Os episódios desta quinta-feira, 9, em Angra dos Reis foram a notícia de maior repercussão do Tribuna Livre, desde que estreamos nas redes sociais. As fotos de crianças protegendo-se de tiros, motoristas acuados e passageiros de ônibus com medo, tiveram milhares de visualizações e centenas de comentários de angrenses e cidadãos amedrontados. A maioria deles pergunta: até quando será possível aguentar?

As autoridades sérias de segurança (só as sérias!) avisam que não há solução simples, nem mágica. Desde 2012, com o início da ‘pacificação’ da região metropolitana do Rio de Janeiro para a Copa do Mundo e as Olimpíadas, o avanço das Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) nas favelas do Rio produziu uma migração de bandidos e facções criminosas para o interior. Todas as cidades do Estado sentiram este efeito. Em Angra dos Reis, no entanto, os marginais encontraram o que todo negócio legítimo precisa: mercado consumidor, logística de transporte e abrigo seguro para as atividades.

A topografia cheia de morros e matas, onde estão homiziados os foras-da-lei; a incapacidade do Estado e da União em patrulhar rodovias e a fronteira marítima; e a proximidade com os centros distribuidores da droga (Rio e São Paulo), aliados à existência de pessoas que compram entorpecentes, são o caldo em que se fermentam a violência, os tiroteios, os assaltos a bancos e os crimes de toda a natureza. É o tráfico de drogas a espinha dorsal da criminalidade em Angra. Ponto. Se não enfrentar esta realidade, não há investimento que baste. Não há passeata que ecoe o drama dos angrenses, não há desfile de helicóptero que dê conta de dar esperança à população.

Na semana em que o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), a bordo de um helicóptero, promete ‘acabar com a bandidagem’ em Angra, esta mesma bandidagem responde dizendo que não vai ser bem assim. A bravata do governador virou um atestado de incompetência. Senão de gestão, já que ele está há apenas cinco meses no cargo, certamente uma inabilidade política. Witzel não tem a capacidade, a autoridade e nem os meios ainda, para decretar o fim da bandidagem em Angra ou em qualquer lugar. Lhe faltam recursos, inteligência operacional e humildade. Amargamente, o cidadão angrense viu que a promessa do governador, e de quem o faz companhia nesta cruzada, é só um discurso. É só um teatro. Falta muito para que ela seja a realidade que a cidade anseia.

O brasileiro tem a esperança no DNA, alguém já disse. O prefeito angrense, Fernando Jordão (MDB), foi passageiro no helicóptero do governador. Não está isento de culpa ao avalizar esta fakenews gigante. Ele também não tem a capacidade de prometer e cumprir nada parecido. E sabe disso. Tanto que já andou de pires na mão atrás de Dilma, Temer e Pezão em busca de ajuda. O reforço não veio. Agora faz o mesmo com Bolsonaro, Sérgio Moro e o governador. É o papel do prefeito pedir. Mas é pouco. Também cabem soluções locais como, mais de uma vez, já lhe foi apontado e indicado.

Os antídotos contra a violência são educação e emprego, nesta ordem. A prefeitura de Angra não tem plano para nenhuma destas duas áreas. Não há formação profissional para os jovens, não há emprego para os adultos. Não há prevenção ao crime para os jovens nas comunidades mais vulneráveis da cidade. Não há expectativa de melhora na geração de empregos, a não ser as que dependem de outros entes da Federação, especialmente o federal, cujas políticas neste momento também não trazem boas notícias para a região. Turismo é solução? É! Mas não agora. E ainda sequer se deu o primeiro passo, que é justamente pacificar a cidade, tornando-a segura e agradável para quem vive aqui, para só então ser atrativa para quem quiser nos visitar.

Tá feia a coisa, não dá para esconder. Neste momento o que o angrense pode fazer é rezar. E, no monte, com muito cuidado.

(*) Klauber Valente é jornalista e editor do Tribuna Livre. Pós-graduado em administração pública pela FGV, entre 2015/16 foi presidente da Fundação de Turismo de Angra dos Reis.

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