma, e a história por trás desse nome não para por aí. Em diversos campos da arte e da politica, ele está presente, funcionando como um tipo de alcunha para identificar as mulheres que remontam suas identidades através da resistência e da luta diária.

Na intenção de homenagear mães, educadoras, militantes, estudantes, artistas e todas as outras Marias do país, a fotógrafa Nina Santos criou a exposição “Maria, Maria”, um projeto que busca retratar a diversidade da mulher brasileira e tem como objetivo expor, através de cada enquadramento, expressões e elementos que possam fazer referência às características mais especiais dessas mulheres. Ela conta como surgiu a ideia da mostra.

 

– No projeto do curso de fotografia que completei no final do ano passado, uma espécie de trabalho final, foi sugerida a produção de um ensaio poético, com inspiração em poemas e canções. Eu escolhi a música ‘’Maria, Maria’’ cantada por Milton Nascimento e eternizada na voz da cantora Elis Regina. A canção retrata as mulheres brasileiras através da nomenclatura ‘’Maria’’, como um homônimo para representar a mulher brasileira como ela é, com suas dores, belezas e amores. Ao fim da apresentação, o projeto foi bem recebido pelo professor e artista visual Chagas Sá e pela turma, e foi sugerido que eu procurasse organizar uma mostra com as fotografias – explica a fotógrafa, que também é mestre em Antropologia.

De acordo com Nina, na historia das mulheres do Brasil existem interseções e diferenças constitutivas entre a Maria da “casa grande” e a Maria da “senzala”. Quanto à última, fica evidente o protagonismo exercido no seio de uma sociedade patriarcal, onde as mulheres negras são subjulgadas e suprimidas de suas liberdades individuais em razão de sua raça e classe. Mas a exposição ainda vai além, oferecendo uma mensagem mais abrangente quanto às mulheres

– Busco demonstrar dentro do universo fotográfico a relação entre história, identidade e resistência. Foram convidadas mulheres que revelam dentro do seu campo de atuação a representatividade de uma ‘’ Maria’’ em suas diferentes formas de beleza e expressividade, como uma síntese da mulher brasileira – esclarece Nina.

A mostra conta com 16 fotografias impressas em Fineart, material que mostra a densidade na imagem, criando uma sensação maior de realismo nas fotos. O local escolhido para o ensaio foi o Convento São Bernardino de Sena, em Angra dos Reis. A exposição foi inaugurada em março, e fica aberta à visitação até o dia 26 de maio, no Centro Cultural Theophilo Massad.  Para a responsável pela exposição, o conceito da mostra vai além de uma expressão cultural.

– A cultura sempre foi uma forma de resistência. Não à toa, os meios culturais foram perseguidos durante a ditadura militar que se estabeleceu no país até 1985. Nestes tempos do ‘’culto ao ódio’’ e perda de direitos, é preciso que existam várias as formas de linguagem a fim de construir uma narrativa que apresente o protagonismo das mulheres, dos negros, LGBTT’s, jovens e de todos aqueles que compõem substancialmente o povo brasileiro – finaliza Nina.

 

Foto: Nina Santos / divulgação

Para assinar o Tribuna Livre, clique aqui.

Deixe seu comentário

Escreva seu comentário!
Nome