Surpresa na eleição há quatro anos, o vereador carioca Tarcísio Motta (PSOL) (foto) acredita que este ano será diferente. Por pouco, naquela ocasião, Motta ficou de fora do segundo turno para governador no pleito vencido pelo agora governador Luiz Pezão (MDB). Agora Tarcísio e o PSOL acreditam que vai dar, mesmo admitindo que a esquerda não vive seu melhor momento do ponto de vista eleitoral no Estado. Tarcísio e o candidato ao Senado, Chico Alencar (PSOL) vieram a Angra no final de julho. Em entrevista ao Tribuna Livre, o candidato adiantou a crítica aos esquemas do que chamou de ‘velha política’ no Estado. Confira:

O Estado do Rio de Janeiro é governável?
Tarcísio — Da forma como essa ‘máfia’ que ainda está à frente do Governo do Estado faz hoje, não é. O toma-lá-dá-cá, a velha lógica de lotear secretarias e cargos por indicações políticas torna o Rio ingovernável. Na verdade o que acontece é que acaba se governando para um conluio de banqueiros, doleiros e empreiteiros. Foi o que aconteceu no último período e, enquanto isso, se mantém a maioria parlamentar à custa da troca de cargos e do loteamento de secretarias. Isso é que precisa mudar para que o Rio seja governável, com democracia, com participação popular e com a presença e opinião das pessoas. Tem muita gente boa fazendo coisa boa no Rio de Janeiro e a gente precisa fazer com que essas pessoas sejam estimuladas a ajudar a construir um projeto para o Estado do Rio muito diferente desse que beneficiava apenas a um pequeno número de privilegiados e que deixou a população praticamente sem direitos.

Tem alguma prioridade, ou seja, o próximo governador deve começar por onde?
Tarcísio — Não é possível avançar em nenhum tipo de garantia de direitos sem resolver de fato a questão das receitas do Estado. A questão econômica é fundamental. Portanto existe um elemento que é atacar em duas frentes essa questão orçamentária e econômica. Numa delas está orçamento propriamente dito e a política das isenções fiscais. Não significa que o PSOL seja contra qualquer isenção fiscal, mas as que foram feitas só trazem prejuízo para a população. Além disso temos que rever a questão da dívida do Estado. O tal regime de recuperação fiscal é uma verdadeira agiotagem do governo Michel Temer sobre o Rio de Janeiro. A gente vai rever essa história de recuperação fiscal e não cumpriremos como ele está colocado e inclusive nós não vamos vender a CEDAE. Do ponto de vista do orçamento, são esses dois elementos.

Outro elemento é a questão da economia propriamente dita. É preciso ter política para reduzir o custo de vida da população. Tá muito caro viver no Rio de Janeiro e é preciso diversificar a política eco-nômica do Rio. Nos últimos 20 anos o Estado apostou no petróleo, mas só na extração e não conseguiu ter uma lógica de diversificar para ser menos dependente de royalties e do petróleo propriamente dito. O Rio de Janeiro tem uma cadeia produtiva industrial oca que não gera recursos. Se o primeiro traz recursos mais a médio/curto prazo, o segundo é um processo mais lento. A redução do custo de vida já garante para as pessoas uma melhoria de vida.

Seu giro pelo estado o que você tem ouvido? O que têm sido pedido?
Tarcísio — As pessoas estão pedindo saída, estão enojadas com essa velha política, ninguém aguenta mais. Estão pedindo algum caminho para terem esperança numa mudança (…). Estamos ouvindo ideias para todo lado. O tempo inteiro as pessoas só dizem que é preciso mudar, mudar de verdade e esse vai ser um desafio, ou seja, que o eleitor tenha conhecimento de que existem alternativas além daquelas tradicionais da velha política que estão aí há um tempão e que não fizeram o que deveria ser feito.

Dá pra convencer o eleitor a confiar nos políticos?
Tarcísio — É difícil, a gente está diante de uma descrença muito forte mas é preciso ser diferente na prática. O que a gente é na campanha, antecipa o que a gente quer ser no governo. A gente tem uma fé inabalável no ser humano, na sua capacidade de se reinventar (…). Temos que mostrar nossos valores para que o eleitor possa perceber que ‘tem coisa diferente’. Há quatro anos atrás demorou para as pessoas perceberem isso na campanha em que eu fui candidato. Apenas no debate da TV Globo elas souberam que eu existia e portanto a uma semana da eleição se quer deu para ter muito efeito disso. A gente espera que esse ano, com muito mais estrutura no partido, com maior cobertura da mídia, a gente possa chegar para mais gente para que as pessoas percebam que nem todo mundo esteve vinculado à ‘máfia’ do Cabral e do PMDB e que, inclusive, há várias candidaturas que não têm relação e que portanto o eleitor comece a pensar assim: ‘Quem é que nunca teve relação com quem tá aí?’ E a partir disso começar a pensar, apostar na mudança, apostar no diferente que é o que a gente apresenta.

O PSOL é tido como um partido isolado na política. Como é que se compõe um governo sem ter, a princípio, maioria na Assembleia?
Tarcísio — A gente não vai compactuar com as mesmas práticas de hoje em dia. Nós não vamos lotear secretarias para ganhar apoio político no parlamento. Nós vamos construir um projeto que está apresentado na campanha, que vai ser, na medida do possível, apresentado aos deputados com o apoio popular, com pressão popular, com os conselhos de políticas públicas, com o debate republicano aberto e fraterno lá dentro da própria Assembleia Legislativa, com a denúncia se os deputados tiverem votando para boicotar ou governo, ou seja, a saída para nós não está na busca de maioria em troca de cargos.
A governabilidade está na democratização, na transparência. Vamos usar a verba de publicidade do governo para dizer o que a gente está apresentando, para que as pessoas saibam. Essa é uma mudança da lógica inclusive, porque as próprias redes sociais nos ajudam a entrar em contato direto com o eleitor e a saber o que tá acontecendo. A minha dúvida é como é que a Assembleia vai se comportar diante de um governo que não fará a distribuição de cargos para que vote favorável, se ela vai votar contrária a um projeto que saiu e que tem apoio popular o custo será da Assembleia ao fazer isso. Nós defendemos a existência do parlamento, o parlamento é fundamental pra democracia brasileira mas ele precisa ser um espaço de democracia e não de fisiologia.

(*) Publicado antes na edição impressa nº 221 do Tribuna Livre.

Foto: Reprodução

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