O semblante calmo e o sorriso largo do prefeito de Paraty, Casé Miranda (MDB), já demonstram a serenidade com que ele vem administrando a cidade neste segundo mandato, conquistado em 2016. Após um período difícil e de ter sido vítima de um atentado a tiros, o prefeito chegou a pensar em desistir da vida pública mas, reeleito, colhe agora os frutos de uma gestão financeiramente equilibrada que começou em 2013. Nesta entrevista exclusiva ao Tribuna Livre, Casé avaliou os seis anos de governo e anunciou novos projetos para 2019. Confira:

Qual a avaliação que o senhor faz do ano 2018? Para quem está de fora, parece que foi um bom ano, de realizações. O que o senhor acha?
Casé Miranda — Olha, depois de 6 anos na prefeitura eu posso dizer que estou sentindo prazer em administrar a cidade. Primeiro porque as coisas estão caminhando, com muita ajuda de muita gente. As coisas estão entrando nos eixos e destes últimos anos, 2018 foi com certeza muito mais leve de administrar a prefeitura.

Uma outra coisa é que este está sendo um ano de realizações. Não só de obras efetivamente, mas realização também de projetos que a gente tinha feito no período de governo passado (2013-16) mas não tivemos condição de começar porque a arrecadação no período anterior estava muito ruim. Nos últimos quatro meses, por exemplo, já houve um aumento no repasse dos royalties (compensação financeira paga às prefeituras pela exploração de petróleo) que já nos deixou muito animados. E eu estou fazendo o que deveria ser feito por todos os prefeitos que recebem royalty, que é investir esse dinheiro no que vai ficar para a população, ou seja, em infraestrutura e não no custeio da máquina. Porque royalty mal usado é quando você usa para pagar gasolina, papel, tinta, aluguel de carros e coisas que são passageiras…

Esse valor dos royalties é uma arrecadação extra que hoje vem boa, mas amanhã ou depois ele pode vir ruim e eu vi muito bem isso em 2014, 2015 e 2016, quando desabou essa arrecadação e a gente não sabia direito nem o que fazer, nem como pagar as contas.
Por causa disso mesmo até, nós tivemos que apertar o cinto em 2015 e 2016, e hoje a gente tem uma prefeitura enxuta, uma prefeitura que tem responsabilidade com os seus gastos e que, por exemplo, para se ter uma noção, eu vi que a cidade do Rio de Janeiro terá dificuldades para pagar o décimo terceiro, enquanto que aqui eu já vou antecipar o pagamento em 100% do nosso décimo terceiro (que foi pago em 15 de dezembro) e vou conseguir dar mais um Greencard (vale-alimentação) para o funcionário público. Isso demonstra equilíbrio nos nossos gastos.

“Estou fazendo o que deveria ser feito por todos os prefeitos que recebem royalties, que é investir o dinheiro no que vai ficar para a população”.

Além disso nós estamos tocando obras que seriam feitas com as nossas parcerias. Outro exemplo é o hospital que nós estamos fazendo, que é 100% de recursos da Eletronuclear, mas como há um ano a empresa não me repassa dinheiro, nós decidimos nos últimos três meses, pegamos o hospital e estamos fazendo com recurso próprio da prefeitura e vamos entregar em fevereiro do ano que vem, o que vai ser um equipamento fantástico para a questão da saúde da nossa população.

Como o senhor disse, é nítido que há uma atenção maior da prefeitura com a saúde e a educação. Onde a população percebe isso no seu dia a dia?
Casé — Na saúde, o povo percebe quando a gente começa a diminuir a frequência de casos que eram eternos aqui na nossa cidade. Por exemplo, o tratamento da água. Você pode falar que não é uma coisa ligada à secretaria de Saúde mas é ligado à saúde da gente. Até 2013 nós não tínhamos tratamento de água em Paraty, e hoje nós temos tratamento de 100% da água na zona urbana. Só com isso nós eliminamos duas coisas: a ocorrência frequente de diarreia e vômito, que tínhamos em torno de mil atendimentos por mês e hoje são menos de cem; e aquelas viroses que pegavam todo mundo no início do Verão ou da Primavera e aí ficava aquela coisa toda, que era nitidamente por causa da água. Quando começava a temporada da chuva tinha uma frequência disso e hoje você não observa mais. De dois anos para cá você não tem nem falta de água e nem esses surtos de virose.

Outra coisa são os serviços de saúde que melhoraram bastante. Quando nós entramos, em 2013, o nosso sistema de saúde, no pronto-socorro, atendia em torno de 120 a 150 pessoas. Hoje estamos atendendo 400 e não apenas de Paraty. A gente nunca tinha observado pessoas de Angra virem ser atendidas aqui e hoje é comum os moradores de Angra serem atendidos no nosso sistema aqui que é uma UPA municipal. Eu vejo que estes dois dados já mostram uma evolução do nosso sistema público de saúde.

Já na Educação, que é a ‘menina dos olhos’ do nosso governo, a gente tem várias iniciativas como a melhoria na merenda, uniforme gratuito, reformas de escolas e recentemente, nos dados oficiais do governo federal, a nossa nota nota Ideb (Índice de Educação Básica), que não avalia só os alunos mas toda a infraestrutura da educação, nós estamos crescendo. Na avaliação passada nós já tínhamos alcançado a média Ideb, o que nunca tinha acontecido em Paraty, e hoje a gente ultrapassou a média. A gente vem num crescente e agora houve outra avaliação, também do Ministério da Educação, de que no Estado do Rio de Janeiro há 10 municípios com nota máxima de aproveitamento em educação e Paraty é uma destas cidades.

O recurso que a gente investe em educação, o percentual de aproveitamento e o que isso representa na vida das crianças e adolescentes, é motivo de orgulho para toda nossa equipe e profissionais de educação…

E o saneamento básico prefeito? Há uma promessa de recursos do Estado que nunca sai, será que em 2019 isso acontece?
Casé — Eu tenho que ser muito franco com a população: vejo o Estado do Rio numa situação tão caótica que eu não acredito. A gente vem de governos de desastre e de irresponsabilidade, em que foram criadas vantagens para vários setores e hoje o Estado precisa desse recurso e não tem de onde tirar.

Casé e o vice-prefeito Vidal visitam a obra do futuro hospital da cidade

Eu não acho que o próximo governador (Wilson Witzel, do PSC) vai, da noite para o dia, resolver esta situação. Isso é uma complicação e para nós aqui, neste caso específico do saneamento existe uma dívida do Governo do Estado com a cidade, de R$ 28 milhões, que a prefeitura está bancando e que o Estado não pagou.

 

Outra dificuldade nesta área é, de novo, a Eletronuclear, que nos deve R$ 20 milhões. Veja, a prefeitura de Paraty é credora do Estado e da Eletronuclear em relação a saneamento. O último repasse da Eletronuclear para nós nesta área foi há três anos atrás, veja só.

Agora, se os royalties continuarem neste patamar, eu vou fazer esse investimento. Vou falar para a Eletronuclear e para o governo do Estado que eles continuam nos devendo e nós vamos fazer este investimento porque eu moro em Paraty e quero deixar essa obra importantíssima para o futuro da nossa gente.

Se os royalties continuarem no patamar de hoje, existe uma possibilidade muito grande de a gente entregar a estação de tratamento ainda neste governo. Hoje temos cerca de 40% da malha urbana já com a rede de esgoto coletora. Temos hoje a Ilha das Cobras, Mangueira, Patitiba, Chácara e Portão de Ferro, todas interligadas. A rede já está lá, então eu fazendo a estação, que é em torno de R$ 12 milhões de investimento, se eu fizer esta estação de tratamento eu já trato 40% do esgoto da população, o que dará um salto muito grande de qualidade de vida na cidade. Se os royalties continuarem subindo, esse compromisso eu posso assumir.

Qual sua expectativa para 2019, os governos federal e do Estado?
Casé — Veja, foram dois governos eleitos de uma maneira diferente do que a gente vem observando nas últimas eleições. Foi votado no anti-político, a gente vê claramente isso. O político tradicional foi eliminado tanto do governo do Estado quanto do governo federal quando estas duas propostas ganharam falando claramente contra a política. Eu espero que isso funcione.

Eu não votei em nenhum dos dois, mas quero dizer que torço tanto para o presidente eleito quanto para o novo governador para que eles façam um excelente governo. No que precisarem de mim, da minha humilde colaboração, podem contar.

Acredito que vai ser difícil porque nós temos um país muito intolerante neste momento e as redes sociais, ao mesmo tempo que são maravilhosas, também conseguem fazer movimentos às vezes sem foco e sem liderança. Vejo que eles vão sofrer muito e espero que os governos deem certo.

Mas não adianta fazer populismo mais. Não adianta. Agora é pé no chão e fazer administração, e, muitas vezes para fazer administração, fazer o poder público ser viável, ele vai ter de ter um equilíbrio e vai descontentar muita gente. Ainda vejo o próximo ano com muitas ressalvas. Eu sou um otimista, mas ainda assim eu vejo com uma certa preocupação.

“Não votei em nenhum dos dois, mas torço tanto para o presidente quanto para o novo governador para que eles façam um excelente governo”.

O senhor é muito ativo nas redes sociais. Como funciona? Muitos políticos afastaram-se da população, mas o senhor está no caminho inverso. Funciona?
Casé — Eu acho que funciona, tanto que a respostas foi nas urnas há dois anos atrás. A gente já tinha começado esse envolvimento com as redes sociais e eu acho que deu certo, a gente foi vencedor. Mesmo não querendo ser candidato e saindo para a disputa em cima da hora, a população aqui na reta final fez uma avaliação e continuou apostando na gente.

Recentemente eu me afastei muito da rua, e me incluo nessa faixa de políticos, mas eu levei um tiro na cabeça né? E a minha família exige que eu tenha cuidado. Esses cuidados às vezes me impede de estar em alguns lugares onde eu sempre estive. Isso é importante lembrar.

Agora, nas redes sociais eu tenho visto um retorno muito grande. Tem uns vídeos meus que chegam a 45 mil visualizações. Nos últimos dez dias eu lancei duas campanhas e acho que vai bombar. Uma já bombou que foi a academia ao ar livre, com 28 mil visualizações e mais de 1.500 participações pedindo. E a gente vai colocar nos bairros que foram pedidos. Agora eu lancei a do concreto solidário que é comunitário, para que a gente possa fazer a subida dos morros porque concreto é mais barato que o asfalto. Para minha surpresa em menos de 24 horas deu mais de 8 mil visualizações.

As coisas estão caminhando e eu vou usar mais isso, eu vou usar e trazer as pessoas para dentro das redes sociais para discutir o futuro das obras e dos investimentos que a gente está fazendo. Eu estou muito animado. 2019 vai ser um ano melhor que o 2018, com certeza. Sou um otimista e, independente do que aconteça, Paraty vai melhorar a cada ano que passa. Eu garanto!

Fotos: Divulgação / PMP + Arquivo

Publicado antes na edição 235 do jornal Tribuna Livre (dezembro).

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